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Desigualdade de orgasmos: mulheres gozam menos do que homens. Por quê?

Fingir orgasmo ou querer gozar sempre podem acabar com o seu prazer - iStock Images
Fingir orgasmo ou querer gozar sempre podem acabar com o seu prazer Imagem: iStock Images

Gabriele Oliveira

Colaboração para Universa, de Florianópolis

24/04/2022 04h00

Diferentemente de outros animais, o sexo, para os seres humanos, não tem como fim apenas a reprodução da espécie mas, também, o prazer.
Quando olhamos para dados e pesquisas recentes, porém, percebemos que esse prazer não chega igualmente para todos os grupos sociais. Segundo o documentário "Fundamentos do Prazer", que estreou recentemente na Netflix, homens heterossexuais alcançam orgasmos em 95% de suas relações sexuais. Mulheres lésbicas chegam ao ápice em 86% das transas. Já as mulheres héteros só gozam em 66% das vezes.

Por que as mulheres gozam menos?

Educadora sexual e sexóloga, Mariah Prado, 27, busca entender por que essa lacuna, chamada de desigualdade de orgasmos, acontece. Mariah é criadora da comunidade Share You Sex, hoje com mais de 60 mil seguidores nas redes sociais, exclusiva para mulheres.
Para Mariah, os papéis de gênero absorvidos durante toda nossa criação são um dos pontos responsáveis pela frustração sexual de milhões de mulheres por todo o mundo. "Nós, mulheres, fomos ensinadas de que manter um relacionamento é muito mais importante do que expor o que a gente quer ou gosta. E isso reflete no sexo também", diz.

Mas, em uma sociedade que ainda nega a importância da educação sexual, como esperar que mulheres se conheçam e respeitem os próprios desejos? É justamente por meio de informações corretas sobre seus corpos e sobre o direito de sentir prazer que podemos mudar a situação.
"O caminho para superarmos a desigualdade de orgasmos é investir em uma educação sexual de qualidade para todas as pessoas. E quando falamos em educação sexual, estamos falando na compreensão de papéis de gênero, orientação sexual, prazer, erotismo, intimidade e reprodução."

Para Giovana Machado, sexóloga, fisioterapeuta pélvica e especialista em sexualidade humana, essa resistência a educação sexual ocorre por um histórico que associa termos como "sexo" a promiscuidade, imoralidade, sujeira e pecado.

"Abordar temas necessários e verdadeiros sobre sexo e sexualidade engloba falar de permissão referente aos toques no seu corpo, amor, paixão, relacionamentos, métodos contraceptivos. Envolve falar sobre anatomia, prazer, menstruação, ISTs e gravidez. Tudo isso de forma clara, objetiva, e natural, respeitando a fase de cada indivíduo".

Você está presa em um ciclo de desprazer?

Acostumadas com um sexo focado no pênis, na penetração e no prazer masculino, muitas mulheres se veem em um ciclo de frustração sexual. Mesmo sem estar realmente a fim, acabam aceitando ter relações, nas quais, para evitar conflito, fingem orgasmos. Isso gera frustração e se converte novamente em baixa libido. Quando percebem, estão presas em um ciclo de desprazer.

Compreender como seu corpo reage a certos estímulos, do que você gosta e como gosta é fundamental para alcançar o prazer --e a masturbação é uma ótima forma de começar a explorar o seu corpo, principalmente para mulheres, que foram socializadas para se importar muito mais com o prazer do outro do que o próprio.
O sexo é uma via de mão dupla, envolve dar e receber, sentir e ser sentido. Conversar com seu parceiro ou parceira, seja antes, durante ou depois, é o caminho para uma experiência satisfatória para ambos. Fazer perguntas sobre o que outro gosta abre espaço para que ele também pergunte. Apostar na sinceridade durante a relação é um caminho muito efetivo, pois garante direcionamentos claros sobre o que se deseja.

Para assistir: 'Fundamentos do Prazer', da Netflix

A desigualdade de orgasmos é um dos pontos abordados na série "Fundamentos do Prazer", dividida em três episódios e apresentada pela comediante estadunidense Michelle Buteau, que fala sobre a complexidade do prazer feminino e os mitos antiquados que o cercam.

Em tom bem-humorado, Michelle traz entrevistas com terapeutas sexuais, cientistas e psicólogos abordando questões históricas, psicológicas e sociais que refletem diretamente na forma como fazemos sexo e obtemos (ou não) prazer por meio dele.

Durante toda a série, Michelle conversa com mulheres de diversas idades, origens e culturas, buscando entender como elas sentem prazer, quais os obstáculos que encontram para atingir o orgasmos,e as formas que lidam com o próprio corpo —afinal, antes de pensar na relação com o outro, é preciso conhecer a si mesma.

Além de trazer informações importantes sobre a sexualidade feminina, que costumam serem deturpados pela sociedade no geral —como o mito da virgindade e do "ponto G"—, a série documental promove um espaço seguro para que mulheres falem confortavelmente sobre sexo, da excitação ao orgasmo.