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"Tenho direito de ficar pelada, o corpo é meu", diz Iza sobre redes sociais

A cantora Iza: sempre a única negra da escola particular - Leo Franco/AgNews
A cantora Iza: sempre a única negra da escola particular Imagem: Leo Franco/AgNews

Carol Martins

Colaboração para Universa

09/11/2019 13h34

Empoderada mesmo antes de se tornar uma das maiores cantoras do Brasil, Iza conversou com exclusividade com Universa sobre liberdade de expressão, racismo entre outros assuntos, na coletiva de imprensa do lançamento de seu novo clipe Evapora, um feat com os artistas internacionais Ciara e Major Lazer, lançado nesta sexta-feira (08), em seu canal oficial no Youtube.

Ter sido criada em um ambiente familiar com pai militar e mãe educadora trouxe a Iza uma consciência do papel que trilha e exerce em uma sociedade machista e racista. "Meu pai sempre foi rígido com educação mas nunca ao meu ir e vir, meu direito de mulher. As mulheres da minha família são incríveis, educadoras. Tive uma criação correta, que é como se deve ser, e sempre deixaram claro que eu poderia ser quem eu quisesse ser", disse ela.

Nascida em classe média e formada em publicidade na Puc, Iza não passou despercebida do racismo em ambientes privilegiados. "As pessoas são vítimas de racismo até quando não percebem. É uma coisa cultural que está até no nosso vocabulário. Por ser uma questão social, nas escolas particulares não existiam pessoas como eu. Eu era sempre a única negra da escola. E quando se é criança isso é cruel. Sofri racismo assim como todas as mulheres negras do Brasil", afirmou.

Ter sido indicada ao Grammy Latino em 2018 e atualmente jurada do The Voice Brasil, da Globo, ao lado de Ivete Sangalo, Lulu Santos e Michel Teló, Iza reconhece que os tempos são outros para ela mas que a luta não mudou. "Com certeza a minha realidade hoje é completamente diferente da maioria das mulheres negras. Por conta da minha visibilidade eu não acho que o racismo diminuiu mas acho que essas pessoas evitam dizer coisas para mim por conta daquilo que eu represento ou que eles sabem que é importante para mim. Eu falaria sobre e não deixaria passar".

Hoje ela é resolvida com sua aparência, mas contou que nem sempre foi assim. Como a maioria das adolescentes, naquela época a cantora sofria com a estética: alisava os cabelos e escondia o corpo. "Eu nem sabia como era o meu cabelo. É meio louco querer alisar ele para sempre. E aos 21, eu quis entendê-lo. Graças a Deus eu nasci nessa geração de meninas que começaram a se descobrir. Meninas cortando o cabelo em casa, fazendo a transição. Isso me encorajou muito", disse. "Não somos obrigadas a nada, mas somos obrigadas a nos amar. E eu fico muito feliz em dizer que eu amo o meu cabelo e não tenho mais amarras".

Nova rainha de bateria da Imperatriz Leopoldinense e com enxurradas de elogios referente ao corpo escultural, até hoje Iza combate a questão de sua silhueta. "Existem até umas discussões quando posto fotos de biquini. Mas é uma vitória para mim porque eu praticamente não tenho fotos assim na adolescência porque eu me sentia muito desconfortável. Sempre tive muita bunda e quadril, minha cintura e seios eram menores porque eu era muito magrinha e eu achava que chamava muita atenção", contou.

"Na real, o corpo da mulher negra sempre foi muito sexualizado e aí a gente carrega esse peso. Quando eu posto fotos vem uma chuva de elogios e tem um ou outro que fala que o meu corpo é estereótipo da mulher negra. E que coisa ficar propagando isso? A mensagem que eu quero passar é que a gente não precisa colocar o peso que colocam nas nossas costas, é você que sexualiza o meu corpo e não eu. Eu tenho todo o direito de ficar pelada, de botar meu peito e minha bunda pra fora porque o corpo é meu e ninguém deveria se incomodar com isso".