5 anos de idade e cruel: a maldade aparece cedo, mas tem solução
Choro fácil, tendência ao isolamento, falta de interesse pela escola. Todos esses sinais podem estar relacionados à convivência com um colega que impõe sofrimento à criança. Foram esses os comportamentos que a advogada Luciana Silvestre, 35, percebeu na filha Maria Alice, na época com seis anos.
“Ela demorou um tempo para me contar o que a incomodava, mas eu insisti”, conta. Com paciência e tato, Luciana descobriu que a filha estava sendo humilhada pelos colegas e, por isso, relutava em voltar à escola. “Minha filha tem TDAH e, por orientação médica, precisa usar um fone para fazer as provas. É o pretexto para ser chamada ofendida por vários colegas”.
É maldade?
Entre cinco e seis anos as crianças se tornam capazes de, propositalmente, causar danos físicos ou emocionais a outras. “Nesse estágio, esse tipo de comportamento já pode ser considerado maldoso, pois é a fase em que as crianças compreendem os próprios estados emocionais e entendem o que é certo e errado. Também é nessa idade que as áreas cerebrais ligadas ao controle da impulsividade se desenvolvem”, explica a neuropsicóloga Stephanie Maurano, mestre em Ciências da Saúde pela UFG (Universidade Federal de Goiás).
Como lidar?
A conduta maldosa na criança pode estar ligada a questões genéticas, ambientais ou até mesmo a alterações neurológicas. O Transtorno de Conduta, por exemplo, é um problema que pode acometer crianças e adolescentes e que se caracteriza pela absoluta dificuldade de se colocar no lugar do outro e de avaliar o nível de sofrimento dele.
Seja qual for a causa, para enfrentar a situação de forma positiva, é preciso, em primeiro lugar, entenda que a criança maldosa é mais uma vítima das circunstâncias, resistindo à vontade de ameaçar e punir. Em boa parte dos casos, quando os pais da criança ficam a par do comportamento do filho e conseguem dar a ele um suporte e uma orientação adequados, as mudanças ocorrem rapidamente.
Adultos resolvem
É importante relatar na escola, ou aos pais da criança, os problemas que estão ocorrendo com seu filho, caso ele esteja sendo vítima de algum tipo de perseguição. Mas com cuidado.
“Famílias de crianças com transtornos de comportamento recebem inúmeras queixas e, na maioria das vezes, sentem-se culpadas e impotentes. Por isso, o diálogo deve ser uma oportunidade de compreender o caso e buscar alternativas para solucioná-lo. A conversa não deve ter o intuito de recriminar ou acusar os pais ou a criança”, explica a psicóloga Janaína Aparecida de Oliveira Augusto, especializada em Neuropsicologia aplicada à neurologia infantil pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Foi isso que Luciana fez. “Acionei a escola e o grupo de mães no WhatsApp. Falei sobre como minha filha se sentia, sem acusar ninguém. E todas se sensibilizaram”, diz.
A administradora de empresas Darlene Burgo, 46, preferiu utilizar apenas a escola como mediadora dos conflitos entre o filho, Raví, de 7, e um outro colega de classe. “O garoto perseguia o meu filho só porque ele tinha cabelo comprido. Chegou até a agredi-lo fisicamente”, conta.
O colégio tomou providências: conversou com os pais do garoto, com o aluno e aproveitou para tratar o tema de forma mais ampla, envolvendo todas as crianças em um trabalho de conscientização a respeito do bullying.
Filho precisa saber se defender
O primeiro passo é estimulá-lo a se expressar, a se abrir com a família sempre, mas principalmente quando estiver em uma situação difícil, diz a pedagoga Luciana Brites, especializada em Educação Especial.
O segundo passo é alertar a criança que aquele tipo de comportamento do colega não é normal ou aceitável. “Eu trabalhei bastante com o meu filho a questão de que ele podia usar o cabelo como quisesse, que o amigo é quem precisava aprender a respeitar as diferenças”, diz Darlene.
Também é crucial estimular a criança a se posicionar em vez de você tomar a frente sempre que acontece um conflito. “Brigas entre crianças são comuns e necessárias. Os pais precisam intervir de forma mais objetiva quando elas começam a impor riscos emocionais ou físicos a seus filhos”, afirma a pedagoga.
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