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Maratona ou rapidinha? Tempo nem sempre é importante no sexo

O tempo é importante no sexo para você? Use o campo de comentários desta página para opinar - Getty Images
O tempo é importante no sexo para você? Use o campo de comentários desta página para opinar Imagem: Getty Images

Yannik D'Elboux

Do UOL, no Rio de Janeiro

10/07/2014 08h07

Quanto tempo dura uma relação sexual satisfatória? Não existe resposta única ou certa para essa pergunta. Porém o tempo do prazer pode ser bem diferente daquele da imaginação.

Uma pesquisa conduzida em 2008 pela Universidade Estadual da Pensilvânia, nos Estados Unidos, com terapeutas sexuais norte-americanos e canadenses, concluiu que 3 a 7 minutos é uma duração adequada e de 7 a 13 minutos, desejável. Abaixo disso, os entrevistados classificaram o ato sexual como muito curto e, acima desse intervalo, muito longo, contrariando a fantasia popular de que sexo bom dura horas.

“Não sendo uma ejaculação precoce, o tempo é secundário”, acredita a psicóloga Heloisa Fleury, que faz parte da equipe do Prosex (Programa de Estudos em Sexualidade), ligado ao Instituto de Psiquiatria da USP (Universidade de São Paulo), e do Departamento de Psicodrama do Instituto Sedes Sapientiae, que oferece atendimento clínico e cursos para profissionais de psicologia.

Heloisa diz que é comum no imaginário de homens e adolescentes a ideia de que o sexo precisa durar bastante para ser bem apreciado. Entretanto, a psicóloga destaca que a satisfação não se mede pelo relógio, e que para a maioria das mulheres chegar ao orgasmo são necessários outros fatores, como clima, contexto e habilidade do parceiro. “Esses fatores são mais importantes do que o tempo do coito. Muitas mulheres até se incomodam quando o tempo da penetração é muito longo”, afirma.

A funcionária pública Simone (nome fictício), de Brasília (DF), que vive um relacionamento há 10 anos, passou por esse problema. Ela conta que suas transas com o marido demoravam de uma hora e meia a duas horas, já que ele possuía um enorme controle da ejaculação. “Ficava muito cansativo, chega uma hora que nem o físico aguenta”, lembra.

Simone diz que, além de cansada, sentia-se frustrada pela sensação de fazer tudo que podia para dar prazer ao marido, mas sem conseguir levá-lo logo ao orgasmo. Por outro lado, ela descobriu que ele agia assim porque gostava de prolongar a fase anterior ao clímax. Conversando, o casal conseguiu chegar a um meio termo. “Passamos a prestar mais atenção às necessidades do outro. Ele percebeu que o excesso de tempo mais me cansava do que divertia. E eu percebi que para ele também era importante esse tempo antes da ejaculação. Ambos cedemos”, revela Simone.

Tempo para as mulheres

Maratonas na cama, como as vividas por Simone com o marido, fazem parte da história recente da sexualidade. Antes do prazer feminino ser valorizado, sobretudo nas últimas décadas, o ato sexual costumava ser bastante rápido e voltado apenas à reprodução.

“O sucesso da relação sexual dependia do vigor do marido e da rapidez do ato. Caso um marido bêbado demorasse fazendo amor, é porque ele perdera a força de fertilizar. Manobras eróticas também comprometiam o cronômetro”, escreve a historiadora Mary Del Priore, sobre a vida sexual no século 19, no livro “Histórias Íntimas – Sexualidade e Erotismo na História do Brasil” (Planeta).

Em entrevista ao UOL, Mary diz que, naquela época, o sexo era praticamente “cirúrgico”, ou seja, extremamente curto, porque se acreditava que era importante para o homem economizar esperma, já que os médicos pensavam que a ejaculação constituía um esforço intenso e extraía o que havia de mais puro no sangue.

São também os livros médicos que vão estimular a mudança no comportamento sexual. “A partir dos anos 1920 e 1930, surgem manuais ensinando que o gozo tem que ser algo mútuo, que não adiantava apenas o homem gozar rapidamente ou a mulher gozar sem o homem”, destaca a historiadora.

Equilíbrio e intimidade

Na pesquisa realizada no ano passado a pedido da marca de preservativos Durex, com 1.004 brasileiros entre 18 e 65 anos, 36% disseram que a duração do ato sexual fica entre 6 e 15 minutos; 33% entre 16 e 30 minutos e 17% mais do que 30 minutos, resultados bastante acima daqueles apontados pelo estudo norte-americano. Para a psicóloga Heloisa Fleury, esse tempo parece superestimado. Para saber com precisão é necessário cronometrar a relação. “Se o sexo está muito bom, o casal pode, subjetivamente, achar que foi muito mais longo do que realmente foi”, justifica.

O professor de tantra Otavio Leal, da Humaniversidade, instituição de ensino terapêutico e transpessoal de São Paulo, também autor do livro “Maithuna – Sexo Tântrico” (Alfabeto), acredita que o mais importante no sexo são as carícias, independentemente de quanto tempo levem. “As carícias ajudam a derreter as nossas defesas, a nos deixar plenos”, diz.

Leal também afirma que retardar o êxtase aumenta o prazer. “Quanto mais prolongado for esse momento, maior será a energia e o prazer”, diz. O professor conta que existem rituais no tantra hindu que chegam a durar 19 dias, obviamente, com atividades que vão além da penetração. “Se pensarmos no ato sexual apenas como genital, se for longo, pode ser cansativo, mas não a carícia, o preparatório. O que vem antes do orgasmo é que faz a diferença”, explica.

Para o professor de tantra, o fundamental na relação sexual é a construção da intimidade. “Hoje, existe maior liberdade, mas falta intimidade. E intimidade requer tempo. Sexo dá prazer. A intimidade dá felicidade, amor”, diz.

Se o sexo dura poucos ou muitos minutos, isso pouco importa se houver sincronia entre os parceiros e prazer mútuo. “Não tem nada a ver com o relógio”, reforça a psicóloga do Prosex. Para Simone, equacionar o ritmo do casal, apesar de não ser tarefa fácil, é possível. “Hoje em dia, às vezes é rapidinha, às vezes demora bastante. Não nos preocupamos mais tanto com tempo”, diz a funcionária pública.