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Como uma farmacêutica chinesa avançou na corrida para a vacina da covid-19

Em maio, a CanSino se tornou a 1ª empresa a publicar um estudo científico completo sobre seus primeiros testes em humanos - Miguel Noronha/Futura Press/Estadão Conteúdo
Em maio, a CanSino se tornou a 1ª empresa a publicar um estudo científico completo sobre seus primeiros testes em humanos Imagem: Miguel Noronha/Futura Press/Estadão Conteúdo

02/07/2020 18h04

Quando um grupo de cientistas chineses se reuniu para um churrasco em Toronto há uma década, as conversas giraram em torno das vacinas de sua terra natal, que há muito tempo estavam aquém do mundo desenvolvido em qualidade e segurança. Quatro deles decidiram agir.

Deixaram posições de destaque em farmacêuticas globais no Canadá para estabelecer uma empresa de biotecnologia a meio mundo de distância em Tianjin, na China, na esperança de produzir vacinas em pé de igualdade com países ocidentais. Agora, essa empresa, a CanSino Biologics, está no centro das atenções globais: conexões dos dois lados do Pacífico a colocam entre as líderes na corrida por uma vacina contra o coronavírus.

O CEO da CanSino, Yu Xuefeng, ex-executivo da unidade canadense de vacinas da farmacêutica Sanofi, mantém contatos no Canadá e na China, mesmo quando as divergências geopolíticas polarizam os dois países. Yu reforçou as proezas científicas de sua empresa ao se associar à maior organização de pesquisa do governo canadense. Na terra natal, trabalhou com um proeminente cientista militar chinês, primeiro com uma vacina contra o ebola, e agora, com a vacina experimental de coronavírus da CanSino.

Em maio, a CanSino se tornou a primeira empresa a publicar globalmente um estudo científico completo sobre seus primeiros testes em humanos, um passo importante porque permite que pesquisadores do mundo todo avaliem o potencial da vacina.

A empresa — que ainda não gera receita e registrou perda de US$ 22 milhões no ano passado — até agora conseguiu acompanhar e, ocasionalmente, superar gigantes farmacêuticas ocidentais com a velocidade de seus testes iniciais de vacina contra o coronavírus.

A pesquisa ainda é muito incipiente para saber se a vacina da CanSino, ou mesmo de qualquer empresa, fornecerá a bala mágica que países buscam para reabrir as economias em meio à pandemia. Mas as incursões da CanSino mostram que a jovem indústria de biotecnologia da China se torna uma concorrente global e uma ferramenta poderosa para o presidente Xi Jinping.

A CanSino "merece crédito pela velocidade com que avançou com a vacina em estudos pré-clínicos e testes em humanos", disse Wang Ruizhe, analista do setor farmacêutico da Capital Securities, em Xangai. "Isso mostra algo sobre a capacidade deles de mobilizar e alavancar os recursos necessários para realizar tudo isso. Os recursos necessários são significativos."

Um porta-voz da empresa chinesa, citando reportagens da mídia em maio, disse que o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, apoia os pesquisadores canadenses que trabalham em ensaios clínicos para uma vacina contra o coronavírus com a CanSino.