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"De mulher para mulher": tatuadoras feministas se unem em estúdio em SP

Chislu, Ingryd, Sam e Julia formam, junto com Jéssica, o staff de tatuadoras do Sampa Tattoo, que procura criar um estúdio focado no público feminino - Lucas Lima/UOL
Chislu, Ingryd, Sam e Julia formam, junto com Jéssica, o staff de tatuadoras do Sampa Tattoo, que procura criar um estúdio focado no público feminino Imagem: Lucas Lima/UOL

Natália Eiras

Do UOL, em São Paulo

24/11/2015 11h40

Fazer uma tatuagem é um ritual: a pessoa escolhe uma imagem, passa algumas horas sentindo dor e, no fim, tem uma obra de arte que ficará na sua pele permanentemente. O desenho, porém, não é a única coisa que fica marcada para sempre, já que a experiência toda acaba fixa na memória. Por isso, é importante que o cliente se sinta à vontade tanto com o artista que empunha a maquininha como com o estabelecimento em geral.

Foi sob esta perspectiva que cinco jovens tatuadoras com estilos completamente diferentes se uniram em um estúdio na cidade de São Paulo para criar um ambiente mais convidativo para um público que, até há algum tempo, poderia se sentir deslocado no mundo dos rabiscos pelo corpo: as mulheres.

A ideia do Sampa Tattoo, localizado em uma galeria na rua Augusta, centro alternativo da capital paulistana, nasceu quando Samantha Sam, 24 anos, deixou seu antigo estúdio, o Shimada Tattoo. “A maioria dos meus clientes era mulheres, principalmente as que queriam fazer sua primeira tatuagem”, conta a artista. “O sócio do estúdio, o Yuri Murakami, me chamou então para criar um lugar focado neste público”.

Sam buscou artistas pela internet. Segundo ela, o estilo próprio de cada uma das artistas foi um fator determinante para Ingryd Guimarães, Jessica Coqueiro, Julia Bicudo e Juliana Chislu serem convidadas para fazer parte do Sampa Tattoo. “Procurava pessoas que não faziam cópias, mas criações próprias”, explica.

Tattoo para se amar mais
Além da equipe feminina, a decoração moderna e elegante também contribui para deixar o ambiente agradável para quem acaba se incomodando com o excesso de testosterona e o festival de “macheza” que um estúdio de tatuagem convencional pode ter. “Já fui em muito lugar em que o atendimento é seco. Aqui a gente conversa com a pessoa, sente a vibe dela. É muito mais pessoal”, comenta Julia, 26 anos.

Com quatro meses de existência e com um anexo prestes a ser inaugurado, o estúdio também ajuda a derrubar a ideia de que tattoo é coisa de homem, estigma que nasceu, segundo as garotas, com a origem da arte no submundo. “Antigamente, para você ser tatuador você tinha que ‘estar na rua’. Sempre foi muito marginalizado e uma mulher estar ali no meio era muito complicado e mal visto. Mas agora a gente sai da faculdade de arte e vamos para a tattoo”, explica Sam.

E é com estas linhas, inspiradas em estilos como o oldschool, o russo, ornamental e blackwork, que o quinteto faz mais do que apenas deixar uns desenhos bonitos na pele de seus clientes. As tatuadoras contam que acreditam que seu trabalho ajuda no sentimento de empoderamento das mulheres que ficam sob a mira de suas maquininhas.

“O principal fator é ela se sentir bem por causa da tatuagem. Fazer algo em uma parte do corpo que ela não gostava tanto e, por ter uma arte ali, começar a gostar mais”, afirma Julia. “A sociedade faz o máximo para a gente achar que qualquer defeito que a gente tenha é um problema. As mulheres precisam se amar mais”.