Vocação questionadora da moda deveria aproveitar onda de protestos
Num momento em que a apatia generalizada parece ter dado trégua e aberto espaço para uma mobilização popular de proporções históricas, a moda soa como um assunto dos mais fúteis. Mas não é bem assim. O que vestimos é ao mesmo tempo meio e mensagem do que somos e gostaríamos de ser. Além de escancarar a identidade, as vestimentas são proteção e bandeira.
Quando a segunda onda feminista pediu o fim da opressão feminina nos anos 1960, sutiãs foram queimados; cinco décadas depois, um aluno impedido de usar uma saia em um colégio particular de São Paulo tem o apoio de um “saiaço” vindo de colegas. A cultura punk do faça-você-mesmo transforma simples camisetas em cartazes ambulantes com estampas, silks ou até alfinetes para pregar - no sentido mais puro e físico do termo – seus ideais.
Esse ativismo, no entanto, poderia também vir mais “de fábrica”, com um maior número de estilistas apoiando publicamente causas e utilizando suas criações para se fazer ouvir, ao exemplo das inglesas Vivienne Westwood e Stella McCartney, ou dos nossos Ronaldo Fraga e Cavalera. A moda, como negócio, subaproveita sua vocação questionadora, seja por medo de que, ao levantar uma bandeira, afugentará os que não compartilham dela, seja por puro desinteresse.
A classe fashionista tem, sozinha, motivos de sobra para protestar: exploração infantil, racismo, trabalho escravo, distúrbios alimentares, homofobia e, no Brasil, ainda uma pesada carga tributária. Unir-se às aflições coletivas pode ser o empurrão que faltava para uma mudança do mercado.
Que o clima de manifestações incentive esse sentimento ativista de nossas roupas, seus criadores e mediadores – imprensa, obviamente, inclusa. As causas ainda são muitas.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.