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Após acusação de racismo, Fashion Rio pedirá mais negros na passarela

A top Lais Ribeiro é uma das brasileiras que integra o time de modelos da Victoria"s Secret; e o modelo Ronaldo Martins, um dos principais rostos entre os rapazes - Getty Images/Divulgação
A top Lais Ribeiro é uma das brasileiras que integra o time de modelos da Victoria's Secret; e o modelo Ronaldo Martins, um dos principais rostos entre os rapazes Imagem: Getty Images/Divulgação

Felipe Martins

Do UOL, no Rio

05/11/2013 16h04Atualizada em 13/03/2015 14h08

O Fashion Rio e representantes da ONG Educafro assinaram, nesta terça-feira (5), termo de compromisso para garantir a presença de modelos negros na semana de moda carioca, após reunião de duas horas e meia, na sede da Defensoria Pública, no centro do Rio.

O termo foi firmado após denúncia encaminhada à Defensoria Pública pela ONG de que os modelos estavam sendo rejeitados na seleção para os desfiles das grifes que se apresentam entre esta quarta e o sábado no Píer Mauá, região portuária da capital fluminense, onde é realizada a temporada Inverno 2014 do evento.

Participaram do encontro representantes da ONG, da Coordenadoria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Prefeitura do Rio (Ceppir), o deputado estadual Gilberto Palmares (PT) e a gerente do departamento jurídico da Luminosidade, Verbana Maciel. Na reunião, foi acordado que a Luminosidade, empresa responsável pela organização das semanas de moda do Rio e de São Paulo, irá encaminhar às grifes a recomendação de que exista o percentual mínimo de 10% de negros em cada desfile. De acordo com a defensora pública, Larissa Dadidovich, os agentes do órgão estarão presentes nos desfiles para verificar que as grifes estão cumprindo o percentual mínimo acordado na reunião. Segundo o presidente do Grupo Palco Mil Sonhos, Leônidas Lopes, nenhuma modelo negra foi selecionada para o evento. 

Nos últimos dois anos, quando um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) assinado pela Luminosidade vigorava, 46 modelos em cada ano chegaram a ser chamadas para as seleções. “Os modelos não foram chamados nem para seleção. Não estou reclamando apenas das modelos que são do grupo. Os fatos estão comprovados. Neste ano, em São Paulo, um famoso estilista homenageou a África e não havia nenhum modelo negro. A grande maioria eram loiras e apenas duas morenas”, disse Lopes, referindo-se ao desfile da marca Tufi Duek.

O termo assinado prevê ainda que as grifes entreguem em 30 dias o nome e a quantidade de modelos que participaram do evento. A Defensoria irá intermediar a assinatura de um TAC para que as grifes cumpram um percentual mínimo (ainda a ser decidido) nos desfiles que aconteçam na cidade. “Por que será que o número de negros é tão menor? Isso é uma forma de pressionar para que se tenha a garantia que os negros não sejam excluídos desse processo em razão de um preconceito velado”, completou Lopes. 

  • A modelo Bianca Lima, vencedora do último concurso Beleza Negra Rio 2013, esteve na coletiva após acordo para maior presença de negros nas passarelas do Fashion Rio

Modelo diz sofrer preconceito

Presente na coletiva, a modelo Bianca Lima, vencedora do último concurso Beleza Negra Rio 2013, afirmou que já passou por situações de discriminação racial durante a carreira. “As pessoas que selecionam evidentemente nunca falam que o problema é o preconceito, mas quando você vai ver o desfile ou as fotos são todas mulheres brancas”, disse.

A modelo falou que várias grifes de renome agem discriminando racialmente durante o processo de seleção em trabalhos fotográficos e para passarela. “As desculpas são sempre as mesmas, dizem que não me enquadro no perfil, que o estilista está pensando de outra forma, que a roupa não ficou boa, para aguardar uma próxima seleção”, disse. Segundo Bianca, ela não passou nos castings para o Fashion Rio por conta da estatura, mais baixa do que das modelos de passarela.

Para o coordenador de políticas públicas da Educafro, Moisés Alcunha, falta às grifes pensar as roupas de acordo com a diversidade étnica dos brasileiros. “Os diálogos estéticos dos vestidos são apenas para mulheres brancas, como se a maioria da população do Brasil morasse no Rio Grande do Sul. O que existe é uma verdadeira ditadura na moda”, declarou.

Acordo descumprido

Segundo o coordenador geral da Educafro, Melquizedeque Ramos da Silva, o primeiro TAC foi assinado em 2009 entre a Luminosidade e o Ministério Público de São Paulo e teve validade de dois anos. O acordo previa a inclusão de 10% de negros no São Paulo Fashion Week e no Fashion Rio. Ainda de acordo com o coordenador, o acordo foi cumprido, mas a partir de 2012, quando não estava mais vigente, ele afirma que houve um retrocesso e novamente aconteceu a exclusão de negros dos desfiles. “A Luminosidade veio desfazendo tudo que havia sido construído nesses dois anos. Em vez de ampliarem o número de negros, foram diminuindo ainda mais. Fizemos dois protestos, um no ano passado e outro no ano retrasado. Se for necessário, faremos outro este ano também”, disse Silva. Vale ressaltar que a escolha dos modelos cabe às marcas responsáveis pelos desfiles, a Luminosidade pode dar uma orientação para as grifes e pedir que contemplem este ou aquele perfil, como aconteceu com o TAC. A representante da empresa deixou a coletiva sem falar com a imprensa.

Na temporada Verão 2012 do SPFW, ainda durante a vigência do TAC, a Osklen causou polêmica ao afirmar não ter conseguido montar um casting composto 100% por modelos negros. Na época, o UOL aceitou o desafio e selecionou 60 candidatos para a passarela da marca carioca.