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Gustavo Cabral

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Sem atualizar vacinas da covid, não adianta muito tomar cinco ou mais doses

Colunista de VivaBem

08/08/2022 04h00

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Nos últimos dois anos e meio, trabalhamos intensamente em defesa da vacinação, pois essa é a melhor arma para combater doenças infecciosas, como a covid-19.

Mesmo com a negligência do Governo Federal, conseguimos incentivar a população a se vacinar em massa e obtivemos certo sucesso, se considerarmos que o número de mortes diárias caiu de mais de 4 mil para algo entre 100 e 300 —o que ainda não é aceitável. No entanto, essa pequena vitória não pode fazer com que a gente deixe de enxergar algumas questões importantes, como a necessidade de atualização dos imunizantes, para que eles sejam mais eficazes contra as variantes que surgiram.

As empresas fabricantes de vacina estão em posição de conforto. Seguem vendendo grande quantidade de seus produtos e não dedicam a devida atenção para a importância de eles serem renovados.

A situação das empresas é cômoda. Elas não são cobradas por cientistas, pela mídia e pela sociedade como deveriam. Eu alertei sobre a importância de atualizarmos as vacinas contra a covid-19 no começo deste ano. Agora, reforço o assunto, pois o coronavírus sofreu mutações (como a variante ômicron e suas subvariantes) que o tornaram mais eficiente em escapar da imunidade gerada pela vacinas atuais e até mesmo da imunidade natural, estimulada ao ser infectado pelo vírus.

Sem vacinas mais eficazes para proteger das variantes, fica difícil convencer a sociedade a se vacinar de seis em seis meses com imunizantes que ainda usam informações genéticas do vírus que surgiu em Wuhan, ainda em 2019.

Uma prova de que não teremos bons resultados em convencer as pessoas a tomarem cinco, seis doses de uma vacina desatualizada é que menos de 50% da população tomou o reforço ("terceira dose"), mesmo sabendo que, com a ômicron, só podemos considerar que alguém está completamente imunizado após receber três doses.

Algumas pessoas podem dizer que artigos científicos já mostraram que o "boost" com vacina atualizada para a variante ômicron não gerou aumento na proteção, quando comparado a uma vacina "antiga". Realmente, há estudos com essa conclusão. Mas não podemos parar neles. Precisamos ir um pouco mais a fundo nos resultados e explicar algumas questões muito importantes, para que fique mais clara a compreensão.

No caso das vacinas genéticas —as de mRNA, como a Pfizer— ou de vetores virais (AstraZeneca, Janssen), é muito complexo garantir que o código genético inserido nelas seja traduzido em proteínas spike do coronavírus, da mesma forma que as primeiras vacinas fizeram.

Pensem no seguinte, quando esse código genético é feito e montado, pode acontecer de sua eficácia final não ser a mesma, mesmo que adotada a mesma metodologia usada para produzir as primeiras vacinas, pois a mudança de alguns nucleotídeos, que são as subunidades, os tijolinhos do DNA e RNA, pode afetar o resultado, que será a tradução da proteína, responsável por estimular o sistema imune a responder de forma específica contra a parte do coronavírus que queremos atacar.

Para que a análise comparativa da efetividade das vacinas atualizadas seja fidedigna a das primeiras vacinas, que ainda usamos, há a necessidade de garantir a mesma capacidade de produção das proteínas spike. No entanto, os trabalhos científicos publicados têm focado na comparação dos resultados finais, que é comparar a proteção induzida pela vacina nova e a antiga.

Resumindo: é preciso voltar alguns passos e tentar entender por que as vacinas atualizadas não são mais eficazes do que as antigas. Não basta apenas repetir a tecnologia usada anteriormente e se contentar com a informação de que a proteção é a mesma, para seguir aplicando os imunizantes que temos hoje.

Claro que quanto mais doses de reforço forem dadas, com ou sem atualização, mais vamos ativar a memória gerada pela imunização e por infeções prévias, mas com pouca melhora na efetividade vacinal, se não houver uma vacina com alto potencial ativação da imunidade contra as mutações atuais.

Dessa forma, precisamos ser mais incisivos na cobrança por essas novas vacinas. Se houve o desenvolvimento em tempo recorde de uma vacina, há a possibilidade da atualização em tempo recorde também, basta que o interesse seja do tamanho daquele que fazia as empresas e países quererem levantar a bandeira de que foram os primeiros a produzir ou aplicar uma vacina contra a covid-19 —não vou nem entrar na questão financeira e o quanto as empresas estão lucrando...

O foco nesse momento é intensificarmos as campanhas para que as pessoas completem o ciclo vacinal com três doses e não nos acostumarmos com mais de 200 mortes por dia.

Devemos informar que as pessoas precisam tomar a dose de reforço (terceira dose) e a quarta dose, para quem se vacinou há seis meses ou mais. No entanto, não podemos pensar apenas no presente e achar que daqui a quatro ou cinco meses a gente vai chegar para a sociedade e orientar para que tomem a quinta dose com a mesma vacina que temos hoje, acreditando que haverá uma adesão em massa.

Há razões para essa adesão não acontecer, pois as pessoas estão sobre uma constante guerra de desinformações, enquanto as produtoras de vacinas seguem colhendo lucros e mostrando apenas promessas, mas poucos resultados.