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Por que este ano pode ser o mais disputado da história do futebol feminino?

Fernanda Palermo deixou o Santos para ir jogar no rival São Paulo - Divulgação/SPFC
Fernanda Palermo deixou o Santos para ir jogar no rival São Paulo Imagem: Divulgação/SPFC

Anita Efraim

Colaboração para Universa

04/02/2022 04h00

Começa hoje, oficialmente, o ano do futebol feminino brasileiro, com a Supercopa Feminina do Brasil. A janela de transferências de jogadoras de um time para outro foi uma das mais —se não a mais— agitada da história da modalidade no país. A movimentação intensa indica que os campeonatos femininos deste ano serão os mais disputados da história do futebol.

Clubes brigaram por atletas, jogadoras voltaram do exterior para o Brasil e outras deixaram o país. Camila Gozzi, consultora de carreira de atletas, afirma que a movimentação do mercado indica que 2022 tende a ser a temporada mais proeminente do futebol feminino brasileiro.

"Esse retorno de atletas representativas para o futebol brasileiro e que estavam fora é um dos indicadores", aponta. O maior exemplo é o retorno de Bia Zaneratto ao Palmeiras. A jogadora passou o primeiro semestre de 2021 no alviverde e, depois, voltou para a China. Agora, retorna em definitivo ao clube.

Camila Gozzi, consultora de carreira de atletas - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Camila Gozzi, consultora de carreira de atletas
Imagem: Arquivo pessoal

Camila pondera que hoje o Brasil é mais capaz de competir com outros mercados, também em relação aos salários. Além disso, há o crescimento da modalidade como um todo, o que faz diferença para as atletas.

O futebol feminino está mais interessante. Tem apreço de telespectadores, de torcida no estádio, tem patrocinadores, tem o apoio de federações e confederações, o que faz toda a diferença. O produto está valorizado. - Camila Gozzi

Em relação ao mercado interno, Camila explica que a disputa dos clubes brasileiros por atletas faz com que o nível das propostas aumente. "Eles acabam tendo que melhorar propostas, seja no âmbito financeiro, de estrutura, ou mesmo apresentar projetos mais fortes."

Na prática, o planejamento dos times foi diferente na janela de 2021 para 2022. Mario Matsumori Jr., responsável pelo agenciamento de atletas, conta que as tratativas começaram ainda em setembro. "Diferentemente de outros anos, quando começávamos a conversar apenas no começo de dezembro."

Por que ficar no Brasil?

Cacau Fernandes foi uma das jogadoras que mudaram de clube nesta temporada. Depois de seis anos e muitos títulos pelo Corinthians, agora ela veste a camisa de um rival, o São Paulo.

Sem a intenção de sair do Brasil, Cacau preferiu ficar e estar perto da família, na cidade onde cresceu. "São muitos desafios. Eu estive seis anos trabalhando em um clube e agora estou mudando para outro, que inclusive é um rival. Tenho que mostrar meu trabalho e conquistar tudo aquilo que já tinha no meu antigo clube", afirma. Ela também se preocupa em conquistar a torcida tricolor.

Sobre o mercado brasileiro em especial, a jogadora afirma que a melhora é evidente. Hoje, não é mais necessário buscar um clube fora do país para estar na seleção brasileira, por exemplo. Fernanda Palermo é um exemplo disso e foi convocada por Pia Sundhage na última terça-feira (1).

Fernanda deixou o Santos também para jogar no rival tricolor. A decisão, garante ela, não foi fácil.

Imagino o quanto a torcida pode ficar chateada, ainda mais se tratando de times rivais. Na carreira, nós adquirimos muito amor por onde passamos, conhecemos pessoas, histórias, criamos uma identidade com o clube. Essas escolhas nos deixam com o coração apertado, mas fazem parte da nossa profissão.

Matsumori destaca que para atletas da série A1 do Brasileirão, hoje é possível ter uma carreira sólida no Brasil, com boa estrutura, bom salário, sem necessidade de pensar em ir para fora do país. "As propostas que chegamos a negociar para algumas atletas aqui no Brasil são maiores do que as oferecidas por clubes da Espanha e de Portugal por exemplo. As boas condições, no entanto, chegam ainda a poucas atletas. Temos um desequilíbrio na modalidade, e isso precisa ser visto com responsabilidade pela indústria do futebol feminino. Evoluímos, mas ainda estamos longe do ideal."

Sair do Brasil: um sonho

Apesar do crescimento do mercado do futebol feminino no Brasil, sair do país ainda é o sonho de diversas atletas. Entre elas, Vic Albuquerque. Depois de anos no Corinthians, a jogadora se transferiu para o Madrid CFF, da Espanha.

"Sempre foi um sonho de criança. Poder atuar em outro país para ter experiência, para conhecer grandes clubes, ser uma atleta de nível mundial", conta. Após seu primeiro jogo pelo novo clube, Vic afirma que o futebol europeu tem um nível técnico acima do brasileiro. E que a parte técnica e criativa das brasileiras é bastante elogiada, mas a questão física e de velocidade ainda é um problema.

O Madrid é um time com outras brasileiras, entre elas, Lauren e Gabi Nunes, o que ajuda na adaptação de Vic ao novo país. No entanto, a vida da jogadora brasileira que vai ao exterior em nada se parece com a dos jogadores, que podem levar a família e até alguns "parças".

"Queria muito poder trazer minha família inteira, mas financeiramente é inviável. Não só para mim como para a maioria das atletas. A gente não vê essa possibilidade ainda. Temos que lidar com a saudades durante toda a temporada."