Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Covid: aumento das mortes mostra que vacinação só está completa com 3 doses
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Você já deve ter ouvido inúmeras vezes que a vacinação completa é capaz de reduzir o número de mortes provocadas por qualquer doença infecciosa. Sendo assim, não poderia ser diferente com a covid-19. Porém, neste momento, em que já temos mais de 70% da população com duas doses das vacinas contra o coronavírus —que em teoria seria a imunização completa—, vemos um novo aumento de óbitos. Por quê?
Não é difícil entender. Mas, para facilitar a compreensão, conversei com meu amigo Marcelo Soares, que dirige o estúdio de inteligência de dados Lagom Data, em São Paulo, para montarmos o gráfico a seguir, que traz todo o processo de vacinação com duas doses e sua associação com o número de mortes.
Podemos ver na figura que, quanto menor o número de vacinados com duas doses (na horizontal), maior foi o número de mortes (na vertical). Ao ponto que a vacinação foi avançando, a curva de mortes foi caindo, até chegarmos aos tão sonhados dois terços da população imunizada, quando alcançamos a marca de menos de 100 mortes por dia.
Sim, saímos de marcas de mais de quatro mil mortes por causa da covid-19, em alguns dias de abril de 2021, quando ainda estávamos engatinhando com a vacinação, para menos de 100 mortes por dia em janeiro de 2022. E a taxa poderia continuar baixando se conseguíssemos vacinar crianças e adolescentes rapidamente e a população tomasse a dose de reforço no momento certo. Com isso, seria natural ir voltando à vida com mais normalidade e com maiores flexibilizações.
Bom, essa seria uma história linda se a população tivesse seguido as nossas orientações no final de 2021 e não achasse que a pandemia tinha acabado, aglomerando em festas sem máscaras, como se o coronavírus não circulasse mais por aí. Claro que não quero culpar unicamente a população, pois faltou orientação do governo. Mas todos têm, sim, de assumir responsabilidades!
Quero chamar a atenção também de cientistas irresponsáveis, que especularam que a ômicron era leve e poderia representar o fim da pandemia. Isso foi de uma irresponsabilidade sem tamanho, pois não fazemos ciência especulando e colocando a população em risco. Falamos com embasamento, para passar a orientação correta e conduzir ações concretas.
Esse fato foi uma forma de levar a população para a tão famosa "imunidade de rebanho bolsonarista", aquela que manda as pessoas para a carnificina, se expondo ao vírus sem prevenção e dependendo da "sorte imunológica" ao se infectarem —ou seja, torcendo para o sistema imune segurar a barra, e não ter complicações causadas por uma variante que não conhecíamos bem.
Com a ômicron e o aumento de infecções e mortes, percebemos que as duas doses vacinais não conseguem gerar uma proteção como foi com as variantes anteriores (alfa, beta, gama e delta). Além disso, como já era esperado, as vacinas diminuem bastante sua capacidade protetora após seis meses de imunização.
Somando os dois fatores, hoje temos a certeza de que é necessário, urgentemente, tomar a dose de reforço —ou a chamada terceira dose— para conseguirmos a imunização completa. E, infelizmente, estamos com um percentual muito baixo (cerca de 25%) de pessoas com a terceira dose. Ainda é muito pouco para controlar as mortes!
Para piorar, temos ações cada vez mais ferozes dos movimentos anti-vacina, que têm gerado um medo absurdo na população —e as pessoas já estão fragilizadas pela soma de perdas que têm passado, sejam as mortes de pessoas próximas, seja a perda de emprego, seja problemas de saúde física ou mental devido ao estresse gerado pela pandemia.
Apesar de essa gente criminosa que é contra a vacinação estar tentando de todas as formas continuar com o caos, não podemos permitir que ele avance ainda mais, pois as mortes voltaram a aumentar ao mesmo tempo que a população aterrorizada tem receio de se proteger com vacinas que já foram aplicadas em bilhões de pessoas em todo o mundo, mostrando-se extremamente seguras e eficazes para controlar as mortes e, consecutivamente, a pandemia.
Ou todos assumimos essa responsabilidade de controlar o coronavírus ou estaremos fadados ao terror que ele provoca, por tempo indeterminado. Não pensemos que vamos transformar a covid-19 em uma doença periférica, exclusiva de países pobres, pois sempre podem surgir variantes capazes de detonar todo o esquema de controle da pandemia. Quer exemplo melhor do que a ômicron?
Sem ela, poderíamos ter dois terços da população completamente imunizada. Agora, temos que considerar que a vacinação completa exige três doses e estamos com apenas 25% de vacinados.
Para não perder a oportunidade, quero dizer aos pais irresponsáveis, que não acreditam na vacinação, que, por favor, imunizem seus filhos, pois não estamos dispostos a perder as nossas crianças por causa de suas crenças infundadas e inconsequentes.
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