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Larissa Cassiano

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Você já ouviu falar em pobreza menstrual? 

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

04/05/2021 04h00

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Esse termo se refere a pessoas que têm privações de recurso ou de acesso adequado a produtos de higiene menstrual. Mas por que trazer esse tema aqui?

Por que para lutarmos contra essa dificuldade que afeta pessoas que menstruam precisamos antes de tudo falar sobre menstruação e lembrar ou saber que o mês de maio é o mês da visibilidade menstrual.

Considerando a população do Brasil, aproximadamente 30% menstruam, entre essas pessoas temos meninas, mulheres, homens trans, pessoas não binárias e intersexuais em diversas idades e condições econômicas. Pensando nesse número podemos imaginar quantas pessoas podem passar por dificuldades durante o período menstrual.

Para esclarecer mais dúvidas sobre menstruação, convidei Priscila Medina, ginecologista e obstetra especializada em ginecologia endócrina na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), para abordar outros detalhes sobre o tema.

"A menstruação considerada normal ocorre com intervalos regulares de 26 a 34 dias e tem duração de 2 a 7 dias. Para entender como é o ciclo menstrual pudemos usar o chamado calendário menstrual com as datas de início e término de cada menstruação. Hoje existem vários aplicativos de celular que ajudam a entender o ciclo. O ideal é anotar pelo menos 3 ciclos para compreender melhor como é o padrão do sangramento.

Se realmente o fluxo for irregular, o médico ginecologista precisa investigar a causa da alteração. As causas mais comuns da irregularidade são: síndrome dos ovários policísticos, alterações da tireoide, obesidade, estresse, excesso de exercício físico, entre outros.

É importante lembrar que em duas fases da vida da mulher a irregularidade menstrual pode ser normal: no início da menstruação e no período próximo a menopausa. Após a menarca (primeira menstruação), os ciclos podem ser irregulares nos 2 primeiros anos por conta de uma imaturidade do sistema que o regula.

Alguns exames ajudam no diagnóstico correto como, por exemplo, a ultrassonografia pélvica, a coleta de Papanicolau e exames laboratoriais.

O tratamento depende da causa do sangramento anormal. Se a irregularidade estiver acontecendo no período próximo a primeira menstruação ou próximo a menopausa não é necessário tratamento específico, a menos que os sintomas estejam atrapalhando a qualidade de vida da paciente.

Dependendo da causa da irregularidade, o tratamento pode variar desde mudança dos hábitos de vida (exercício físico, alimentação saudável, redução do estresse) até cirurgia ou medicação (anticoncepcional ou terapia hormonal). O mais importante é sempre ter um acompanhamento com o seu médico ginecologista."

Depois de ler o texto você deve ter percebido como o tema menstruação é vasto e que o número de pessoas precisando de informações a apoio é muito grande.

Ouvir a história da Luana Escamilla, de apenas 17 anos, idealizadora do Fluxo Sem Tabu, projeto sem fins lucrativos que fornece absorventes para as camadas mais vulneráveis da sociedade, pode ser o primeiro passo.

Ela conta sobre o projeto: "Ano passado assisti ao documentário Absorvendo o Tabu sobre uma máquina de absorventes biodegradáveis e de baixo custo em um vilarejo indiano, onde meninas e mulheres trabalham em busca de independência financeira numa sociedade machista e patriarcal. Foi assim a primeira vez que 'caiu a ficha' de que a menstruação ainda é um mega tabu em pleno século 21.

Esse documentário me tocou e comecei a pesquisar muito sobre a pobreza menstrual no nosso país. Percebi também como todas as mulheres presentes na minha vida tratavam a menstruação como um segredo. Então decidi criar uma iniciativa que pudesse tanto fornecer absorventes para as camadas mais vulneráveis como também democratizar o acesso à informação, quebrando o tabu da menstruação. Aprendi a criar um site e uma campanha efetiva no Instagram e assim nasceu o Fluxo Sem Tabu."

Se você se interessou pelo projeto e está disposto a ajudar a Luana, no site do projeto é possível doar. No Instagram e no Tiktok do projeto sempre há conteúdos para conscientizar cada vez mais as pessoas.

É possível apoiar o Fluxo Sem Tabu pela vaquinha virtual Catarse, em que todo o dinheiro arrecadado é convertido em pacotes de absorventes e doados para as três instituições parceiras (Casa Hope, Instituto C. e ABCD Nossa Casa), todas voltadas para pessoas em situação de vulnerabilidade que contam com mais de 700 pessoas que menstruam e precisam de ajuda.

O projeto ainda conta com um ponto físico de arrecadação de absorventes na FAAP, na capital paulista. Todos os doadores têm acesso a uma recompensa: aulas gratuitas de Kundalini Yoga oferecidas voluntariamente pela Segunda Onda.

Para mudar a situação da pobreza menstrual precisamos de políticas públicas que incluam a redução dos impostos sobre itens menstruais, condições de higiene para a população que menstrua, informação e projetos como o Fluxo Sem Tabu.

Gostou deste texto? Dúvidas, comentários, críticas e sugestões podem ser enviadas para: dralarissacassiano@uol.com.br.

Referências:

1. Yela DA, Benetti-Pinto CL. Sangramento uterino anormal. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), 2018. (Protocolo FEBRASGO - Ginecologia, no. 42/Comissão Nacional Especializada em Ginecologia Endócrina);

2. Hoffman BL, Schorge JO, Schaffer JI, Halvorson LM, Bradshaw KD, Cunningham
FG. Ginecologia de Williams. 2ª. Ed. Porto Alegre: McGraw-Hill Artmed; 2013;

3. Girão MJBC, Baracat EC, Lima GR. Tratado de Ginecologia. São Paulo: Atheneu;
2017.