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Paola Machado

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Pensava estar infartando: estratégias que adotei para controlar a ansiedade

Técnicas respiratórias e atividades físicas me ajudaram muito a lidar com as crises de ansiedade - Mariana Pekin/UOL
Técnicas respiratórias e atividades físicas me ajudaram muito a lidar com as crises de ansiedade Imagem: Mariana Pekin/UOL

Colunista de VivaBem

30/08/2022 04h00

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Tenho um problema na costela que se chama Síndrome de Tietze. Por conta disso, sofro com dores crônicas na caixa torácica —é horrível. Mas hoje não vou falar da síndrome em si e, sim, de como ela afeta minha saúde mental.

No decorrer dos anos, eu me acostumei com a dor e aprendi a lidar com os pensamentos negativos associados a ela. Nunca deixe de fazer minhas atividades por conta do problema. Entretanto, quando além da condição tive de enfrentar outros acontecimentos da vida, comecei a reagir de forma diferente à dor.

Sempre que sentia algum tipo de dor na costela (principalmente quando era bem no meio do peito, irradiando para o lado esquerdo), pensava ser um problema mais grave, como um infarto. Sofri um grande "sequestro emocional", passei a ter crises de ansiedade e desenvolvi síndrome do pânico.

Antes, pensava: "Estou com dor, mas, fique tranquila, é a costela", e seguia o dia normalmente. Mas a dor passou a gerar um sentimento impulsivo e totalmente desesperado. Comecei a ter ansiedade e taquicardia, com pensamentos como "estou tendo um infarto" e "meu coração vai parar".

A ansiedade gerada foi aumentando, aumentando, aumentando. Era uma bomba-relógio, que estourou com crises de síndrome do pânico. Não conseguia mais sair de casa, treinar, trabalhar. Então, chegou uma hora em que pensei: "Calma, vou respirar e entender o que está acontecendo". E nada como entender, de fato, os seus problemas e lidar com eles de forma sábia e leve.

Por muito tempo tentei deixar de lado os problemas. Mas isso não é a melhor solução, pois o sentimento fica ali, escondidinho, mas continua existindo e uma hora dá as caras.

Resolvi enfrentá-lo: parar, entender e estabelecer uma rotina. E quando digo rotina é mesmo uma rotina real, regrada, assumindo compromissos e momentos de tédio em que posso estar comigo mesma, refletindo.

Como funcionou para mim, resolvi escrever este texto, pois pode ajudar outras pessoas a lidar com a ansiedade. Mas, IMPORTANTE: o que funcionou para mim pode não funcionar para você e, dependendo da situação da sua saúde mental, é essencial buscar uma rede de apoio profissional, com psiquiatras e psicólogos.

Passo 1: entenda o que está acontecendo

Esse é o ponto principal de todo o processo, pois nada como contextualizar e racionalizar uma emoção tão forte. O livro "Não Acredite em Tudo Que Você Sente: Identifique seus Esquemas Emocionais e Liberte-se da Ansiedade e da Depressão", de Robert L. Leah, auxilia por meio de explicações e exercícios como enfrentar os sinais e sintomas.

O que temos de compreender é que não precisamos nos sentir bem o tempo todo, mas precisamos ser capazes de sentir tudo Além disso, as emoções não são o mesmo que agir de acordo com elas, ou ações, ou escolhas morais. Nós, humanos, temos uma capacidade muito grande de sentir, pois atribuímos significado para muitas coisas.

Em uma crise, precisamos trazer para a consciência sentimentos impulsivos, isto é:

  • Entender a sensação: onde sinto isso no meu corpo? (Exemplo: estou ansioso e meu coração acelerou);
  • Qual a crença ou significado que atribuo a isso (o coração acelerado pode me infartar);
  • O que ele desencadeia (estou em perigo, estou com medo);
  • Qual o comportamento que tenho (fico desesperada, triste etc.);
  • Quais as tendências interpessoais e como reajo (reclamo, choro, só quero dormir).

Entender todo esse processo auxilia a racionalizar, pois precisamos validar os sentimentos e entender que são reais pra mim. O livro me ajudou, por meio de exercícios (mostro alguns abaixo), a passar por cada momento e enfrentá-los de forma sábia.

O que mais me ajudou a lidar com a ansiedade

  • TÉCNICAS RESPIRATÓRIAS

Toda vez que sinto que a ansiedade vai bater —quem sofre de crises séries de ansiedade sabe quando ela virá— paro o que estou fazendo e início técnicas respiratórias que me ajudam a relaxar.

Uma vez, estava com uma crise muito forte e meu marido colocou um vídeo de meditação, com músicas suaves. O que me tranquilizou, naquele momento, foi ver a quantidade de pessoas que também estavam ali para controlar a crise de ansiedade. Assim, em vez de maximizar aquele sentimento, consegui normalizar e entender que aquelas pessoas que estavam ali também estavam querendo se acalmar.

