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Talentosa e 'sem medo': quem era a mulher achada morta com bebê em SP

Sandra Maria de Sousa, 34, foi encontrada morta no domingo (24) após dois dias sem falar com família; namorado mexicano é suspeito - Reprodução/Facebook
Sandra Maria de Sousa, 34, foi encontrada morta no domingo (24) após dois dias sem falar com família; namorado mexicano é suspeito Imagem: Reprodução/Facebook

De Universa, em São Paulo

26/07/2022 12h11Atualizada em 26/07/2022 13h34

Uma cabeleireira talentosa e dedicada aos filhos: foi assim que uma amiga definiu a vida de Sandra Maria de Sousa, 34. Natural do Piauí, ela foi encontrada morta no domingo (24) ao lado da filha de oito meses, em um apartamento do bairro da Sé, no centro de São Paulo. O suspeito principal do assassinato é o namorado dela, de origem mexicana.

A colega, que preferiu manter o anonimato em respeito à família da vítima, contou a Universa que conheceu Sandra em 2013, como cliente, já que a cabeleireira era conhecida pelo talento na colocação de apliques. Na época, ela estava se separando do pai de seus dois filhos mais velhos.

"Ela estava morando no Ipiranga. Nesse tempo, a Sandra estava em um processo de separação. Eu não cheguei a conhecê-lo, só sei que ele era taxista. E depois disso eu comecei a retornar com ela, a cada três meses, e fiquei sabendo que ela entregou a filha pro pai", detalhou a amiga, que é dona de um centro de estética na capital paulista.

Ela conta que, apesar de estar distante da primogênita, Sandra se dedicava para financiar as oportunidades na vida da criança, pagando escola particular para ela e para o filho caçula, de quem, inicialmente, a cabeleireira tinha guarda.

"Segundo o que ela me falou, o menino está com a madrinha de batismo, mas eles convivem, estão juntos sempre. Na separação, a menina ficou com o pai e o menino com a Sandra, mas como ela trabalhava em salão e era uma vida corrida, sempre passando de um para outro, ela achou melhor a madrinha cuidar. E pelo que eu vi do menino algumas vezes, também no salão, ele era muito bem cuidado. Ela sempre teve essa responsabilidade como mãe, talvez não no dia a dia, mas na parte financeira", elogiou.

Vítima era agredida por pai de caçula, diz amiga

O suspeito do assassinato de Sandra era seu atual namorado, um cidadão mexicano. Segundo a Polícia Civil de São Paulo, ele usava um nome falso, além de ter inventado uma história sobre sua origem e passado.

"Sandra acreditava que seu nome era Davi e que ele tinha nacionalidade colombiana", afirmou a delegada, Vanessa Guimarães, da 1ª Delegacia Seccional do Centro, em entrevista a Universa. "A gente recebeu informações da Polícia Federal de que ele responde por tráfico de drogas. Em razão deste crime, e por não ter sido encontrado o registro de entrada dele no Brasil, tinha sido iniciado um processo de extradição dele."

A amiga de Sandra conta que sabia pouco sobre o novo companheiro da vítima, de quem ouviu falar pela primeira vez apenas neste ano. Ao saber da morte da cabeleireira, por uma matéria de televisão, seu primeiro pensamento é de que o crime tinha sido cometido pelo ex da mulher, conhecido por um relacionamento problemático com ela.

"Eu passei um tempo sem vê-la, porque eu tinha tirado meu aplique. Já em 2020 eu estive com a Sandra uma vez, no final do ano. Foi quando essa confusão toda começou. Em novembro de 2020, fui até o salão em que ela estava trabalhando, ali na Praça da Sé, e chegando lá me deparei com ela grávida", conta a empresária.

Sandra passou por relacionamento "conturbado" com colombiano, pai de sua filha  - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Sandra Sousa, de 34 anos, foi deixada morta ao lado da filha de 8 meses
Imagem: Arquivo Pessoal

"Ela tinha conhecido pelas redes sociais um colombiano, chamado Camilo, e eles estavam em um relacionamento, bem conturbado. Ela chegou a perder um filho que estava esperando, com dois meses de gravidez e, segundo ela, houve agressões", relatou.

