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Casal morre com diferença de três horas em Caxias do Sul (RS)

Roberto João Frizzo, 80, morreu três horas depois de Maria de Lourdes Frizzo, 78 - Arquivo Pessoal
Roberto João Frizzo, 80, morreu três horas depois de Maria de Lourdes Frizzo, 78 Imagem: Arquivo Pessoal

Hygino Vasconcellos

Colaboração para Universa, em Porto Alegre

15/01/2020 20h00

"Amor não é sentimento, é uma atitude." A frase, entoada por anos na casa da família Frizzo, ganhou mais significado nesta semana. Internada em estado terminal por mal de Alzheimer, Maria de Lourdes Frizzo, 78, e Roberto João Frizzo, 80, morreram com três horas de diferença em Caxias do Sul, na serra gaúcha. Ele estava internado devido a um câncer avançado. Maria morreu às 9h14 de ontem, e o marido às 12h40 — cerca de 40 minutos após saber pela família da morte da amada.

"Um esperou pelo outro", acredita uma das três filhas do casal, a corretora de imóveis Simone Frizzo Salvador, 55. Os dois estavam casados havia 56 anos — em julho de 2013, celebraram as Bodas de Ouro, pelos 50 anos juntos. Os dois eram funcionários públicos aposentados. Além de Simone, deixam as filhas Rossane Frizzo Godoy, 54, e Paula Frizzo, 49, três netas e um neto.

Maria foi diagnosticada com mal de Alzheimer há 20 anos e, segundo a família, estava em estado vegetativo — não reconhecia mais as pessoas nem podia caminhar. Por 15 anos, o marido cuidou dela. Há cinco, a família decidiu interná-la em uma clínica, devido ao desgaste emocional e físico de Beto, como ele era chamado, e pelo estado debilitado de Maria. "Só a deixamos ir para lá quando não tinha mais consciência", diz Simone.

Há dez dias, Beto estava internado após passar por um procedimento na bexiga. Na manhã de ontem, deixou a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e foi para o quarto. Por conta de seu estado de saúde, a família hesitou em contar da morte de Maria. "Ele sempre nos disse para não esconder nada dele. Dizia que tinha força, uma experiência de vida que poderia aguentar muito mais coisa do que as outras pessoas achavam", conta Simone.

Filhas souberam da morte do pai quando organizavam velório da mãe

Acompanhada das duas irmãs, ela deu a notícia. "Ele arregalou os olhos, fez cara de triste e fechou os olhos." Logo depois, elas voltaram para casa para organizar o velório de Maria, e foram avisadas da morte do pai. "A gente começou a gritar, foi uma gritaria aqui em casa. Foi muito triste. A gente não estava preparada para isso", conta a corretora de imóveis.

Apesar da idade, Beto era extremamente ativo. "Ele tinha um espírito jovem. Aos 60 anos, fez o Caminho de Santiago (na Espanha) e no ano passado voou de paraglider na praia. Gostava de fazer trilhas e dava show em mim nas caminhadas", conta Simone.

A música era o xodó da família. Beto cantava e tocava violão, enquanto Maria caprichava no acordeão. Ele chegou a gravar três CDs. Há dois meses, cantou a música "Conversa de Jardim", de Antônio Marcos, em um vídeo entregue à família. O gesto foi considerado por eles como uma despedida de Beto. "Hoje, acabou a primavera aqui. E em cada flor eu vi você partir", diz um trecho da canção.

Os dois estavam casados havia 56 anos e deixam três filhas - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Os dois estavam casados havia 56 anos e deixam três filhas
Imagem: Arquivo Pessoal

Bastante religiosos, os dois eram envolvidos na comunidade católica do bairro São Pelegrino, onde moravam. Atuaram em movimentos da renovação carismática e tinham presença cativa na igreja. Além disso, Maria de Lourdes foi catequista. Em um retiro espiritual conheceram Maria de Lurdes Fontana Grison, 64. "Foram os irmãos mais velhos que todo mundo gostaria de ter perto. Foram 44 anos de muita troca, experiência", conta.

Juntas, as duas Marias somaram esforços para trazer a Cruz Vermelha para Caxias do Sul em 1990. Beto foi o primeiro coordenador e a mulher atuou como vice-presidente.

Segundo a amiga da família, Beto sempre cuidou muito da esposa. "Ele era muito romântico com ela, muito sensível. Era muito perseverante na fé, apesar de todas as dificuldades. A gente sofria com a situação deles e ele nos confortava. Dizia que estavam preparados para a morte."