No início, foi difícil me concentrar. Imagine só uma pessoa extremamente ansiosa em um ciclo inacabável de crise de ansiedade parar para respirar? Aos poucos, com muita disciplina, fui colocando as técnicas respiratórias guiadas —como de aplicativos como o Meditopia— no meu dia a dia. Elas me auxiliam no controle do pensamento e também em dar uma pausa para trazer para a consciência o que estou sentindo, por que estou ansiosa, o que desencadeou o problema e, por fim, conseguir me tranquilizar e entender que, como sempre, vai passar.

  • KUNDALINI YOGA

Pratico exercícios desde a infância e eles sempre me fizeram muito bem. Mas queria algo para minha mente, para meu espírito, para minha alma. Foi assim que encontrei a Kundalini Yoga, uma prática milenar, que combina técnicas respiratórias (pranayamas), movimentos, mantras, posturas físicas (asanas), relaxamento, foco e meditação.

Conhecida como ioga da consciência, a prática conecta e desperta as particularidades do ser, levando a um alinhamento e maior consciência corporal, emocional, mental e espiritual; atuando sobre todos os sistemas do corpo, com ênfase no sistema nervoso, endócrino, circulatório e linfático, para a manutenção da saúde do corpo, além de trabalhar toda estrutura energética dos chakras, nadis e meridianos.

De acordo com a professora Aurora Castellotti, psicóloga e instrutora de ioga, "a prática constante pode aumentar a resistência e a vitalidade física, além de trazer um estado mental de maior calma e um equilíbrio para as emoções, sendo que um aumento de confiança em seu próprio 'Ser' pode levar a um sentimento maior de autoconfiança e uma conexão mais harmônica nos relacionamentos. A prática regular da Kundalini Yoga ajusta o sistema glandular e fortalece o sistema nervoso, nos tornando aptos a darmos respostas mais éticas, criativas e eficazes aos desafios, situações de estresse, que nos são apresentados em nossa vida diária. Permite também que reavaliemos os nossos hábitos, dando-nos consciência sobre seus impactos em nossas vidas e a liberdade para agirmos diferentemente, promovendo um alinhamento entre o aspecto físico, mental e espiritual. As posturas de ioga, conhecidas como asanas, ajudam a aliviar o desconforto físico. E, mais do que isso, a ioga não só ajuda a aliviar as dores do corpo físico, como também pode ajudar nos pensamentos negativos e preocupações frequentes, comuns para aqueles que enfrentam a ansiedade."

  • AULAS DE BIKE

Outra coisa que trouxe benefícios para o corpo e para a mente foi fazer aulas de bike no estúdio Velocity. Nelas, aprendi a focar mais em mim, entender até onde meus batimentos cardíacos podem chegar de forma saudável, controlar minhas diversas sensações e ter um sentimento absurdo de "poxa, consegui! Me superei!".

Segundo a diretora técnica da Velocity, Ana Paula Simões, "o conceito das aulas é olhar para o indivíduo de maneira mais ampla e ajudá-lo a desenvolver consciência corporal e atenção plena, orientando-o a estar presente ali durante a atividade. Queremos que, naqueles 45 minutos de aula, o aluno esteja presente —a nossa ideia é fazer com pratique o mindfullness ali. A música é a principal ferramenta durante a aula nesse processo de imersão. As oscilações estratégicas elaboradas pelo professor geram diferentes emoções e respostas no aluno, resultando em um grande alívio no fim da aula. Nosso objetivo como professores é programar, durante as aulas, incentivos e boas ideias na cabeça dos alunos, para que eles sigam com energia boa para começar ou finalizar o dia de trabalho. Temos segmentos de aula em que há o direcionamento específico para meditações ativas com a bike, para que o aluno explore cada vez mais a si mesmo por meio de técnicas respiratórias e consciência corporal, introspecção através dos estímulos gerados pela condução do professor e músicas sugeridas. Há também aulas em que o estímulo físico, a excitação, o trabalho de força e a programação mental para as superações e conquistas são extremamente estimulados. Com isso em mente, questões como ansiedade e gerenciamento de estresse são trabalhadas, já que o objetivo da aula é manter os alunos no presente —por meio de estímulos físicos prazerosos ou introspectivos. O resultado disso tudo é alívio e bem-estar através do movimento."

  • ÓCIO

Precisei parar. Destinar 30 minutos do dia de ócio. Reforço sempre que, na minha infância, nos maiores momentos de tédio e silêncio surgiam as melhores risadas e as melhores brincadeiras. Ficar sem fazer nada é uma pausa desse tanto de informações que nos bombardeia. É uma pausa desse algoritmo direcionado que sempre sabe o que você precisa, que sempre enfia mais e mais informações, mais compras, mais pessoas, mais, mais e mais.

Temos que entender que, de vez em quando, precisamos de menos. Então, pare e deixe sua cabeça também ter um descanso. Pode ter certeza que fará toda a diferença.