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Gustavo Cabral

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Por que me vacinar se ainda posso transmitir a covid? Tire dúvidas comuns

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Imagem: iStock

Colunista do VivaBem

27/05/2021 04h00

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Após mais de um ano de pandemia e 450 mil mortes, parte da nossa população ainda tem dúvidas do que fazer para auxiliar no controle da covid-19 —e muito disso se deve às (des)orientações passadas por alguns políticos.

Tanto eu (em meu Instagram @gcabral.miranda) quanto o VivaBem (no @vivabem_uol) estamos recebendo muitas perguntas que mostram certo medo de algumas pessoas em se vacinar. É muito importante acabar com essas e outras dúvidas sobre a imunização e o controle da pandemia, pois só com a vacinação em massa vamos vencer o coronavírus e retomar a vida normal. Portanto, vou responder algumas dessas questões a seguir.

Se posso transmitir a covid-19 mesmo vacinado, para que me vacinar?

Em primeiro lugar, é importante ressaltar que não transmitimos a doença e, sim, o vírus —uma pessoa doente pode "passar" o coronavírus para outra e ela não ter covid-19 (não entenda isso como uma resposta rude, a orientação é importante).

Em segundo lugar, é preciso ter em mente que o principal objetivo das vacinas não é impedir que alguém contraia o coronavírus e, sim, proteger a pessoa de desenvolver covid-19 moderada ou grave, que necessite de atendimento médico e hospitalização.

Dessa forma, a vacina ajuda a salvar muitas vidas, pois contribui para que os hospitais não fiquem lotados e entrem em colapso —o que afeta inclusive o atendimento de quem sofre outros problemas, como um infarto ou um AVC (pacientes que, infelizmente, a covid-19 pode estar matando de forma indireta).

Além disso, não são todos os vacinados que terão covid-19 e transmitirão o coronavírus. Ao ser imunizado, você pode contrair o vírus e não ficar doente, pois a vacina impede que a carga viral aumente o suficiente para você adoecer. Mas, mesmo com uma carga viral baixinha, algumas pessoas podem passar o coronavírus para outras —e se essas pessoas ainda não tiverem sido vacinadas, estiveram imunodeprimidas ou tiverem comorbidades, podem desenvolver covid-19 grave. Conclusão: é muito importante todos se vacinarem quando chegar sua vez e seguirem tomando os cuidados para não espalhar o vírus, como evitar aglomerações, usar máscara e higienizar as mãos.

Pessoas que tomaram as duas doses da vacina estão morrendo. Do que adianta eu me vacinar?

Que tal pensar de forma diferente? Alguns morreram, mas todos os outros vacinados continuam vivos e saudáveis... Um caso de morte não pode gerar o sentimento de ineficácia total das vacinas, pois elas são, sim, seguras e eficazes.

Precisamos analisar caso a caso as mortes que ocorreram em pessoas vacinadas. Se o indivíduo tomou só uma dose e morreu, a explicação está aí: as vacinas disponíveis no Brasil precisam de duas doses para gerar a proteção esperada contra a covid-19. E no caso de quem tomou as duas doses, Gustavo? Temos de verificar, em primeiro lugar, se a pessoa não contraiu o coronavírus e ficou doente antes do prazo necessário para a segunda dose gerar a proteção —cerca de 14 a 20 dias. Depois, devemos observar outros fatores biológicos de cada pessoa, se ela já não tinha alguma doença grave, se não estava com o sistema imunológico comprometido (o que pode prejudicar a resposta à vacina e a proteção que gerada), se demorou para buscar atendimento médico etc.

Repito: vacinas são seguras e eficazes. Elas protegem a sociedade e são essenciais para vencermos essa pandemia. Não deixe que um ou outro caso de morte coloque isso em xeque e desestimule você ou seus familiares de receber a imunização.

Se antes de 2020 tínhamos uma sociedade estável, era por causa de todas as outras vacinas que existem contra doenças infecciosas. Aí, foi só surgir um vírus letal e de fácil disseminação, que não tinha vacina, para virar esse caos. Isso mostra o quanto vacinas são importantes para proteger nossa vida.

Por que nos EUA os vacinados não precisam mais usar máscara e aqui no Brasil eu preciso?

Não é só nos EUA. O uso de máscara está sendo flexibilizado, especialmente ao ar livre, em alguns países que já têm vacina disponível para todas as pessoas com mais de 16 anos ou que já conseguirem vacinar mais de 50% da população —embora para ter uma segurança maior o ideal seja vacinar aproximadamente 70%.

Com a maior parte da população imunizada e outras ações para controlar a dispersão do vírus (evitar aglomerações e ambientes fechados, por exemplo), uma pessoa infectada "não encontra" outras pessoas para passar o coronavírus e sua taxa de transmissão começa a diminuir, reduzindo o número de casos da doença e mortes. Assim, aos poucos, é possível voltar à "vida normal" de forma segura.

Realmente, ao ver esses países com a maioria vacinada e tirando as máscaras bate uma "inveja boa". E também bate uma tristeza, pois ainda estamos longe de vacinar todo mundo e, mesmo quando boa parte estiver imunizada, provavelmente não será possível pensar em flexibilização, pois no Brasil o povo já entende flexibilização como um carnaval fora de época, vai para festas e promove aglomerações —algo, inclusive, que nosso presidente da república é especialista em fazer, e sem máscara.

Mas vamos deixar essa e outras pessoas que não pensam no coletivo de lado e pensar que é nosso dever seguir agindo de forma consciente, para proteger a todos: ou seja, vacine-se e, mesmo imunizado, use máscara, evite aglomerações, higienize as mãos...

Os efeitos raros gerados pelas vacinas podem ser minimizados ou é questão de sorte?

É muito complicado prever efeitos raros (justamente por serem raros). Por isso nós, cientistas, exigimos tanto que uma vacina não seja aplicada na população sem antes passar pelos testes clínicos de fase 3 —em que vacinamos milhares de voluntários com o imunizante em teste e com placebo, para acompanharmos e analisarmos se a vacina vai proteger da doença e se não vai gerar efeitos colaterais graves.

Além disso, quando licenciamos uma vacina, continuamos acompanhando qualquer possível alteração que ela possa gerar em nosso corpo. Caso ocorra algum efeito inesperado, analisamos os motivos para isso ter acontecido —em certos casos, o uso da vacina é interrompido até que a resposta seja encontrada.

Dessa maneira, fica complicado antecipar se alguém terá ou não um efeito colateral raro. Mas ninguém precisa depender da sorte quando estamos falando de ciência. O mais importante é estarmos preparados para agir rapidamente quando um efeito raro ou inesperado acontece. E, ao ter conhecimento desses efeitos e entender suas causas, é preciso saber o que pode ser feito para impedir que outras pessoas com características semelhantes desenvolvam também esses eventos raros ou tenham sequelas graves.

Espero que as respostas tenham sido úteis para muita gente e que possamos continuar interagindo. Mandem suas dúvidas para mim e para o VivaBem em nossas redes sociais ou no email vivabemuol@uol.com.br.

Vamos, juntos, lutar para acabar com essa pandemia sem gerar ainda mais prejuízos, principalmente os prejuízos humanos —ou seja, vidas perdidas. Nada de pensar que alguém pode fazer isso sozinho, sem a participação de todos. Nesse momento, precisamos unir ações políticas, da mídia e sociais, sempre com suporte científico!