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REPORTAGEM

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Me orgulho de posar nua entrando na 3ª idade, diz Luíza Brunet aos quase 59

Pino Gomes
Imagem: Pino Gomes

Colunista do UOL

19/03/2021 04h00

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Na última semana, Luíza Brunet causou alvoroço na mídia ao postar uma belíssima foto nua clicada para comemorar os 50 anos de carreira do fotógrafo Bob Wolfenson em um especial da Elle. Outros famosos também aparecem despidos na mesma edição da revista, mas nenhum causou tanta comoção quanto Luíza. Como escrevi em meu perfil no Instagram (me siga lá também @silviaruizmanga), em pleno 2021 muita gente ainda se incomoda com a imagem de uma mulher sexy, dona de si e, mais ainda, posando nua nessa idade.

"Sim, todas as mulheres podem se sentir amadas e lindas aos 59 anos. Me orgulho de posar nua perto dos 60, entrando na terceira idade", escreveu ela na legenda da foto. Se alguém tinha alguma dúvida sobre a determinação de Luíza para ser uma ativista contra os preconceitos e violência contra a mulher, ficou claro que ela não está para brincadeira. Seu nu também serviu como mais um ato político.

Em um bate-papo via Zoom, entre risos, Luíza me diz que adorou o resultado das fotos e que já passou da idade de se preocupar com o que os outros vão pensar dela. "Eu tô me achando! Tô mesmo! Se tem uma coisa boa que a maturidade traz é você perder o medo. Não dou mais atenção para bobagens", diz. "Nudez sempre foi natural para mim, comecei minha carreira assim muito cedo me despindo para trabalhos de modelo. Por que agora teria que ser um problema?"

O fato é que Luíza é um retrato do quanto o envelhecimento está sendo ressignificado. As mulheres de 60 querem viver bem, plenas, com beleza, saúde, bem distantes do que foram nossas avós e até mães nessa fase. "A gente se cuida mais, tem mais consciência. No passado essa possibilidade não existia." E quais são os segredos de longevidade e beleza dela?

Menopausa e exercícios

"Eu sempre tive um corpo longilíneo e harmonioso quando jovem. Mas tive que fazer uma histerectomia (retirada do útero) aos 47 anos e por isso entrei na menopausa. Esse foi um momento bem delicado, você se olha no espelho e não se reconhece, o corpo muda, o humor também, não foi simples. Mas comecei a fazer reposição hormonal que me ajudou muito, me trouxe um conforto. A partir daí consegui voltar à atividade física, comecei a fazer pilates, que até hoje faço três vezes por semana, além de muita caminhada. A gente tem que cuidar da musculatura, fazer o corpo ficar vivo. Hoje eu peso dez quilos a mais do que no passado, mas gosto do meu corpo, estou muito feliz de ter chegado até aqui assim. Não fico olhando para o passado."

Alimentação caseira

"Há muito tempo eu deixei de comer fora, faço comida em casa. Sempre como tudo o mais natural possível, muitos vegetais e frutas. Duas coisas que como muito pouco são sal e açúcar que são dois venenos para o envelhecimento. A gente se sente muito melhor sem eles."

Beleza

"Eu gosto de me cuidar, de passar cremes, do ritual de autocuidado, de fazer máscaras e jamais durmo de maquiagem. Acho que tive sorte de deixar de tomar sol no rosto cedo e atribuo a isso a boa qualidade da pele hoje. Frequento uma dermatologista que cuida do vitiligo que eu tenho e preciso acompanhar. Faço alguns procedimentos com laser, eu gosto desses aparelhos modernos, mas não faria harmonização facial, não gosto. Fiz um minilifting no rosto aos 48 anos e por mim até faria outro novamente. Não tenho preconceitos com essas coisas, mas tem que ser leve. E também acho lindo mulheres como a Xuxa que optam por viver um envelhecimento natural, assim como a Brigitte Bardot, sendo donas do seu corpo e vivendo com a liberdade de envelhecer como quiserem."

Maturidade e ativismo

"Eu jamais poderia imaginar que na maturidade estaria trabalhando com a minha voz e com o que eu tenho a dizer. A minha vida toda foi através da estética que me expressei e me tornei conhecida e hoje é pelo meu ativismo. Eu tive coragem de me expor e contar sobre minha história com violência doméstica por conta da maturidade, e hoje me orgulho de ajudar outras mulheres a enfrentar esse problema e luto por tantas outras causas femininas. Quando era mais jovem não teria essa coragem. Hoje me sinto útil, me tornei uma pessoa muito mais forte. Estudo muito os temas que venho tratando, nunca aprendi tanto. Estou passando esse período de pandemia bem sozinha e descobri que é muito bom. Quando a gente chega na maturidade tem essa tranquilidade de ficar bem na nossa própria companhia."


Eu bem que tentei me aprofundar nas suas dicas de beleza, mas Luíza termina nosso papo mostrando a capa do livro que está lendo e recomendando sua leitura: "Educar Crianças Feministas - Um Manifesto" da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, que trata do tema da igualdade de gêneros com quinze sugestões de como criar filhos dentro de uma perspectiva feminista.