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Mariana Varella

REPORTAGEM

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Gripe aviária: é hora de vigilância e monitoramento

Até o momento, foram registrados oito casos de gripe em aves silvestres migratórias - GaborBalla / iStock
Até o momento, foram registrados oito casos de gripe em aves silvestres migratórias Imagem: GaborBalla / iStock

Colunista de VivaBem

31/05/2023 04h00

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Um vírus que causa sintomas graves, espalha-se rapidamente entre animais e tem potencial de contaminar seres humanos faz vítimas fatais. Essa é a história do início de várias epidemias, entre elas a de covid-19, que pegou o mundo de surpresa há cerca de três anos. Assim, é natural que nos assustemos diante do surgimento de casos de influenza aviária A, também conhecida como gripe aviária, provocada pelo vírus H5N1.

Diante das acusações de que demorou para responder à emergência da covid, a OMS (Organização Mundial da Saúde) tratou de não perder tempo diante da morte de aves nas Américas e de uma menina no Camboja, no início deste ano, todas causadas pelo H5N1.

O Brasil também agiu rapidamente, ao registrar as primeiras mortes de aves no dia 15 de maio, e, no último dia 22, declarou emergência zoossanitária em todo o país em função da detecção do vírus da influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP).

A portaria 587, que declarou a emergência, foi publicada no dia 22 de maio no Diário Oficial da União pelo Ministério da Agricultura e Pecuária. A portaria também prevê a prorrogação de outra portaria, do fim de março, que estabelece medidas preventivas contra o ingresso e a disseminação da influenza aviária, como suspensão de feiras, exposições e outros eventos com aglomeração de aves.

Até o momento, já foram registrados oito casos de aves silvestres contaminadas, todas aves migratórias. Não há, até agora, nenhum caso registrado de ave comercial ou de ser humano contaminados pela influenza A.

O estado de emergência zoossanitária é um estado de alerta de contaminação entre animais, e é declarado sempre que há risco de uma doença se espalhar rapidamente entre eles. Dessa forma, o governo consegue se antecipar a um surto da doença, por meio de medidas preventivas.

O governo brasileiro teme que a gripe aviária se dissemine entre os animais de granja, o que tornaria necessário o sacrifício das aves e poderia comprometer o abastecimento de carnes e ovos.

O vírus H5N1 é considerado de alta patogenecidade, ou seja, pode causar doença grave nos hospedeiros. "A taxa de letalidade desse vírus é alta, superior a 50%", afirma o infectologista Renato Kfouri, vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações).

"É possível que o vírus ganhe a capacidade de transmissão entre humanos, podendo chegar a uma pandemia", explica o dr. Kfouri. Contudo, o médico alerta: "Não há nenhum motivo para alarme no momento, mas o Ministério da Agricultura deve fazer um trabalho de vigilância e monitoramento das aves".

Transmissão entre seres humanos baixa

O H5N1 não é um vírus novo, foi identificado pela primeira vez no mundo em 1996. Segundo o dr. Kfouri, foram registrados, nos últimos anos, mais de 800 casos da doença em seres humanos no mundo, em geral em pessoas que manipulam aves. Embora seja um vírus altamente transmissível, a transmissão de um ser humano para o outro é rara.

"Nos preocupa a possibilidade desses vírus ganharem a capacidade de transmissão inter-humana e se disseminarem globalmente", alerta o médico. "O vírus influenza não infecta somente seres humanos, ele infecta mamíferos, aves e outros animais. Muitas vezes o convívio próximo do ser humano com esses animais pode fazer com que haja um 'pulo' da espécie animal para o ser humano, causando uma doença de maior gravidade", explica.

O Ministério da Agricultura reforçou que a doença não é transmitida a partir do consumo de frango e ovos e que não há registro da doença na produção comercial de aves do país.

Em nota, o Ministério da Saúde afirmou: "É importante ressaltar que não foram registrados casos confirmados de influenza aviária A (H5N1) em humanos no Brasil. A transmissão da doença ocorre por meio do contato com aves doentes, vivas ou mortas. De acordo com o que foi observado no mundo, o vírus não infecta humanos com facilidade e, quando isso ocorre, geralmente a transmissão de pessoa para pessoa não é sustentada."

Se ainda não estava claro, a pandemia de covid mostrou ao mundo que é preciso enfrentar os problemas que têm colaborado para tornar surtos e epidemias cada vez mais frequentes. Questões ambientais, como desmatamento e destruição de biomas, e desigualdades socioeconômicas tornam os seres humanos alvos de futuras epidemias infectocontagiosas com potencial de se disseminarem em nível global.

"Nenhum de nós estará seguro enquanto todo o planeta não estiver seguro", finaliza o dr. Kfouri

O que é importante saber sobre a gripe aviária

No dia 15 de maio, foram confirmados os primeiros casos de morte de aves por gripe aviária no Brasil. Já são, até o momento, oito casos da doença, todos em aves migratórias, encontradas no Espírito Santo e no Rio de Janeiro.

No último dia 22 de maio, o Ministério da Agricultura e Pecuária declarou emergência zoossanitária em todo o país em função da detecção do vírus da influenza aviária H5N1.

Estão suspensas feiras, exposições e outros eventos com aglomeração de aves, para evitar que o vírus se espalhe para as aves comerciais.

Até o momento, não há nenhum caso da doença registrado em aves comerciais ou em seres humanos no Brasil.

O risco de contaminação entre seres humanos é baixo, mas as ações de vigilância e prevenção são importantes, pois quanto maior a circulação do vírus, maior o risco de mutações que o tornem mais contagioso.

De acordo com o Ministério da Saúde, as infecções podem acontecer por meio do contato com aves contaminadas, vivas ou mortas. Por isso, não é recomendado tocar nem recolher aves doentes.

A influenza aviária não é transmitida pelo consumo de aves ou ovos.

O Instituto Butantan, em São Paulo, está desenvolvendo uma vacina contra a doença, com cepas do vírus cedidas pela OMS, mas ainda não há previsão para sua produção.

Os sintomas* da gripe aviária em galinhas são:

  • Tosse, espirros e muco nasal;
  • Queda de postura, na produção de ovos e/ou alterações nas cascas dos ovos; hemorragias nas pernas e às vezes nos músculos;
  • Edema (inchaço) nas juntas das pernas; inchaço da crista e barbela, com cor roxa-azulada ou vermelho escuro;
  • Falta de coordenação motora (sintomas nervosos);
  • Diarreia e desidratação.

*Sintomas da doença segundo a Embrapa ( Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária)

Em casos de suspeita de aves contaminadas, notifique aqui.