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Ginecologista é preso suspeito de estupro após denúncia de 6 mulheres no CE

Médico foi detido na quinta-feira (7), após uma série de denúncias feitas por mulheres de Hidrolândia (CE) - Redes Sociais/Reprodução
Médico foi detido na quinta-feira (7), após uma série de denúncias feitas por mulheres de Hidrolândia (CE) Imagem: Redes Sociais/Reprodução

Lorena Barros

Do UOL, em São Paulo

15/07/2022 21h43Atualizada em 15/07/2022 21h43

Um médico que atuava como ginecologista na rede municipal de Hidrolândia (CE) foi preso por suspeita de abusar sexualmente de pelo menos seis pacientes durante consultas.

A investigação teve início ainda no mês de maio, quando uma jovem de 18 anos usou as redes sociais para dizer que havia sofrido violência por parte de Ricardo Teles Martins dentro do consultório dele na Unidade Básica de Saúde Cosma Maurício de Sousa.

Segundo Clara Carvalho, 18, quando ainda estava no período de puerpério, ela sofreu com um problema de mastite e foi até o consultório do médico, responsável pelo parto dela semanas antes.

"Ele começou o procedimento normal, depois de um certo tempo, começou a se encostar e chegar mais próximo a mim, tentar me agarrar, me beijar e fazer perguntas eróticas e fora do comum", disse a jovem em publicação nas redes sociais.

Clara contou que o médico chegou a dizer que "estava excitado" por ela e que "pediu que ela não o deixasse daquela forma". Na ocasião, ela saiu do consultório, narrou o caso nas redes sociais e procurou a Delegacia de Santa Quitéria para prestar queixa.

Mesmo sem identificar o médico na sua publicação, a jovem foi procurada por outras pessoas que se disseram vítimas de Ricardo. Ela reproduziu as mensagens enviadas por elas.

"Eu estava fazendo um ultrassom com ele e ele só tentando pegar nas minhas partes íntimas. Não contei para ninguém", disse uma jovem. "Tentaram me fazer acreditar que foi um mal entendido meu, mas agora, vendo seu relato, eu acredito que não", afirmou outra paciente, que alegou ter os seios tocados pelo médico durante um atendimento em uma crise de asma.

Segundo a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará, até hoje, seis mulheres procuraram a polícia para denunciar supostos abusos cometidos pelo médico. Ele foi detido na cidade de Fortaleza na quinta-feira (7).

"O caso, que estava a cargo da Delegacia Municipal de Santa Quitéria, foi concluído e remetido à Justiça. O suspeito, que foi indiciado, encontra-se à disposição da Justiça", afirmou o órgão em nota.

Em posicionamento enviado ao UOL, o advogado do médico, Jorge Mota, afirmou que a defesa só vai se posicionar nos autos porque o processo tramita em segredo de Justiça. Ele se limitou a dizer que "acreditamos na inocência [do médico] e estamos trabalhando para provar a sua inocência".

Em nota, a Prefeitura de Hidrolândia afirmou que o servidor foi "afastado para melhor elucidação e averiguação do fato" após o suposto caso de assédio sexual.

O UOL entrou em contato com o Cremec (Conselho Regional de Medicina do Ceará) em busca de informações sobre a situação da licença médica de Ricardo Teles e se algum procedimento de investigação foi instaurado, mas não recebeu retorno até o momento.

A violência sexual contra a mulher no Brasil

No primeiro semestre de 2020, foram registrados 141 casos de estupro por dia no Brasil. Em todo ano de 2019, o número foi de 181 registros a cada dia, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Em 58% de todos os casos, a vítima tinha até 13 anos de idade, o que também caracteriza estupro de vulnerável, um outro tipo de violência sexual.

Como denunciar violência sexual

Vítimas de violência sexual não precisam registrar boletim de ocorrência para receber atendimento médico e psicológico no sistema público de saúde, mas o exame de corpo de delito só pode ser realizado com o boletim de ocorrência em mãos. O exame pode apontar provas que auxiliem na acusação durante um processo judicial, e podem ser feitos a qualquer tempo depois do crime. Mas por se tratar de provas que podem desaparecer, caso seja feito, recomenda-se que seja o mais próximo possível da data do crime.

Em casos flagrantes de violência sexual, o 190, da Polícia Militar, é o melhor número para ligar e denunciar a agressão. Policiais militares em patrulhamento também podem ser acionados. O Ligue 180 também recebe denúncias, mas não casos em flagrante, de violência doméstica, além de orientar e encaminhar o melhor serviço de acolhimento na cidade da vítima. O serviço também pode ser acionado pelo WhatsApp (61) 99656-5008.

Legalmente, vítimas de estupro podem buscar qualquer hospital com atendimento de ginecologia e obstetrícia para tomar medicação de prevenção de infecção sexualmente transmissível, ter atendimento psicológico e fazer interrupção da gestação legalmente. Na prática, nem todos os hospitais fazem o atendimento. Para aborto, confira neste site as unidades que realmente auxiliam as vítimas de estupro.