Edmo Atique Gabriel

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Opinião

Existe relação entre amamentação e câncer de intestino?

Cientistas da Universidade de Harvard começaram a perceber que pessoas nascidas a partir dos anos 90 teriam um risco para câncer de intestino, na ordem de quatro vezes mais do que pessoas nascidas na década de 50. Em outras palavras, pessoas que, nos dias atuais, teriam uma idade próxima a 30 anos, estariam mais propensas a enfrentar um câncer de intestino, em relação a pessoas que tenham entre 60 a 70 anos.

Essa constatação intrigante poderia estar relacionada a fatores qualitativos do leite materno. As pessoas que foram amamentadas com leite materno na década de 90 poderiam estar sofrendo as consequências das mudanças ambientais e climáticas e também das maiores taxas de obesidade materna.

Esse cenário certamente era diferente na década de 50, quando o estilo de vida das mães era mais tranquilo, com estresse físico e mental menor, com um rotina diária mais focada em atividades domésticas. Os fatores ambientais e climáticos estavam sujeitos a uma influência humana predatória ainda de forma muito incipiente.

Os resultados dessa análise demonstraram que o tempo de amamentação com leite materno foi crucial, ou seja, quanto maior o número de meses que uma pessoa nascida na década de 90 foi alimentada com leite materno, maior o risco de desenvolver câncer de intestino na fase de vida adulta. Pessoas amamentadas com leite materno por mais de quatro meses poderiam ter um incremento no risco de câncer de intestino, na ordem de 15% a 40%.

Dois outros hábitos, mais presentes em mães da década de 90 do que mas mães da década de 50, foram também determinantes para piora da qualidade do leite materno. O tabagismo e o consumo de álcool durante a gestação podem ter acentuado o risco de câncer de intestino em pessoas nascidas na década de 90 e que foram amamentadas com leite materno. As estatísticas são muito claras quanto a maior exposição das mulheres, a partir da década de 90, a fatores de risco como tabagismo, etilismo e consumo de substâncias ilícitas.

Do ponto de vista étnico e racial, ainda existem algumas dúvidas a serem esclarecidas. Os pesquisadores citados estabeleceram esse risco aumentado para câncer de intestino em pessoas nascidas de mães predominantemente de cor branca. Esse é um ponto controverso, pois alguns estudos mais antigos mostraram que filhos de mães negras apresentam taxas de câncer de intestino 20% superiores, inclusive com taxas de mortalidade 40% superior, em comparação aos filhos de mães brancas.

Diante de todas essas considerações, vocês devem estar pensando que amamentar com leite materno seria uma prática eventualmente prejudicial ao bebê e ao futuro adulto. Na realidade, seria totalmente o contrário, pois o leite materno continua sendo um alimento de altíssima relevância para o desenvolvimento saudável de um bebê, para aumentar a imunidade e para formar uma flora bacteriana (bactérias que habitam o nosso intestino) na pessoa adulta, reduzindo as taxas de vários tipos de doenças, como alergias, infecções, doenças cardiovasculares e neurológicas.

Em situações muito específicas, se houver realmente a constatação de uma transmissão de doenças por parte de um materno qualitativamente comprometido, pode-se cogitar o emprego do leite de vaca enriquecido com grandes quantidades de vitaminas. Ainda seria muito precoce e temerário pensar nesse tipo de substituição, de uma forma sistemática e generalizada.

Fica muito claro, portanto, que os hábitos da vida, os fatores ambientais e climáticos, o sobrepeso e alguns vícios, presentes no histórico das mães que amamentaram na década de 90, são os principais gatilhos para pior qualidade do leite materno e para maior risco de câncer de intestino nas pessoas que atualmente estão iniciando a terceira década de vida.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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