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Vacina contra covid para grávidas: "Decisão chega após mil mortes maternas"

Ministério da Saúde emitiu nota pedindo para grávidas e puérperas entrarem no grupo prioritário de vacinação contra a covid-19 - Getty Images
Ministério da Saúde emitiu nota pedindo para grávidas e puérperas entrarem no grupo prioritário de vacinação contra a covid-19 Imagem: Getty Images

Luiza Souto e Lígia Mesquita

De Universa

27/04/2021 20h57

Após 815 grávidas terem morrido em decorrência da covid-19 no Brasil até o dia 10 de abril, segundo dados do Observatório Obstétrico Brasileiro Covid-19, o Ministério da Saúde decidiu incluir gestantes e puérperas no grupo prioritário de vacinação contra a doença. Até então, a solução encontrada pela pasta hoje comandada por Marcelo Queiroga era pedir que as mulheres adiassem a gravidez. A oferta da primeira dose deve ocorrer até o final de maio.

"Agora o Ministério da Saúde reconhece que todas gestantes são grupo de risco. É um grande avanço para as grávidas e puérperas em geral", diz a Universa a deputada federal Sâmia Bonfim (PSOL-SP), grávida de sete meses. Antes da decisão da pasta, apenas gestantes e puérperas com doenças pré-existentes e outras comorbidades tinham prioridade.

Sâmia, que é coautora ao lado de Talíria Petrone (PSOL-RJ) do projeto de lei que pede a inclusão de grávidas e puérperas no grupo prioritário do Plano Nacional de Imunização contra a covid-19, acredita que a nova orientação do Ministério da Saúde ajudará na votação da proposta no Congresso. "Essa nota só reforça a necessidade da luta do nosso projeto de lei."

A parlamentar ressalta que a nota emitida pelo Ministério da Saúde, mesmo representando um avanço, não garante a prioridade na vacinação às gestantes, já que a nota pode ser revista e a decisão de seguir essa orientação fica a cargo dos governantes de cada município. "Por isso é importante uma lei com regulamentação obrigatória. Vemos a nota como avanço e estimulo para lutar pela aprovação do projeto de lei", afirma a deputada, que publicou recentemente um artigo em Universa pedindo para o governo "salvar as gestantes".

Relatório do Observatório Obstétrico Brasileiro Covid-19 publicado há dez dias mostrou que a média semanal de mortes maternas por covid-19 em 2021 já é mais do que o dobro da média de 2020. Passando de 10,4 óbitos (449 mortes em 43 semanas de pandemia em 2020) para 22,2 nas primeiras semanas deste ano, com 289 mortes.

Talíria Petrone diz a Universa que para garantir a vida das novas gerações é preciso priorizar grávidas, puérperas e lactantes na fila de vacinação. "O cenário no Brasil é trágico, com mortes numa média muito maior do que o mundo inteiro, então é correta, ainda que tardia, a movimentação do Ministério da Saúde para incluir esses setores no plano nacional de imunização como grupos prioritários. E a gente espera também aprovarem o PL que também estabelece uma série de diretrizes e incluir também lactantes nessa nessa prioridade idade".

Melania Amorim, da Rede Feminista de Ginecologistas e Obstetras, também diz que a nova orientação do Ministério da Saúde chega tarde — mas é muito importante.

Mais de 800 mortes maternas comprovadas por covid-19 ocorreram, fora aquelas por SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) de causa indeterminada — certamente em decorrência de covid. Até que fosse tomada essa decisão, mais de mil mortes maternas ocorreram, o que nos coloca à frente de todos os países no mundo em mortes de gestantes por covid-19, afirma a ginecologista

Um estudo do "International Journal of Gynecology and Obstetrics" intitulado "The Tragedy of COVID-19 in Brazil" (A tragédia da covid no Brasil) aponta que a mortalidade de pessoas gestantes e puérperas por covid-19 no país é equivalente a 77% de todas estas mortes no mundo.

Embora alguns estudos mostrem que a gestação e o pós-parto aumentam o risco de complicações e morte por covid-19, no Brasil o alto número de óbitos maternos associados à doença é atribuído, principalmente, à falta de assistência adequada, segundo especialistas.