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Paola Machado

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Conheça doenças que o estresse pode agravar ou desencadear

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

28/09/2022 04h00

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Um texto divulgado pela Opas (Organização Pan-Americana da Saúde) em março deste ano mostrou que "no primeiro ano da pandemia de covid-19, a prevalência global de ansiedade e depressão aumentou em 25%. Preocupações com possíveis aumentos dessas condições já levaram 90% dos países pesquisados a incluir saúde mental e apoio psicossocial em seus planos de resposta à covid-19, mas permanecem grandes lacunas e preocupações."

Os Institutos Nacionais de Saúde apontam que o estresse é como o corpo e o cérebro respondem às demandas e quando essas demandas são maiores do que você pode lidar, você começa a sentir estresse. Podemos considerar os estressores de curto prazo como uma reação imediata ou um reflexo; e os de longo prazo que é o estresse que perdura por anos e torna-se crônico e patológico.

Esse último tipo de estresse, o chamado estresse crônico, pode causar mudanças no corpo, levando a danos que podem contribuir para diversos problemas de saúde, sendo que os exames de rotina podem manifestar inflamação, alterações na pressão arterial e níveis elevados do hormônio do estresse cortisol, por exemplo.

Algumas doenças podem ser causadas e/ou agravadas pelo estresse crônico, são elas:

  • Depressão e outras condições de saúde mental. De acordo com dados publicados pelo Jama, cerca de 20 a 25% das pessoas que passam por eventos estressantes poderão desenvolver depressão. O CDC também reforça essa questão, que pode estar também relacionada a fatores genéticos, ambientais e psicológicos.
  • Insônia. Uma pesquisa mostrou uma relação entre o estresse e sono de 2.000 adultos. E há uma relação em ambas direções, sendo que, quando não dormem bem, 21% relataram sentir-se mais estressados.
  • Problemas cardiovasculares. Parte da resposta ao estresse é a aceleração da frequência cardíaca e a constrição dos vasos sanguíneos ou vasodilatação para alguns músculos esqueléticos para ajudar o corpo a se mover em uma resposta de luta ou fuga, pela ação dos hormônios do estresse adrenalina, noradrenalina e cortisol. Se o corpo permanecer nesse estado por muito tempo, como no estresse crônico, o sistema cardiovascular podem ter problemas e o coração ficar sobrecarregado. Outro meio pelo qual o estresse pode contribuir para doenças cardíacas é pela relação indireta, já que, estressado, você pode se alimentar de forma inadequada e ingerir bebidas alcoólicas, contribuindo para doenças cardiovasculares. Uma meta-análise encontrou um aumento de 50% no risco de doença cardiovascular associado a altos níveis de estresse no trabalho.
  • Resfriados frequentes. O estresse tem uma relação direta com quadros de imunossupressão, isto é, uma redução da função imunológica, deixando o seu corpo mais suscetível à doenças infecciosas como resfriados. Pesquisadores realizaram experimentos para os quais expuseram um grupo de 420 voluntários ao vírus do resfriado comum e depois os colocaram em quarentena para ver se ficaram doentes. Os dados revelaram que os participantes que sofriam de maior estresse gera eram de fato mais propensos a se infectar com um vírus após a exposição.
  • Problemas gastrointestinais. O estresse pode afetar a motilidade gastrointestinal, que é como os alimentos se movem pelo sistema digestório, aumentando suas chances de desenvolver a síndrome do intestino irritável, condições inflamatórias intestinais, refluxo gastroesofágico, constipação, diarreia e desconforto.
  • Dor crônica. Algumas condições de dor crônica, como enxaqueca e dor lombar, podem ser desencadeadas ou agravadas pela tensão dos músculos do corpo. A dor lombar crônica pode estar relacionada ao estresse (tensão). Uma revisão examinou as sobreposições entre estresse crônico e a dor crônica, descobrindo que ambas condições podem desencadear respostas semelhantes no cérebro, particularmente no hipocampo e na amígdala.
  • Condições autoimunes. Muitas condições inflamatórias são exacerbadas pelo estresse, e isso inclui condições autoimunes como esclerose múltipla, artrite reumatoide, lúpus, artrite psoriática e psoríase. Um estudo publicado pelo Jama descobriu que pacientes com transtorno de estresse eram mais propensos a desenvolver um transtorno autoimune (9 por 1.000 pacientes por ano, em comparação com 6 por 1.000 entre aqueles sem transtornos de estresse).

Por isso, o gerenciamento do estresse é fundamental para ajudá-lo a lidar com o estresse de maneira saudável, sendo importante reconhecer o sentimento e utilizar estratégias de enfrentamento. Caso contrário, o estresse pode se tornar crônico, e, como vimos, prejudicar sua saúde e afetar seu corpo tanto física quanto mentalmente.

Já dei algumas dicas por aqui, mas uma boa opção é a respiração consciente, pois existe uma ligação muito próxima entre esse tipo de respiração e o seu organismo. Quando você está estressado, sua respiração pode acelerar, o que aumenta a pressão arterial e aumenta a frequência cardíaca. Entretanto, quando sua respiração está calma e controlada, seu corpo também se acalma. Uma boa opção é a técnica de respiração diafragmática.

  • sente-se confortavelmente em uma cadeira;
  • coloque uma das mãos sobre o abdome (região do estômago) e a outra no peito;
  • inspire lentamente pelo nariz e sinta que seu abdome (região do estômago) se move contra sua mão;
  • a mão em seu peito deve permanecer o mais imóvel possível;
  • expire soltando o ar pela boca com os lábios como se fosse assobiar*, contraindo os músculos do abdome (região do estômago) e deixando-o voltar ao normal enquanto você relaxa.
  • lembre-se: mão na parte superior do tórax deve permanecer o mais imóvel possível!

*A respiração com os lábios franzidos pode ajudar a desacelerar a respiração e obter mais ar para os pulmões, especialmente se você estiver sentindo falta de ar por causa do estresse.

Referências:

OPAS. Pandemia de COVID-19 desencadeia aumento de 25% na prevalência de ansiedade e depressão em todo o mundo. Disponível em: https://www.paho.org/pt/noticias/2-3-2022-pandemia-covid-19-desencadeia-aumento-25-na-prevalencia-ansiedade-e-depressao-em

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