A escuta é um processo, não um ato imediato: entender isso ajuda a ouvir
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Certa vez eu estava numa festa e ouvi uma música que dizia: "Se você disser tudo que quiser então eu escuto. Fala"
Eu escutei e imediatamente me apaixonei por aquela frase. Fui embora da festa com aquele trecho na cabeça e, no dia seguinte, pesquisei e encontrei a música. Ela se chama Fala, composta por Luli e João Ricardo, interpretada pelo Secos & Molhados.
Tudo é lindo nessa canção, então, se tiver a oportunidade de acessá-la, faça isso. Mas o que quero trazer para nossa conversa semanal não é a letra da música —embora ela tenha tudo a ver com esse texto. O que pretendo é abrir uma reflexão sobre a importância de compreender a escuta como um processo e não reduzi-la a um ato imediato.
Vou explicar: eu acredito que escutar seja como cozinhar uma receita. Para fazer um bolo, por exemplo, é preciso separar os ingredientes, organizar as medidas, bater tudo, untar a forma, experimentar a massa, colocar no forno e depois esperar. Mas cuidado: esperar o bolo assar não é deixá-lo no forno e ir ao mercado. Esperar um bolo assar é ficar atenta ao crescimento, ao cozimento, à coloração do bolo enquanto ele cozinha e tudo isso sem abrir o forno. Caso contrário ele queima ou não cresce!
Com a escuta, não é diferente. Escutar requer ingredientes como abertura, atenção exclusiva à pessoa que fala, respeito, não-julgamento e se propor a sair do lugar de centro. Escutar é deixar que a pessoa se expresse e ficar atenta, respeitar o direito de fala e só perguntar algo se aquilo for importante para compreender o assunto trazido pela pessoa que está diante de você. Sempre cuidando para não queimar ou solar a relação estabelecida.
Outro ponto importante no processo de escutar e de cozinhar é ter disposição para a atividade! Não adianta nada ter todos os ingredientes para preparar uma receita, se você não está a fim de fazê-la. Minha mãe sempre diz que quando cozinhamos com má vontade o pão não cresce, o bolo fica solado e ninguém, nem mesmo você, sentirá vontade de experimentar.
Escutar é estar disponível interna e externamente. E essa disponibilidade, algumas vezes, é uma construção que leva tempo. Está tudo bem se você disser: "Não quero conversar agora, prefiro fazer isso em outro momento".
Eu, como educadora e psicóloga, tenho muito respeito pelas histórias trazidas durante as atividades que realizo, e entendo que esses momentos só acontecem graças à minha disposição para iniciar processos de escuta.
Escutar não é apenas uma "ferramenta" profissional, mas uma necessidade humana de coexistência. Escutar é uma forma de cuidado coletivo. Escutar é um processo que podemos iniciar a qualquer momento, então porque não agora?
Hoje falamos sobre escuta e durante este mês de setembro, os textos deste blog serão dedicados às reflexões fundamentais para a prevenção do suicídio.
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