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'O amor de Harry e Meghan venceu', diz autora de livro inspirado no casal

De Universa, em São Paulo

23/12/2022 04h00

A autora norte-americana Tracey Livesay levou um "não" quando quis escrever um romance sobre um príncipe branco que se apaixona por uma mulher preta. Até que o casamento do príncipe Harry e Meghan Markle, em 2018, mudou a opinião dos editores — que achavam que ninguém se interessaria pelo assunto — e deu espaço para que ela escrevesse "Dinastia Americana" (Intrínseca), lançado no Brasil em novembro.

Em entrevista exclusiva a Universa, Tracey incentiva quem ama a história do casal real a ler o livro, mas reforça que não é uma ficção baseada na vida deles. "Os personagens são únicos e têm suas próprias histórias". Premiada por romances inter-raciais, a autora ressalta a importância da representatividade na literatura e também na família real.

UNIVERSA: De tudo que você acompanhou e pesquisou, qual história da família real te impactou mais?
Tracey Livesay:
Como muitos americanos, acompanho a família real à distância, porque não é parte da nossa cultura e do nosso dia a dia. Mas as histórias de amor me marcaram. Assistir à princesa Diana, vê-la se casar com o príncipe Charles e se tornar uma princesa... Eu era uma leitora voraz e parte dos livros que lia eram sobre contos de fadas, eram histórias da Disney, então para mim era ver aquilo acontecendo em vida real e me deixava fascinada. Fiquei muito animada quando Harry e Meghan se casaram, não consigo explicar a felicidade e quanto investi naquela história. Ela era alguém como eu, uma americana, com origens semelhantes, que era metade negra. Aquela mulher estava sendo recebida e convidada para fazer parte daquele conto de fadas. Eu não consigo explicar a importância dessa representatividade.

Você se inspirou na Meghan para criar sua protagonista?
Mais ou menos. Se Harry e Meghan não tivessem se casado, esse livro provavelmente não existiria. Há alguns anos, propus a ideia de escrever um romance real com protagonistas inter-raciais: um príncipe branco e uma mulher preta. Na época, me disseram que ninguém se interessaria pela história. Mas o livro não é uma versão ficcional da vida de Meghan e Harry: os personagens são únicos e têm suas próprias histórias.

Tracey Livesay, autora de 'Dinastia Americana' (Intrinseca) - Reprodução/Instagram  - Reprodução/Instagram
Tracey Livesay, autora de 'Dinastia Americana' (Intrinseca)
Imagem: Reprodução/Instagram

Ter uma mulher preta na família real é algo revolucionário?
É incrivelmente revolucionário. Aprendemos, nos últimos anos, que é revolucionário até demais. Quem está acostumado a se ver representado em lugares de poder e privilégio diminui a importância disso. Ter alguém como Meghan naquela esfera, com uma família que representa o Reino Unido e os valores britânicos, diz muito para as pessoas ao redor do mundo.

Você acredita, que assim como aconteceu com Meghan e Harry, o amor vence qualquer barreira?
Sim, com todo meu coração. Essa é a razão pela qual escrevo romances e acho que esse é o melhor gênero literário que existe. Às vezes, o que queremos no começo de uma jornada pode não ser o que precisamos de verdade. Acredito que o amor de Meghan e Harry venceu, sim. Eles podem ter acreditado que amor era seguir como parte da família real, mas no fim, não foi. Eles conseguiram a família que sonhavam e estão mais apaixonados do que nunca.

Acredita que a série "Harry & Meghan" pode ajudar seu livro a vender mais?
Isso seria legal, não vou mentir. [risos] Fui marcada em alguns posts na última semana que diziam: "Terminou os primeiros episódios da série e quer continuar se sentindo na história desse casal? Vá ler 'Dinastia Americana'". E, sim, eu encorajo isso. Quero deixar claro que a série te deixa no clima para ler mais sobre a realeza, mas quero pedir que, depois de alguns capítulos, que você invista na história dos personagens, Dani e Jameson.

Como você lida com o assunto do racismo em seus livros?
É uma parte muito importante das minhas histórias, mas não o roteiro central. Escrevo para um nicho, com romances entre homens brancos e heroínas negras. E faço isso por meu casamento e como leitora de romance, um gênero que amo. Quando comecei a sair com meu marido, queria ver nossa história nos livros, mas era difícil de achar. Não porque as autoras não gostavam, mas porque geralmente a trama era sobre problemas que eles enfrentavam devido à diferença de raça. Queria alguém parecida comigo tendo um romance de verdade, vivendo encontros fofos e problemas comuns no relacionamento, sem o peso da raça.

Você escreve romances inter-raciais e já ganhou um prêmio nessa categoria. Por que, em 2022, histórias de amor entre pessoas de raças diferentes chamam tanto a atenção?
Pela mesma razão que as histórias são importantes pra mim: as representatividade é importante. A premiação destaca os livros que estão mostrando as relações inter-raciais e diz para as leitoras: "Se você está procurando histórias sobre isso, esses são os títulos que são legais segundo as nossas leitoras. Você pode querer lê-los."

Você é formada em direito e trabalhou como advogada criminalista. Por que mudou de carreira?
Sempre quis ser uma autora, mas vim de uma família na qual era importante escolher uma carreira que pudesse me bancar na vida e pagar as contas. Meus pais não entenderiam uma menina preta de 12 anos dizendo que queria ser escritora. O direito foi uma boa escolha de carreira para mim e amava o meu trabalho. Mas quando um dos meus filhos teve um problema de saúde que precisava 100% da minha atenção, me afastei para cuidar dele. Quando estava pronta para retornar, uma voz na minha cabeça disse: "talvez você deva tentar escrever aquilo que ama tanto". Falei com meu marido que queria tentar ser escritora; se não funcionasse eu voltaria para o direito. Mas funcionou e eu nunca mais olhei para trás.

'Dinastia Americana', Tracey Livesay (Intrínseca) - Divulgação - Divulgação
'Dinastia Americana', Tracey Livesay (Intrínseca)
Imagem: Divulgação

O USA Today colocou você em uma lista dos 100 autores negros que as pessoas precisam ler. Na sua opinião, por que o público precisa ler sua história?
Porque eu sou incrível [risos]. Em primeiro lugar, a representatividade dentro do romance é muito importante. Eu escrevo histórias sobre casais inter-raciais que não são focadas nos conflitos de raça e nem em fetiches. Mostro apenas duas pessoas que se apaixonam e que têm cores e culturas diferentes. Fazendo isso, permito que algumas leitoras que talvez não interajam com pessoas de outras raças saibam que, indiferente da cor, somos muito parecidos.

Incomoda você entrar em uma lista de "autores negros" em vez de uma lista de autores, apenas, ou acredita que é importante para a representatividade?
Não me incomoda me chamar de autora preta, porque eu sou. O que me incomoda é que alguém acha que, devido à minha raça, eu seja uma autora pior. Por quem eu sou e minhas experiências, vejo o mundo de outra forma, o mundo me vê de outra forma. Minhas experiências são únicas. Como uma autora preta, eu trago isso para as histórias que eu escrevo e para meus personagens. Para mim é uma descrição. Tenho muito orgulho. Fico feliz em ter "preta" ao lado do meu nome.

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