Apesar da violência descrita por Sandra, a cabeleireira decidiu continuar o relacionamento com o rapaz e, no começo de 2021, ficou grávida de novo. O bebê, uma menina, estava ao seu lado na cena do crime, que teria acontecido na sexta (22).

"Quando eu estive com ela na virada de 2020 para 2021, ela falou que não queria ter mais filhos, mas depois apareceu grávida novamente. Aí eu mandei mensagem pra ela falando: 'Poxa, você não queria ter filho mas agora está grávida'. E ela disse: 'Sim, gosto dele' e tudo mais", lembra a amiga.

Apesar das tentativas de reconciliação, o relacionamento de Sandra com o ex acabou terminando definitivamente pouco após o nascimento do bebê. Mesmo após a separação, os dois teriam continuado discutindo pelas redes sociais, principalmente pela falta de ajuda do pai em relação à filha.

Segundo amiga, Sandra "não tinha medo de ninguém"

Em maio deste ano, ao retornar ao salão em que a vítima trabalhava, a amiga conta que foi pega de surpresa ao saber que Sandra tinha começado um namoro com outro estrangeiro, supostamente colombiano.

"Eu falei pra ela: 'Quem é esse rapaz?'. E ela me respondeu: 'Vamos ver se presta dessa vez'. Eu dei conselho, lembrei que a bebê estava dentro do apartamento dela, perguntei se ela ia se encontrar com ele e ela disse que sim. Ela relatava muita agressão do ex, mas continuava com esse atual. A filha dela, as amigas, as clientes, todas davam muitos conselhos, mas ela era uma pessoa que precisava ter alguém", opina a cliente.

"Ela não tinha medo. Quando ela tinha que falar, ela falava. Se ela tivesse que fazer alguma coisa, ela fazia. Ela não tinha medo de ninguém. Eu tinha marcado com ela para fazermos a manutenção do meu cabelo ontem. Eu telefonei para ela, ela não atendia, e eu, por coincidência, liguei no jornal e vi a foto dela. Me desesperei quando vi, mas ao mesmo tempo eu já pressentia isso, também por esse ex-namorado dela. Todo mundo achou que fosse ele (o responsável)", afirmou.

A amiga também comentou os boatos de uma gravidez de Sandra, descartados após exames do IML (Instituto Médico Legal). Ela comentou que a cabeleireira colocou um DIU de cobre meses antes de ser morta e que, apesar de seu corpo ter apresentado sinais de rejeição com o método, não houve tempo suficiente para que a mulher engravidasse.

A empresária ainda mostrou preocupação pela filha caçula da vítima, com o pai do bebê e a família da mãe manifestando interesse pela guarda. "Hoje o que me preocupa é a filha caçula dela. A luta agora é para cuidar dessa criança. Eu acho que ela precisa descansar, ter paz, e essa criança precisa estar em boas mãos."

Universa tenta desde ontem falar com o suspeito do feminicídio, por seu nome de batismo e pelo nome que ele utilizava para se identificar para Sandra e seus conhecidos. Até o momento, não houve sucesso.

Em caso de violência, denuncie

Ao presenciar um episódio de agressão contra mulheres, ligue para 190 e denuncie.

Casos de violência doméstica são, na maior parte das vezes, cometidos por parceiros ou ex-companheiros das mulheres, mas a Lei Maria da Penha também pode ser aplicada em agressões cometidas por familiares.

Também é possível realizar denúncias pelo número 180 — Central de Atendimento à Mulher — e do Disque 100, que apura violações aos direitos humanos.

Há ainda o aplicativo Direitos Humanos Brasil e através da página da Ouvidoria Nacional de Diretos Humanos (ONDH) do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH). Vítimas de violência doméstica podem fazer a denúncia em até seis meses.