Topo

Ex-atriz do "Castelo Rá-Tim-Bum" largou carreira para faturar R$ 3 milhões

Com apenas 12 mil reais, Dilma abriu sua empresa de marketing promocional e eventos Outra Praia - Mariana Neaime/Arquivo pessoal
Com apenas 12 mil reais, Dilma abriu sua empresa de marketing promocional e eventos Outra Praia Imagem: Mariana Neaime/Arquivo pessoal

Léo Marques

Colaboração para Universa

12/06/2018 04h00

Quem assistia Castelo Rá-tim-bum, produzido pela TV Cultura entre 1994 e 1997, deve se lembrar das Patativas, que habitavam o ninho do joão-de-barro no galho da árvore da cobra Celeste. Passarinhos encantavam os visitantes do castelo com seu lindo canto. Um deles era de Dilma Campos, que, na época, conciliava as rotinas de gravação à noite com o trabalho numa agência de eventos durante o dia, tudo isso para pagar seus estudos da faculdade de odontologia.

Veja também:

Negra, mulher e artista, Dilma nunca se acomodou ou se deixou vencer pelo preconceito, conta. Seu trabalho com eventos fez com que ela se envolvesse cada vez mais com a área, até que, em 2013, ela resolveu abrir a Outra Praia, empresa de marketing promocional e eventos, que faturou mais de R$ 3 milhões em 2017.

Dos palcos para CEO da própria empresa

Bailarina desde criança, Dilma, que vem de família humilde, viu na dança a oportunidade de ter um estudo de qualidade. Foi através da modalidade que ela conseguiu uma bolsa para estudar em escola particular. Mas um problema no joelho a obrigou a abandonar a carreira. Na época, ela conciliava a dança com o trabalho em uma grande empresa de eventos, participando de convenções de vendas e aberturas de shows. "Aquele ambiente começou a me fascinar. A partir dai, passei a me envolver na organização", conta Dilma.

No fim das contas, a profissão de dentista ficou em segundo plano. "Após o final da minha formação, recebi uma ótima proposta para trabalhar em uma empresa de eventos e acabei deixando a odontologia e mergulhando no mercado de marketing", lembra.

Foi a partir dessa experiência, das apresentações que fazia em eventos corporativos, que ela começou a aprender sobre os bastidores da construção de marca, estratégias de marketing e organização de eventos. Chegou, então, ao cargo de direção em uma grande empresa. "Não tinha mais para onde crescer e, como diretora de produção, tinha alcançado o lugar máximo".

Patativa - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Dilma Campos (à esquerda) era uma das Patativas do programa "Castelo Rá-Tim-Bum"
Imagem: Arquivo pessoal

A vontade de ter um negócio próprio veio depois que ela teve filho. Foi, então, que aos 39 anos resolveu abrir a Outra Praia, que, inicialmente, se dedicava apenas a projetos culturais. Paralelo à empresa, ela comandou, ao lado de dois sócios, uma outra companhia, chamada D'Magrella, especializada em produção de eventos. Pouco tempo depois, ela resolveu seguir carreira solo e se dedicar inteiramente à empresa que fundou sozinha. "Neste momento, resolvi seguir em frente e unir o todo da minha vida: live marketing, evento e cultura", diz.

"Pensei em desistir muitas vezes"

Um dos primeiros obstáculos foi obter financiamento. Ela precisava de computador e de toda uma infraestrutura para trabalhar. Mas, quando Dilma foi aos bancos para saber se existia uma linha de crédito para isso, recebeu uma resposta negativa. "As mulheres têm mais dificuldade para conseguir crédito, principalmente quando são negras", relata.

Mas ela não desistiu. Foi nesse momento que a mesa da sala de jantar virou escritório. Com quatro colaboradores (hoje, são oito) ela deu início ao negócio com um investimento de R$ 12 mil. Sua sorte foi um evento que havia acabado de fechar e que adiantou 30% do pagamento. "A atmosfera era uma completa mistura entre o ritmo da casa e o ritmo da empresa, que andava em outra velocidade. Na verdade, confesso que não sabia aonde podíamos ir. Não tinha acesso a empréstimos e precisava ir para um escritório. Como fazer sem dinheiro e sem garantias? Só tinha uma saída: fazer dinheiro com trabalho. E foi isso que fiz", lembra, orgulhosa.

As dificuldades não pararam por aí. Ela conta que já enfrentou várias situações de discriminação. "Certa vez cheguei para uma reunião com um cliente e a secretária dele me disse: como assim ele vai receber você?", conta e complementa. "Pensei em desistir muitas vezes, em momentos em que duvidei do meu potencial e que minha autoestima ficou muito baixa. Foram inúmeras as dificuldades, principalmente durante os primeiros anos onde eu não fazia parte de nenhum programa de empreendedorismo feminino".

Esforço recompensado

Mas persistência, resiliência e fé mantiveram Dilma de pé e sua empresa prosperou desde então. Já passaram pela agência clientes como Viacom, Souza Cruz, SulAmérica Saúde, Kroton Educacional, Globosat, Editora Globo, Ferrero Rocher, Accor, OLX e muitos outros.

A grande virada da Outra Praia ocorreu quando ela ganhou, em 2016, o prêmio Winning Woman, oferecido pela Ernst Young (EY) -uma das 10 maiores empresas de serviços profissionais do mundo. O programa conecta empreendedoras notáveis com um time de conselheiros de alta performance, responsáveis por impulsionar suas competências por meio de uma mentoria executiva.

"Foi nesse período que redirecionamos a empresa no sentido de ser uma boutique de criatividade estratégica na área de comunicação, eventos e marketing promocional, oferecendo aos clientes ideias inovadoras, projetos criativos e um novo olhar para as campanhas", diz.

Google - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Dilma é uma das palestrantes do programa "Women Will – Cresça com o Google", que tem como objetivo empoderar mulheres empreendedoras
Imagem: Arquivo pessoal

Em breve, a empresa lançará um produto com a americana Allison Manswell, especialista em "viés inconsciente", e que compôs a equipe de treinamento do Café Starbucks, nos Estados Unidos, após o comportamento racista de um funcionário. "A Outra Praia vai oferecer um workshop para eliminar o viés inconsciente em cinco passos, para empresas corporativas, principalmente para aquelas que estão alinhadas com a diversidade", adianta.

Além de todos os projetos em que a empresa está envolvida, Dilma faz parte da Rede Mulher Empreendedora (RME) como influenciadora e mentora, e também é palestrante do programa Women Will - Cresça com o Google, que tem como objetivo empoderar mulheres donas dos seus próprios negócios.

"Hoje, concilio as rotinas de mãe, CEO, presidente do Conselho de Relações Humanas da AMPRO (associação de marketing promocional) e palestrante. Tem semanas que fica uma loucura, mas no final o resultado da jornada empreendedora e do meu propósito de vida me faz muito feliz", conclui.