Apoio familiar ajuda a grávida a lidar melhor com as alterações de humor

Emocionar-se com um comercial de TV e, no instante seguinte, brigar feio com o marido por causa da decoração do quarto do bebê é um exemplo que retrata bem como o humor da grávida pode flutuar.
Na gestação, tanto as sensações de alegria como as de tristeza se tornam exacerbadas. Essa gangorra emocional se deve a fatores fisiológicos e emocionais. O desequilíbrio hormonal é um dos grandes responsáveis. "No início, até a 14ª semana, a mulher recebe altas doses de progesterona e estrogênio, que afetam o humor e têm efeito depressivo. Dependendo da personalidade e do contexto, a gestante pode ficar mais sensível e introspectiva", afirma Mary Nakamura, professora de ginecologia e obstetrícia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Segundo Mary, além do período gestacional, os hormônios provocam essa bagunça no humor feminino na adolescência, com a primeira menstruação, e na menopausa. No segundo trimestre da gravidez, o corpo vai se adaptando à enxurrada de hormônios. No final, ela pode voltar a ter o humor alterado por causa da ansiedade causada pela proximidade do parto e por sua condição física –pés inchados, dores na coluna. Não mais pela ação dos hormônios.
Além das mudanças no organismo da grávida, a oscilação de humor pode ser explicada em função das dúvidas que cercam a fase. Com a felicidade de se tornar mãe, é preciso absorver muita novidade. É comum colocar em dúvida a própria capacidade de dar conta de um bebê. Existem também as transformações no corpo e o receio de nunca mais perder os quilos extras. O medo de ser substituída no emprego, além dos temores pela saúde do filho.
O contexto de vida de cada uma também deve ser considerado. A gravidez foi planejada? Qual é a condição financeira atual? E como está a relação com o parceiro? Como se isso não bastasse, a mulher sente a cobrança da sociedade, para a qual a gestante precisa estar sempre radiante.
"Essa pressão atrapalha a busca por ajuda. A mulher fica com vergonha de se queixar ou de admitir que a gravidez não é só felicidade", diz a psiquiatra Renata Camacho, médica pesquisadora do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, em São Paulo. Reclamar não é a mesma coisa que não desejar o bebê. Nessa hora, fazer o pré-natal com um médico acolhedor faz toda a diferença.
Muita conversa
A mulher acaba descontando a irritação e a impaciência nas pessoas mais próximas, como o marido, normalmente o principal alvo, a mãe, a sogra e as amigas íntimas. É justamente com eles que a conversa deve ser franca. A gestante deve falar abertamente sobre suas preocupações e fantasias. "Muitas vezes, as queixas são banalizadas pelo silêncio. A família deve ouvir com atenção e dar mais valor aquilo que a grávida fala. Expor os medos não é sinal de fraqueza", afirma Patricia Bader Santos, coordenadora do serviço de psicologia do Hospital São Luiz, em São Paulo.
Para a obstetra Mary Nakamura, a grávida não está emocionalmente estruturada nessa fase e precisa do suporte da família. Para provar isso, ela está finalizando uma pesquisa na Unifesp em que vai mostrar como essa rede social é fundamental. "Não pode haver cobranças e julgamentos do parceiro ou dos familiares. É preciso dar apoio. Um gesto, como acompanhar a mulher nas consultas, já a ajuda a se sentir reconfortada."
Se a tristeza, o desânimo e a irritação forem constantes, é bom procurar um médico para checar se não se trata de algo mais sério. "Um dos critérios é a frequência e a intensidade dos sentimentos. Se a mulher já passou por alguma crise de depressão anterior, tem mais chances de desenvolver a doença na gravidez e no pós-parto", afirma Patricia, do Hospital São Luiz.
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