Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Palestras pontuais sobre sexualidade resolvem as questões de adolescentes?
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Vou iniciar esse texto com a resposta para a pergunta do enunciado:
Não! Palestras pontuais sobre sexualidade não resolvem, nem dão conta das questões que permeiam a sexualidade de adolescentes.
Eu atuo como psicóloga há 10 anos e como educadora em sexualidade infantojuvenil há 12. Desde que iniciei meus trabalhos na área recebo convites de escolas, instituições e espaços socioeducativos para realizar palestras e rodas de conversas com o público adolescente.
As solicitações, na maioria das vezes, são feitas a partir de "situações-problema": uma menina grávida, adolescentes se beijando às escondidas, machismo, agressões físicas etc. São raros os momentos em que sou convidada para conversar sobre sexualidade para garantir o desenvolvimento saudável e prevenir as situações que mencionei.
Os convites que recebo têm formatos semelhantes: são atividades com duração de uma hora e meia a duas horas, numa sala com mais de 30 adolescentes (em alguns momentos crianças e adolescentes frequentam a mesma atividade) e com um tema amplo, como "Sexualidade: tudo que você precisa saber" ou "Sexualidade na adolescência".
É muito importante sabermos que a educação em sexualidade é, antes de mais nada, um processo reflexivo e vivencial sobre corpo, saúde e sexualidade. Isso quer dizer que uma atividade pontual pode até ajudar a tirar algumas dúvidas, mas não promove uma reflexão contínua ou vivências que auxiliem adolescentes na compreensão do que está acontecendo com seus corpos e desejos.
Convidar profissionais para palestrar é uma atividade interessante, afinal receber rostos novos no espaço educativo promove debates riquíssimos e aproximação com reflexões diferentes de quem está com adolescentes no cotidiano. Contudo não é o suficiente para dar conta de uma fase da vida que traz novas descobertas a cada minuto.
A defesa da educação em sexualidade não se pauta —nem deve se pautar— na realização de palestras pontuais, mas sim na garantia de direitos com programas que promovam a construção de um calendário de ações junto a adolescentes e crianças no cotidiano.
Algumas escolas da rede privada têm desenvolvido trabalhos interessantíssimos de discussão e reflexão sobre o desenvolvimento sexual saudável, mas na rede pública ainda vemos ataques a quaisquer ações que desenvolvam atividades sobre sexualidade.
Nessa briga de adultos quem sai perdendo é a infância e a adolescência que, sem referencial confiável sobre sexualidade, vão buscar informação em lugares que vulnerabilizam ainda mais seus corpos.
Defender a educação em sexualidade é defender processos educativos. Nó seguiremos fazendo palestras —porque elas também são importantes—, mas as palestras pontuais, sozinhas, não garantem a grandeza que é ter direito ao desenvolvimento sexual saudável.
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