Pelo direito de não usar só calcinha bege: mulheres acima dos 50 desabafam
Louca por lingerie desde sempre, a administradora de empresas Eliana Fontana, 56 anos, diz que comprar as peças sexies que tanto gosta virou um exercício de paciência à medida que foi ficando mais velha.
“Em uma das minhas compras mais recentes, quase perdi a cabeça com a vendedora. Fui comprar um conjunto de calcinha e sutiã e pedi para ver modelos mais especiais. Expliquei que era para mim. Primeiro, a moça trouxe peças lisas sem nem renda, calcinhas grandes. Em branco, em bege... O máximo que consegui tirar dela foi um conjunto preto. Insisti, perguntando se não tinha algo mais sexy. Ela ficou me olhando com uma cara de ‘para você, não’ e trouxe peças que a minha mãe usaria”, conta Eliana, que saiu da loja com as mãos abanando.
A administradora fala que sente no tratamento uma estranheza sobre o interesse da mulher a partir de uma certa idade em parecer sensual. “É como se a gente não tivesse mais direito a uma vida sexual”, fala Eliana, que está em seu segundo casamento.
Falta representatividade na publicidade
A queixa de Eliana encontra explicação na falta de representatividade de mulheres maduras nos sites das principais marcas de lingerie brasileiras, que usam, majoritariamente, modelos na faixa dos 20 aos 30 anos.
Iniciativa como a da grife neozelandesa Lonely ainda não tem eco por aqui. A marca colocou, em uma das suas recentes campanhas, uma modelo de 56 anos –com sua cabeleira grisalha-- para mostrar suas peças sexies, cheias de rendas e recortes, junto a outras mulheres mais jovens.
A publicitária Christiane Sperandeo, 54, também sente no provador o mesmo drama de Eliana. “Parece que as mulheres mais velhas só precisam de lingerie confortável. Pensam na minha mãe, não em mim. Quando vou a uma loja e peço um body, por exemplo, em vez de um modelo rendado, a vendedora vem com aqueles de compressão.”
Quem é a mulher de 50 hoje em dia?
Christiane diz acreditar que esse comportamento também tem a ver com uma visão ultrapassada da mulher com mais de 50 que ainda persiste. “Mudamos muito nos últimos tempos. Casamos, separamos, voltamos a namorar. Também usamos a lingerie como recurso para apimentar nossas relações”, fala ela, que foi casada por 20 anos e há quatro namora.
A também publicitária Alexa Miranda, 52, diz que, além de lidar com o preconceito e o consequente despreparo das vendedoras, a consumidora de lingerie com mais de 50 encontra dificuldades de encontrar modelagens que lhe favoreçam.
“Não quero vestir só branco, bege e preto, mas também não quero usar fio dental micro. Meu sonho era vestir uma lingerie que me fizesse sentir sexy, mas que fosse desenvolvida para o meu corpo, que não é mais o dos 20 anos.”
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