Saiba diferenciar depressão de comportamentos típicos dos jovens

Não são só os hormônios que fazem a vida de um adolescente parecer uma montanha russa. Ele enfrenta dúvidas, medos, ansiedades e alterna momentos de felicidade e bom humor com tristeza profunda e explosões de raiva. Crescer é complicado. Até aí, nada tão difícil de conviver, afinal, "é uma fase", costumam dizer os pais.
No entanto, certos comportamentos silenciosos, apáticos e por vezes irritadiços e brutos causam preocupações familiares a ponto de se pensar na possibilidade de um quadro de depressão. Será que esse mal pode atingir os jovens? Sim.
"É uma doença que não tem relação com a idade, embora ainda exista a fantasia de que pessoas mais novas, com muitos anos de vida pela frente, não têm motivo para se deprimir. Por causa disso, muitos casos sérios são negligenciados", diz Ênio Roberto de Andrade, psiquiatra especialista em adolescentes do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.
Faz pouco tempo que a ciência admitiu que esse mal pode afetar adolescentes. Até os anos 1970, a comunidade médica acreditava se tratar de um quadro raro, praticamente inexistente. Somente em 1975, o NIMH (National Institute of Mental Health), do governo dos Estados Unidos, reconheceu oficialmente a doença em crianças e jovens.
Em casa, antes do quadro ser encarado e tratado como depressão, é importante entender um pouco do que seu filho está passando nessa fase da vida, justamente para compreender que nem toda tristeza é sinal da doença.A juventude é uma época em que é normal o jovem se fechar em si mesmo por alguns momentos. Isso porque precisam vivenciar alguns lutos do ponto de vista psicanalítico. "O luto pelo corpo infantil, pela identidade infantil e pelos pais da infância", explica Magdalena Nigro, psicanalista e professora da Fesp-SP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo).
De fato, tudo está mudando e aparecem os sinais físicos de maturidade sexual. A pessoa não se encara (e não é encarada) mais como criança, ao mesmo tempo que ainda não é um adulto, e começa a enxergar os pais de forma diferente: eles não são mais heróis.
Magdalena explica que, por conta dessas transformações, os jovens podem ficar tristes e confusos até que compreendam a nova realidade. "Por isso apreciam ficar sozinhos no quarto, ouvindo música, navegando na internet ou sem fazer nada, e preferem a companhia dos amigos a dos pais".
Adolescentes tendem a procurar o isolamento temporário e se mostram arredios, pois passam por uma fase de grande autocrítica, buscam um espaço na sociedade, estão aprendendo a lidar com grupos e descobrindo sentimentos como o amor. A dificuldade de se encaixar em modelos sociais também gera tristezas e inseguranças.
Magdalena diz que nesse tempo de silêncio, é importante que os familiares se façam presentes oferecendo apoio, sendo gentis, pacientes e validando o sofrimento que o jovem manifesta, reconhecendo-o como real –sem exageros, é claro. "Os pais podem ajudar a fazer essas crises se transformarem em oportunidades de amadurecer",
Para Maria Angela Cruz, gestora da Clínica Psicológica do Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo, muitas vezes, os jovens sofrem porque ninguém lhes dá atenção ou porque os pais não compreendem essa fase de lutos.
Quando buscar ajuda especializada?
Se a apatia do adolescente perdura por muito tempo e ele se mostra desinteressado por coisas das quais gosta muito, sem substituí-las por outra, e o rendimento escolar sofre uma queda, os pais devem considerar a hipótese de depressão. Andrade recomenda que a família acompanhe o jovem a uma consulta psiquiátrica para que um profissional avalie o quadro.
"Choro excessivo, reclamação de dores físicas sem causa aparente e declarações que envolvam o desejo de morrer de forma insistente também são sinais de que é necessário buscar um médico", afirma.
O tratamento indicado não é, necessariamente, medicamentoso. "Inicialmente, o recomendado é a terapia. As sessões podem solucionar o problema", conta o psiquiatra. Até hoje, não existem exames clínicos para diagnosticar o mal. No entanto, o psiquiatra pode solicitar exames para o jovem.
"Depois de crescidos, muitos deixam de frequentar o consultório do pediatra e não são acompanhados por nenhum médico. Então, é importante, antes de receitar um antidepressivo, que o profissional avalie a saúde do adolescente, para evitar que o remédio desencadeie alguma reação indesejável", conta Andrade.
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