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Mariana Varella

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Suicídio: o que precisamos saber para evitá-lo?

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Imagem: iStock

Colunista do VivaBem

16/03/2022 04h00

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Sempre que um caso de suicídio é divulgado na mídia, o tema ganha repercussão nas redes sociais, na imprensa e nas rodas de conversa. Todo mundo tem algo a dizer sobre um assunto que, se é verdade que gera diferentes opiniões, choca toda a sociedade por ir contra um dos instintos mais básicos dos seres humanos: o da preservação da vida.

Mas é preciso cuidado ao tratá-lo, e não é possível abordá-lo sem algumas premissas, sob o risco de ser leviano e preconceituoso.

  1. Suicídio é um problema de saúde pública

Ao contrário do que diz o senso comum, o suicídio não é um problema individual, mas de saúde pública. Isso significa que em termos de natureza, extensão, severidade, significância e potencial de expansão, o suicídio causa um grande impacto na sociedade e, portanto, deve ser priorizado por meio de ações e políticas públicas.

  1. É um fenômeno multicausal

O suicídio não tem uma causa única, é um fenômeno multifatorial, e, portanto, difícil de prever. É influenciado por uma combinação de fatores, como transtornos mentais, questões genéticas, socioculturais, psicodinâmicas, filosófico-existenciais e ambientais.

Compreender esse pressuposto é essencial para a próxima questão.

  1. Pode ser prevenido

Embora não haja uma medida isolada que sirva para evitar todos os casos de suicídio, ele pode ser prevenido. A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem um vasto material a respeito, com orientações para a prevenção.

A adoção de medidas preventivas é ainda mais importantes se considerarmos que cerca de 75% dos casos (a OMS estima que ocorram cerca de 800 mil casos de suicídio por ano no mundo) acontecem em países de renda baixa e média que nem sempre podem contar com sistemas de saúde acessíveis a toda a população.

  1. Comportamento suicida é um problema que vai além do suicídio em si

O número de tentativas de suicídios é cerca de 20 vezes maior que o número de suicídios. Uma pessoa que tenha tentado o suicídio tem um risco muito alto de conseguir no futuro, por isso é importante concentrar a atenção em pessoas que já tenham tido comportamento suicida, que também inclui intenção e pensamento suicida (ideação) e o planejamento do ato.

Embora muita gente pense que quem ameaça se matar está, na verdade, querendo chamar a atenção, toda ameaça de suicídio deve ser levada a sério. É comum que pessoas que tenham morrido por suicídio tenham feito ameaças ou tentativas anteriormente.

  1. É preciso melhorar o diagnóstico e o tratamento dos transtornos mentais

O psiquiatra e professor de psiquiatria da Unicamp Luís Fernando Tófoli, em entrevista ao Portal Drauzio Varella, explicou que é extremamente importante identificar os sinais de transtornos mentais que em geral estão relacionados a comportamentos suicidas, como depressão e transtorno bipolar, para que as pessoas possam ser cuidadas.

Embora os transtornos não sejam determinantes, na maioria dos casos de suicídio é possível identificar, mesmo que posteriormente, a ocorrência de transtornos mentais.

Dessa forma, investir no diagnóstico e no tratamento desses transtornos pode ajudar a reduzir as taxas de suicídio, principalmente se isso vier acompanhado de outras medidas preventivas.

  1. É fundamental investir na formação de profissionais de saúde

Profissionais de saúde devem desenvolver a atenção para suas próprias atitudes e tabus em relação à prevenção do suicídio e dos transtornos mentais. Há muito estigma envolvendo o tema, o que faz com que as pessoas deixem de pedir ajuda.

Tentativas de suicídio causam sentimentos ambíguos em quem está próximo, e isso inclui os profissionais de saúde. Entender e aprender a lidar com as emoções e preconceitos é fundamental.

  1. É primordial cuidar dos familiares e das pessoas próximas

Não é fácil encarar casos de suicídios. Há muito estigma, e é comum que as pessoas próximas tenham sentimentos contraditórios, como raiva e culpa. Parentes de pessoas que morreram por suicídio também podem apresentar risco maior de se suicidar, portanto devem ser acompanhados.

  1. É essencial identificar e reduzir a disponibilidade e o acesso aos meios para se cometer suicídio.

"Países que adotaram medidas para dificultar o acesso a medicamentos, armas de fogo e pesticidas, meios que costumam ser usados em tentativas de suicídio, conseguiram reduzir suas taxas", revelou em entrevista o psiquiatra Carlos Cais, professor-colaborador do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.

A OMS tem feito inúmeros alertas nesse sentido aos seus países-membros.

9. É crucial auxiliar a mídia sobre como noticiar suicídios

Embora a mídia tenha obrigação social de abordar o tema, é preciso cuidado ao fazê-lo. Há consenso entre especialistas de que o fenômeno do suicídio sofre contágio pela imprensa, portanto há maneiras pelas quais ele não deva ser retratado. O dr. Tófoli ressaltou que o ato não deve ser romantizado nem se deve revelar detalhes, como cartas deixadas a parentes ou o local e o método utilizado.

A imprensa deve sempre buscar profissionais especializados e indicar fontes seguras para ajuda profissional.

O site Setembro Amarelo, feito em parceria com a Associação Brasileira de Psiquiatria e o Conselho Federal de Medicina, traz informações e indicação de profissionais confiáveis.

Peça ajuda

Caso você tenha pensamentos suicidas, procure ajuda especializada como o CVV e os Caps (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade.

O CVV (www.cvv.org.br/) funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por email, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.