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ANÁLISE

Generosa, Cris Lôbo abriu espaço para elite feminina do jornalismo político

A jornalista Cristiana Lôbo - Divulgação/TV Globo
A jornalista Cristiana Lôbo Imagem: Divulgação/TV Globo

Mariliz Pereira Jorge

Colaboração para Universa

11/11/2021 16h33

A primeira vez que participei do quadro "Meninas do Jô", uma edição mensal do programa em que o apresentador Jô Soares reunia jornalistas mulheres para comentar o noticiário, Cristiana Lôbo estava lá. Eu tinha quase nenhuma intimidade com as câmeras, estava bastante nervosa pelo ambiente e pelo elenco tão estrelado. Eram algumas das maiores profissionais do jornalismo político do país.

Foi ali que tive um exemplo do que é sororidade, essa palavrinha que está tão na moda, mas é tão pouco usada na prática, ainda mais num ambiente competitivo como esse. Cris me acolheu, disse que acompanhava meu trabalho, me tranquilizou e sugeriu que eu esquecesse as câmeras e fizesse de conta que era só um bate papo. Parece pouco, mas é raro alguém que te pegue na mão assim. E Cris Lôbo fazia isso com todo mundo.

Cris chegou antes de todas nós para trabalhar numa área dominada por homens —não só no Congresso, mas também nas redações. Sua história profissional se confunde com a da redemocratização do país e passa por todos os presidentes eleitos desde então, impeachment, escândalos, corrupção. Mas não é disso que eu quero falar.

Quero contar sobre a colega generosa, que sempre abriu espaço para as gerações seguintes. Por meio de suas conquistas, pela sua habilidade em conseguir informações, ter as fontes certas, pelo respeito e credibilidade que garantiu às mulheres na cobertura de um assunto considerado tão masculino, como a política.

Se hoje, os rostos, os nomes e as vozes femininas dominam o cenário, muito devemos ao que foi feito desde lá de trás pela Cris e algumas outras que foram carpindo esses caminhos, enfrentando preconceito, machismo, assédio e intolerância, presentes até hoje em nosso dia a dia.

Cris ficava de olho nas caras novas, em nomes que se destacavam na cobertura, na análise e na opinião. Muitas jornalistas fizeram sua estreia na TV a convite dela, que comandava na GloboNews, o "Fatos&Versões". Vera Magalhães, apresentadora do "Roda Viva", Julia Duailibi, Natuza Nery e Andrea Sadi, da Globo News, Renata Lo Prete, do "Jornal da Globo", Daniela Lima, da CNN, são alguns exemplos das que deram os primeiros passos na telinha pelas mãos de Cris Lôbo —e hoje são a elite do jornalismo político no país.

Além dos convites para participar de seu programa, Cris mandava mensagens, comentava notícias, elogiava textos. "Brilhe mais e mais", me escreveu há uns três meses. Imagine receber esse tipo de estímulo de alguém que você considera exemplo na profissão. Imagine saber que uma pessoa que é referência te trata como igual, te enaltece nos bons momentos e te acolhe quando os dias de trabalho são pesados.

Cris era assim. Na prática, a melhor demonstração de que as mulheres mesmo em profissões tão competitivas podem caminhar de mãos dadas, crescer juntas, numa rede de afeto e de proteção.

Obrigada por tudo, Cris. Um beijo com muito carinho e admiração