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Ex se matou com filho para se vingar dela: "Ele queria levar um pedaço meu"

Erika Kuasne, 36, e o filho Mateus, 9: "Nunca achei que ele seria tão cruel. Era o próprio filho" - Arquivo Pessoal
Erika Kuasne, 36, e o filho Mateus, 9: "Nunca achei que ele seria tão cruel. Era o próprio filho" Imagem: Arquivo Pessoal

Natália Eiras

De Universa

23/09/2019 04h00Atualizada em 23/09/2019 12h00

A vendedora Erika Kuasne, 36, de Londrina (PR), achou que as mensagens que estava recebendo do ex-marido, Marco Antonio Alves, 45, na sexta-feira (13), eram apenas as habituais ameaças e xingamentos que vinha recebendo havia três anos, desde que terminou definitivamente o relacionamento de 12 anos.

"Ele sempre foi violento, possessivo. Estava acostumada a viver no inferno", diz em entrevista para Universa. Porém, dessa vez, Marco foi além: sequestrou o filho que eles tinham juntos, Matheus, de 9 anos, e jogou o carro que dirigia com o menino em frente a uma carreta. "Ele disse que faria com o meu filho o que não tinha conseguido fazer comigo, mas achei que era blefe. Nunca pensei que ele seria tão cruel", desabafa.

Marco Antonio se matou com Mateus na rodovia PR-445, em Londrina, onde Erika e o filho moravam. No dia da morte, ele havia obrigado o menino a entrar em seu carro. "Os vizinhos me contaram que ele foi com o pai obrigado", diz a mãe. Com a criança no carro, Marco Antonio começou a mandar as mensagens para ela. "Ele perguntou se eu achava que ele estava de brincadeira. Disse que eu ia sofrer para o resto da vida, que queria levar um pedaço de mim", conta.

Poucos minutos antes de provocar o acidente em que também morreu, o ex-marido fez um vídeo de Mateus se despedindo de Erika. "Adeus, mamãe", fala o menino com os olhos cheios de lágrimas nas imagens a que a reportagem teve acesso. "Até então, não imaginava que ele pudesse fazer algo com o próprio filho, mas foi depois desse vídeo que vi que a coisa era realmente séria." Antes disso, a vendedora já estava na delegacia, mas a mensagem foi o que a fez entrar em desespero.

Marco Antonio, 45, fez vídeo do filho se despedindo da ex-mulher. "Ele disse que faria com Mateus o que não tinha feito comigo" - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Marco Antonio, 45, fez vídeo do filho se despedindo da ex-mulher. "Ele disse que faria com Mateus o que não tinha feito comigo"
Imagem: Arquivo Pessoal

"Não duvide do que as pessoas podem fazer"

Quando a polícia ficou sabendo que havia acontecido um acidente envolvendo um homem adulto e um menino, Erika ainda estava na delegacia. "Mas eles só me falaram quando tiveram a confirmação de que era o Mateus." Ao receber a notícia, a mãe não pode controlar o que sentia. "Confesso que gritei", fala. Erika acredita que o que fez Marco Antonio ir ao limite foi uma discussão que eles tiveram dois dias antes. "Falei que aquela seria nossa última conversa. Naquele dia, ele me agrediu", afirma.

Desde que perdeu o filho, ela tem dificuldades de ficar em casa. "Tudo me lembra ele. Então tenho que sair de lá", afirma. "Mas vou me reconstruir, vamos nos reerguer", diz, se referindo aos dois filhos mais velhos. Os jovens, de 14 e 18 anos, têm sentido falta do irmão caçula. "Mateus era um anjo desde que nasceu. Ele era o amigão de todo mundo da classe, tinha uma namoradinha. A escola fez até um homenagem para ele."

Marco Antonio já tinha ameaçado Mateus quando o menino tinha dois anos de idade. "Ele me agrediu e estava me asfixiando no sofá de casa quando os vizinhos conseguiram tirá-lo de cima de mim. Na época, ele disse que, como não podia fazer nada comigo, ia fazer com o filho", diz. Na época, o ex-marido de Erika ficou 15 dias preso. "Mas, sabe como é, a gente tenta tapar o sol com a peneira, achei que ele iria mudar."

Mesmo com a relação conturbada dos pais, Mateus gostava muito do pai. "Por isso não conseguia se afastar. Se meu filho não visse o pai, ficava doente, e o Marco Antonio usava isso para me atacar", fala a vendedora. Porém, com a intensidade das brigas, o menino de 9 anos começou a perceber que algo não estava certo. "Um dia ele me abraçou e disse que estava com medo do pai pelo modo com que ele falava comigo. Ele pediu que eu cuidasse dele e que ele também cuidaria de mim."

Erika aconselha que outras mães que também estejam em relacionamentos violentos ouçam seus filhos. "Coloca aí na sua matéria para que as mães fiquem alertas para esse tipo de ameaça, mesmo sendo um pai, uma pessoa muito próxima. Coloque a boca no mundo", diz. "A gente nunca conhece 100% uma pessoa, não sabe até onde vai a crueldade do ser humano. Fico me perguntando: e se eu tivesse escutado meu filho?"