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Russa que mora no Brasil fala sobre xenofobia e o medo de voltar ao país

Valeria Fomina em Moscou, em dezembro de 2021 - Acervo pessoal
Valeria Fomina em Moscou, em dezembro de 2021 Imagem: Acervo pessoal

Rafaela Polo

De Universa, de São Paulo

21/03/2022 04h00

Em meio ao conflito entre Rússia e Ucrânia, todos estão sofrendo: os ucranianos que estão em meio aos ataques de bomba e os russos que não concordam com a decisão do governo Putin de bombardear o país. A russa Valeria Fomina, de 32 anos, mora no Brasil há 8 anos, chama atenção para mais uma questão: a xenofobia. Famosa no TikTok por gravar vídeos explicando a cultura russa, ela conta que os comentários em seus vídeos ganharam tom de cobrança e agressividade por conta da guerra.

"Comecei a receber muitas cobranças há três semanas. Mensagens de ódio dizendo que a Rússia é um país assassino, que os russos têm agressão no DNA, que temos obrigação de sair nas ruas e derrubar o presidente já que fomos nós que o colocamos no poder, que os militares não deviam obedecer às ordens... É muito fácil falar que tem que ir para rua. Mas se a pessoa soubesse que isso a colocaria em risco de prisão, será que ela ia também?", questiona Valeria, em entrevista a Universa.

Valeria Fomina em sua última viagem para Rússia, em 2021 - Acervo pessoal  - Acervo pessoal
Valeria Fomina em sua última viagem para Rússia, no Museu Hermitage em novembro de 2021
Imagem: Acervo pessoal

Valeria afirma que a censura é tanta que até quem fala contra o governo fora do país hoje em dia está em risco. "Meu medo é chegar na Rússia e ser presa. Novas leis foram aprovadas recentemente e a gente não as conhece. Tem cada vez mais restrições. Se você falar contra o governo na Rússia, é passível de multa ou cadeia".

Ela faz vídeos em português em seu TikTok, onde acumula mais de 180 mil seguidores, e se diz receosa. "Não sei o quanto somos vigiados e o quanto pode dar problema. Tem uma blogueira russa que está fora do país criticando o governo e já começaram processos jurídicos contra ela. Se voltar para casa, pode ser presa", conta Valéria.

@umarussanobrasil Povo russo não quer guerra, não espalhem ódio, por favor Link do vídeo completo onde eu explico o que está acontecendo está na BIO. #rússia ? som original - Valeria Fomina

"Sensação de impotência"

Ela costumava visitar a família na Rússia pelo menos uma vez por ano, chegando a passar três meses lá. Mas agora não sabe se será mais possível. Por enquanto segue em contato com a mãe e as irmãs pelas redes sociais.

Segundo elas, as informações que chegam da guerra são bem diferentes das noticiadas pelo resto da imprensa mundial. "Na TV, falam que a Rússia está fazendo uma operação na Ucrânia para liberá-los dos movimentos nazistas. Destacam que a população que fala russo lá sofre, pois não querem que se fale o idioma. Que os militares russos não estão atacando, e sim, levando água, roupa e comida nos lugares que foram libertados do nazismo", conta Valéria.

A influenciadora que é dona de uma escola de idiomas no Rio de Janeiro fala que outros amigos russos que moram no Brasil estão passando pelo mesmo que ela. "Quanto mais exposição esses meus amigos têm, mais recebem mensagens desagradáveis".

Estar longe de seu país, apesar de dar segurança, também causa muita angústia em Valéria. "É uma tristeza muito grande e uma sensação de impotência terrível com tudo o que está acontecendo. A gente não sabe quanto isso vai demorar. Não imaginei que a Rússia fosse realmente atacar", completa.