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Crise reforça mercado 'consciente' de roupas usadas. Aprenda a vender bem

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Marcos Candido

Do UOL, em São Paulo

30/08/2017 04h00

A universitária Leticia Gadelha, 22, sempre curtiu garimpar peças exclusivas em brechós. Há dois anos, ela decidiu abrir uma conta no Instagram para vender suas roupas na internet e se conectar com quem também tenta fugir das tendências em lojas de departamento. E ela não está nem um pouco sozinha nessa.

Além de anônimos, blogueiras como Gabriela Pugliesi e atrizes como Julia Faria também aproveitam para vender peças em brechós virtuais. Há, ainda, programas de televisão sobre consumo consciente como o “Desengaveta”, apresentado por Fernanda Paes Leme no canal fechado GNT -- que termina com uma loja temporária online, com as peças "desapegadas" pelas famosas.

Somente na plataforma OLX, as vendas de itens de moda e beleza aumentaram 47,8% no primeiro semestre em comparação ao mesmo período do ano passado -- o dobro das vendas gerais do site. Isso significa que mais de 1,3 milhão de produtos foram vendidos -- um total de mais de R$ 100 milhões. No Enjoei, houve 150 mil transações -- 50% a mais que no primeiro semestre de 2016. Sem contar o aumento de negociações informais, feitas por meio de grupos de Facebook e contas de Instagram.

Mas… E a crise? Uma nova lógica de consumo explica

Recorrer a produtos de segunda mão, mais baratos, é esperado em tempos de crise econômica e redução no poder de compra. Não à toa, para emplacar as vendas, a peça mais cara vendida por Letícia custa módicos R$ 100, mesmo sendo de marca. Mas por trás dessa alta também vem à tona uma nova lógica de compra e venda: o consumo consciente.

Segundo definição do Ministério do Meio Ambiente, o consumo consciente consiste em repensar, reduzir e reciclar o que consumimos e diminuir os impactos sociais e ambientais de tudo que compramos de forma acelerada. Sabe aquela blusinha parada lá no armário? Ela não precisa ir para a lixeira. Você pode repassá-la e diminuir a quantidade de resíduos. Para que comprar um monte de roupas se você só usa as mesmas duas ou três? “Nosso sistema econômico é muito triste e massivo. Há milhares de pessoas morrendo ou vivendo em condições de trabalho medíocres para que a peça saia por um preço baixo em alguma fast fashion. Ninguém precisa alimentar esse consumo desenfreado”, opina Letícia.

Instagram Moda - Reprodu??o/Instagram - Reprodu??o/Instagram
A estudante Leticia vende roupas usadas na pagina do Instagram @massapebazar; peça mais cara saiu por R$ 100; preços costumam ficar entre R$ 20 a R$ 40
Imagem: Reprodu??o/Instagram

Vendedores e compradores mais conscientes

A empresária Evelise Biviatello, 30, do site Trocaria, acredita que a crise empurrou o brasileiro a agir como consumidores de outros países, especialmente europeus, que pregam a redução, a reutilização e o compartilhamento daquilo que compramos. "O brasileiro é social, com senso de comunidade por natureza e, embora ainda exista certa resistência ao consumo de roupas de segunda mão, aos poucos esse paradigma é quebrado. O consumo consciente acaba sendo uma opção mais responsável”, diz. Em seu brechó virtual, o número de cadastros tem dobrado mês a mês desde janeiro, quando entrou oficialmente no ar.

Para Marcos Leite, 33, vice-presidente da OLX Brasil, o consumo consciente é uma abertura para ganhar dinheiro extra, mas também uma demonstração de uma vida menos acumuladora e que dá mais importância às experiências vividas por cada roupa do que pela posse em si. “Essa atitude, para a economia brasileira como um todo, é muito relevante”, diz.

Ludmilla Brait, 36, gerente de projetos especiais do Enjoei, concorda. “É um negócio que movimenta dinheiro real para as pessoas, que cria negócios. Mas que também repassa uma nova consciência, mais responsável, de como consumimos”.

Como vender bem na internet

  1. Faça boas fotos

    Não adianta tentar vender aquela peça sem ter boas fotos. Fotografe com câmeras com alta resolução e busque iluminação para ressaltar aspectos como estampas, se for o caso, e costuras. Usar uma modelo para mostrar o caimento no corpo pode ser uma boa, ou opte por fundo neutro, que destaque as cores e o modelito.

  2. Seja objetivo
    Coloque todos os detalhes possíveis da peça a ser vendida. Informe o tamanho, a origem, a marca, o tempo de uso e se é preciso fazer algum ajuste. Use a descrição para destacar o preço e as formas de entrega. Descreva a história por trás da peça. Por exemplo, pode ser uma boa informar se o vestido foi usado em algum momento especial, como formatura ou casamento.
     
  3. Não cobre muito
    As pessoas podem descobrir quanto custa um original de fábrica com uma simples consulta ao Google. Estipule um preço abaixo do adquirido em loja e leve em consideração detalhes como o valor original, tempo de uso, defeitos e objetivos para o dinheiro conquistado, para não sair no prejuízo.
     
  4. Ter estilo próprio pode ser bem legal
    Monte uma lojinha com peças semelhantes. O estilo pessoal pode atrair uma clientela específica que sempre retorna. Descreva sua loja e o que você acredita. Detalhes da vida pessoal, como idade, cidade onde vive e entrega também podem ser uma boa.