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Em Fortaleza, estilista gaúcha trabalha tricôs sem "cara de avó"

Desfile da estilista gaúcha Helen Rödel na semana da moda de Fortaleza (16/4/2011) - Lee Rodrigues/UOL
Desfile da estilista gaúcha Helen Rödel na semana da moda de Fortaleza (16/4/2011) Imagem: Lee Rodrigues/UOL

FERNANDA SCHIMIDT

Enviada especial à Fortaleza

16/04/2011 17h54

 

O artesanato nordestino deu espaço aos tricôs da gaúcha Helen Rödel, em desfile que marcou ponto alto da programação desta sexta-feira (15) no Dragão Fashion Brasil, semana de moda de Fortaleza.

A estilista de 27 anos quer, com suas criações, mostrar que o tricô não está restrito apenas àquelas peças feitas por nossas avós. “Trabalho desenvolvendo técnicas para desconstruir essa ideia. O tricô é passado, presente e futuro”, disse ela. Para isso, investe em modelagens e cores com aspecto mais jovem (como o macacão rosa, justíssimo, que fechou o desfile no corpo da top Barbara Berger) e fios tecnológicos, entre eles a poliamida, para permitir maior elasticidade.

 

Foi justamente pelo laço familiar que surgiu seu interesse pelo tricô. “Minha mãe sempre fez, era fascinante desenvolver um suéter em família, ir à loja comprar lã”, disse. Um dia, contou, teve um “insight” de que era isso que deveria fazer como estilista.

Novata na passarela do Dragão, ela já havia apresentado suas criações em Porto Alegre, no Donna Fashion, e na semana de moda da Islândia – em ambas as ocasiões, como estudante convidada. Helen ainda cursa design de moda, no Centro Universitário Ritter dos Reis, no Rio Grande do Sul. A graduação deveria acontecer em cerca de um ano e meio, mas o diploma terá de ser adiado por algum tempo. A estilista está para completar o oitavo mês de gravidez.

Com a correria pré-desfile, a futura mãe de mãos hábeis para o tricotar ainda não conseguiu preparar o enxoval da filha, Cecília. Mas tem os detalhes pensados: “Já separei um tricoteiro e um crocheteiro para fazer”.

Com uma equipe de seis artesãs, Helen confeccionou todas as peças apresentadas no Dragão num período de três meses. Normalmente, contou ela, cada vestido levaria de uma a duas semanas para ficar pronto. “Foi uma coleção feita em tempo recorde”, disse.

A estilista trabalhou para este desfile com dez pontos de tricôs diferentes, e algumas das peças trouxeram técnicas mistas. Na passarela, destacaram-se as listras, largas e em cores fortes. As faixas coloridas são característica do trabalho da gaúcha desde seu primeiro suéter, confeccionado em 2007, em vermelho e azul.

Este parece ser o momento dos tricôs na moda contemporânea. Além de grifes tradicionais, como a italiana Missoni, jovens talentos têm se especializado na técnica – caso de Helen e do também brasileiro Lucas Nascimento, que desfila sua coleção no Fashion Rio. “Se está acontecendo esse movimento agora, é por um motivo. Acredito que as coisas caminhem no seu tempo”, afirmou.

Sem pontos de venda e com uma produção ainda limitada, a maioria de suas criações tem se transformado em peça de acervo – ou seja, não chegam ao consumidor final. “Estou organizando a produção para que ela seja ampliada e aumentado a equipe para qualificá-la. É legal criar o desejo [de compra], mas melhor ainda é poder atendê-lo”, disse. Nesse meio tempo, teve de recusar um pedido da loja parisiense Colette, famosa por reunir a vanguarda da moda e das artes.

Após a estreia em solo cearense, recebeu os cumprimentos do empresário André Hidalgo, diretor da Casa de Criadores, que se mostrou interessado em incluir o trabalho de Helen numa próxima edição do evento, realizado em São Paulo e voltado para novos talentos da moda nacional.

*A repórter viajou a convite do Dragão Fashion Brasil