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Por que o beijo gay da Disney não fará alguém aprender a ser homossexual

Adriana Nogueira

Do UOL

03/03/2017 16h30

O pastor Silas Malafaia resolveu convocar um boicote a Disney pelo Twitter, em função da exibição de um beijo gay no desenho "Star vs. as Forças do Mal", exibido pelo Disney Channel, nos Estados Unidos. Para entender tamanha indignação, o UOL foi conversar com a antropóloga Mirian Goldenberg, professora titular na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), e a psicóloga hospitalar Sabrina Gonzalez. As duas assistiram ao trecho da animação, alvo da crítica de Malafaia.

O desenho é sobre diversidade, não beijo gay

O tal beijo faz parte de um número musical chamado “Apenas Amigos” e aparece em meio a vários outros beijos. “Nem aparece em destaque. São diferentes casais se beijando, e o primeiro beijo mostrado é entre uma menina negra e um menino branco. Mais do que o beijo entre os dois homens, é entre um velho e um jovem. O que se vê ali são as diferenças que existem no mundo e que não podem ser negadas”, fala Mirian.

Não se aprende a ser homossexual nem hétero

Malafaia afirma que “a Disney fez a escolha de ensinar homossexualismo para as crianças”. O uso do termo terminado com “ismo” (homossexualismo) é inadequado. Um dos significados dessa terminologia é doença e, em 1990, a OMS (Organização Mundial da Saúde) excluiu a condição da lista de distúrbios mentais. É um erro, também, considerar que uma pessoa aprende a ser hétero ou gay. Se isso fizesse sentido, como os homossexuais que cresceram vendo Cinderela e o Príncipe se beijarem não se tornaram heterossexuais?

Para criança, beijo não é erótico

O pastor acusa a Disney de erotizar a criança mostrando beijos. Para Sabrina Gonzalez, nada mais longe da percepção infantil. “A criança não liga beijo ao sexo. É uma demonstração de carinho, de amor.”

Onde está a militância?

Para Mirian, ao querer polemizar sobre o beijo entre dois homens mostrado rapidamente na animação, é o pastor quem faz militância a favor do preconceito e da intolerância. “Ele demonstra uma violência verbal tão grande que pode incitar até a violência física contra os que são diferentes dele”, diz a antropóloga.