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Fernanda Victor

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Remédio para emagrecer vicia ou tem efeito rebote se parar de tomar?

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

10/03/2022 04h00

Essas são dúvidas comuns e já adianto que fazem parte do rol de mitos associados ao tratamento da obesidade!

E isso desponta um fato preocupante: enquanto esses mitos são disseminados, a obesidade segue avançando como uma das principais causas evitáveis de doenças cardiometabólicas e mortalidade. Os últimos dados já reportam mais de 60% da população acima do peso e cerca de 1 para cada 5 brasileiros com obesidade.

No último dia 4 de março, Dia Mundial da Obesidade, foi lançada a campanha deste ano desenvolvida pela Abeso/SBEM (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica/Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) com o tema "Obesidade: conhecimento, cuidado e respeito!", cujo foco consiste em diminuir o preconceito, entender as causas da obesidade e reforçar a relevância do tratamento adequado à população.

Vejo que precisamos ampliar o conhecimento no tocante à abordagem da obesidade, pois não é infrequente me deparar com frases como estas: "Ah não! Não vou começar remédio para emagrecer e ficar dependente dele"; "Conheço bem 'fulana' que tomou remédio para emagrecer e engordou o dobro depois que parou".

E se eu te disser que o remédio para emagrecer nem vicia e nem é o responsável pelo reganho de peso (também chamado de efeito rebote)!?

Pois bem... Atualmente, os quatro medicamentos aprovados pela Anvisa (orlistate, liraglutida 3.0 mg, sibutramina e nupropiona/naltrexona) e recomendados para auxiliar na perda de peso apresentam segurança e eficácia comprovadas.

Mas entenda que, apesar de seguros, eles não são isentos de efeitos colaterais e a indicação de utilizá-los precisa respeitar o perfil do paciente, a dose correta e um acompanhamento especializado adequado.

As medicações podem ser fortes aliadas no processo de emagrecimento e estão indicadas quando há uma grande dificuldade na perda de peso com mudanças comportamentais em pacientes com obesidade (Índice de Massa Corpórea - IMC > 30 kg/m2) ou com sobrepeso (IMC > 27 Kg/m2) associado a comorbidades (diabetes tipo 2, hipertensão arterial, alteração no colesterol, apneia do sono, dentre outras).

Outro ponto a ser esclarecido: as medicações antiobesidade não são culpadas pelo reganho de peso, o que geralmente ocorre é a suspensão inadvertida da medicação associada à interrupção de todas as outras estratégias que vinham sendo implementadas até então a obtenção da perda de peso, tais como reeducação alimentar, prática regular de atividade física, sono de qualidade, etc. Uma espécie de tudo ou nada!

O reconhecimento que se trata de uma doença crônica e multifatorial é essencial para a compreensão de que os portadores de obesidade precisam manter um tratamento a longo prazo.

Ao perder peso, com ou sem medicação antiobesidade, ocorrem adaptações metabólicas e hormonais que promovem o aumento da fome e a redução do metabolismo, em uma tentativa do corpo recuperar o peso perdido. Logo, se os esforços forem abandonados, o reganho de peso é natural e esperado.

A mudança de estilo de vida segue sendo o pilar do tratamento da obesidade. É simples reconhecer os hábitos saudáveis, mas não é nada fácil incorporá-los na rotina diária. Além disso, diante de uma doença complexa, não há tratamento simples, por isso esteja atento aos atalhos, às dietas milagrosas e aos modismos para emagrecer com propostas meramente comerciais e sem benefícios comprovados.

É preciso conhecer o problema para respeitá-lo e cuidá-lo. Não há mais espaço para negligenciarmos a obesidade e o seu tratamento.

Referências:

https://abeso.org.br