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Criadora do app Mete a Colher fala sobre o projeto que salva mulheres

Renata Albertin, cofundadora do app Mete a Colher - Divulgação
Renata Albertin, cofundadora do app Mete a Colher Imagem: Divulgação

Carolina Prado e Simone Cunha

Colaboração para Universa

10/03/2019 04h00

Por meio de um financiamento coletivo que arrecadou R$ 47 mil, em 45 dias, o app Mete a Colher foi lançado em julho de 2017, com o propósito de conectar mulheres que precisam de apoio para enfrentar um relacionamento abusivo e romper o ciclo de violência doméstica. A jornalista e co-fundadora da startup, Renata Albertim, 31 anos, diz que o valor arrecadado ajudou a viabilizar a ideia que havia nascido em março de 2016, durante o Startup Weekend, realizado em Recife (PE).

"O evento teve uma versão para mulheres, com a proposta de pensar em tecnologia e inovação voltadas a projetos femininos. Daí, surgiu a ideia de criar uma plataforma focada na questão da violência doméstica, pois sabíamos de casos em grupos de whatsapp em que a mulher pedia socorro e ninguém sabia como ajudar", conta. 

Segundo Renata, nesse primeiro momento, a startup recebeu doação de pessoas comuns. A verba foi usada para pagar uma empresa capaz de desenvolver, de forma rápida e eficiente, o app. A primeira versão, apenas para Android, conseguiu reunir 14 mil usuárias, em um ano e meio, contabilizando dois mil pedidos de ajuda. "A movimentação das próprias usuárias foi servindo de base para os ajustes de layout e do fluxo de interação", afirma.

O app é destinado apenas às mulheres, conectando usuárias que oferecem e recebem ajuda, como apoio psicológico, orientação jurídica ou inserção no mercado de trabalho. Um de seus principais objetivos é desmistificar o velho ditado que diz que "em briga de marido e mulher ninguém mete a colher", mostrando que é importante denunciar. 

Uma nova versão em 2019

Todo o projeto foi iniciado por um grupo de nove mulheres de Recife e, atualmente, apenas duas continuam na gestão da plataforma. A nova equipe conta com seis mulheres que trabalham na incubadora Porto Digital. E, em fevereiro deste ano, uma nova versão do app foi lançada, para ser baixada no sistema Android e iOS.

"No primeiro mês, tivemos o cadastro de 900 usuárias e mais de 150 pedidos de ajuda, sendo que todos foram respondidos", informa Renata. O app tem usuárias em todo o Brasil, mas a maioria está localizada em São Paulo, Recife, Rio de Janeiro e Fortaleza. 

Ela ressalta que qualquer ocorrência negativa, dentro do app, pode ser reportada, para que o caso seja analisado e, se necessário, a usuária seja notificada ou retirada da rede.

O novo app Mete a Colher também está mais intuitivo e Renata conta que, para chegar ao produto final, muitos testes foram realizados. "Fizemos pesquisas com usuárias que testaram e apontaram suas percepções em cada passo realizado. Isso foi essencial para os ajustes da plataforma", explica.

Nesse segundo momento, a equipe contou com o apoio financeiro de grandes empresas, como Instituto Avon, Magazine Luiza e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). "Apresentamos um projeto ao Instituto Avon, que foi aprovado. Assim, conseguimos R$ 81 mil.

Também aprovamos editais junto ao CNPq, que possibilitou o recebimento de quatro bolsas no valor R$ 1.100 cada, além de uma doação de R$ 54 mil do Magazine Luzia, devido a uma campanha realizada no Dia Internacional da Mulher, em 2018", conta. A somatória de valores possibilitou o desenvolvimento do novo layout e a manutenção da startup e da equipe dedicada, pelo período de um ano, até julho de 2019.  

Em busca de expansão

O app Mete a Colher é gratuito, por isso, o desafio é criar plataformas que possam monetizar a startup, ajudando-a a manter-se financeiramente. Pensando nisso, a equipe de Renata deve lançar uma nova solução voltada às empresas, com o objetivo de criar condições para que as funcionárias recebam apoio para combater a violência doméstica.

"Assim como o novo layout do app Mete a Colher, o desenvolvimento será realizado pela nossa equipe, que está profissionalizada para realizar um trabalho bastante assertivo. O desenvolvimento deve começar ainda este mês e a previsão é que o lançamento seja feito no segundo semestre de 2019", diz. 

De acordo com Renata, a maior dificuldade de manter a startup é financeira. Ela faz questão de manter uma equipe feminina à frente do projeto, mas ainda não consegue garantir um salário compatível com o mercado, o que faz com que muitas profissionais que atuam na área de desenvolvimento busquem empresas mais sólidas. "Não é fácil manter a empresa e ainda tratar um tema polêmico como esse", afirma. 

Ainda em 2019, a equipe quer conectar empresas para oferecer vagas de trabalho exclusivas às usuárias, além de treinar voluntárias para oferecer uma ajuda de melhor qualidade às vítimas. "O app Mete a Colher continuará ajudando muitas mulheres no Brasil inteiro, para acabar com a violência doméstica perpetrada pelos companheiros e parceiros", finaliza Renata.