'Entrou rindo e saiu com lábio roxo', diz pai de mulher morta ao tirar DIU

"O médico dá a vida e não o contrário. Ele tirou a vida da minha filha e vamos buscar justiça."

O desabafo é do aposentado Lino Antônio Vieira, 64, pai de Jéssica Marques Vieira, de 32 anos, que morreu no sábado (4) quando foi fazer a retirada de um DIU (Dispositivo Intrauterino), em uma clínica em Matozinhos, na região metropolitana de Belo Horizonte. A Polícia Civil investiga o caso.

Segundo o aposentado, Jéssica nasceu com um sopro no coração e, por indicação de outros profissionais, passou a fazer acompanhamento cardiológico na Clínica Med, em 2011. A família é da cidade de Pedro Leopoldo, vizinha a Matozinhos.

"Com o passar do tempo, o médico também passou a fazer os procedimentos ginecológicos na Jéssica. Pedia exames e indicou que ela parasse de usar a pílula e colocasse DIU. Como a Jéssica já tem um filho de 9 anos, ela aceitou", conta o pai.

Lino conta que o procedimento para colocar o DIU foi no dia 20 de outubro e, nesse dia, o médico percebeu que havia uma vermelhidão no útero de Jéssica e pediu mais exames.

"Ele disse que poderia ser câncer. A Jéssica ficou muito assustada e fez todos os exames. No dia 1.º, saiu o resultado e deu que não era nada grave. Mesmo assim, o médico pediu para ela retornar ao consultório para retirar o DIU e fazer novos exames", diz o aposentado.

No dia 4 de novembro, Jéssica voltou à clínica, acompanhada do pai e do marido para fazer a retirada do dispositivo intrauterino, mas teria passado mal durante o procedimento.

Ela entrou no consultório 7h05, caminhando e rindo. E saiu de lá às 11h em uma maca, já com lábios roxos. Nesse tempo ninguém nos falou nada. Vimos que algo de errado estava acontecendo, vimos que duas funcionárias entravam e saíam da sala a todo tempo e dispensaram os demais pacientes que tinham atendimento naquele dia. Eu perguntava sobre a minha filha e ninguém parava para falar com a gente.

Ainda segundo o pai, Jéssica foi encaminhada para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento). Ele diz que nem ele e nem o genro foram autorizados a acompanhar a mulher na ambulância e tiveram de ir para a unidade de carro.

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"Eu perguntei para o médico o que havia acontecido com a minha filha e ele não respondeu. Foi quando eu disse: 'Você matou ela'. E ele disse que não, que havia feito manobras de ressuscitação 19 vezes", diz.

Carro do IML

Jéssica Marques Vieira, 32, morreu durante procedimento para retirar DIU
Jéssica Marques Vieira, 32, morreu durante procedimento para retirar DIU Imagem: Arquivo Pessoal

O pai de Jéssica conta que ao chegar à UPA nenhuma informação sobre o estado de saúde da filha foi repassado. E que só soube que a filha havia morrido ao ver o carro do IML (Instituto Médico Legal) chegando.

"Tive a confirmação da morte pelo motorista do rabecão que disse que havia ido fazer a remoção do corpo de uma mulher de nome Jéssica", diz o aposentado.

Após a morte da filha, Lino procurou a Polícia Civil e registrou um boletim de ocorrência de "suspeita de erro médico". A família da mulher afirma que até o momento não recebeu nenhuma explicação do cardiologista sobre o que aconteceu com Jéssica.

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"O meu sentimento maior é que ele fez isso com a minha filha e não nos deu nenhuma explicação. A minha filha não morreu em vão, vamos buscar por justiça", diz ele.

"No atestado de óbito não tem a causa e nem o horário da morte. Estamos aguardando o resultado da perícia", acrescenta o aposentado.

O UOL tenta contato com a Med Center, mas ainda não obteve um posicionamento. O espaço segue aberto para manifestação.

Em nota, a Polícia Civil de Minas Gerais informou que um inquérito para apurar a causa da morte de Jéssica foi instaurado.

"A PCMG instaurou inquérito policial e aguarda a finalização dos laudos periciais que subsidiarão as investigações que apuram as causas e as circunstâncias da morte da mulher, de 32 anos, ocorrida durante um procedimento em uma clínica médica, em Matozinhos. Mais informações serão repassadas após a conclusão do inquérito policial", disse.

Já a Prefeitura de Matozinhos, por meio da Secretaria de Saúde, disse que tomou conhecimento do fato ocorrido na Clínica Med Center, a partir da solicitação de atendimento à UPA 24 h.

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"Como conduta usual, os profissionais da UPA seguiram para a ocorrência constatando, no local, que o fato não poderia ser atendido sem maiores recursos, sendo necessário, portanto, a transferência da paciente para a unidade de urgência e emergência", informou.

Segundo a prefeitura, após os procedimentos de reanimação cardiopulmonar, foi constatada a morte.

"Devido à inespecificidade do caso e desconhecimento dos procedimentos tomados na Clínica Med Center, o médico plantonista da Unidade de Pronto Atendimento de Matozinhos solicitou remoção e avaliação do Instituto Médico Legal."

A prefeitura acrescentou, ainda, que a Clínica Med Center não tem alvará para fazer procedimentos ginecológicos, apenas cardiológicos.

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