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Alfaiataria tenta conter "extinção" e oferece luxo para público masculino

ANTONIO FARINACI

Colaboração para o UOL

03/12/2010 07h00

Elegância, exclusividade e conforto. Essas são as qualidades que, reunidas, formam a roupa perfeita. No universo da moda masculina, ninguém faz maior alarde desses atributos do que o alfaiate que trabalha sob medida.

  • Antonio Farinaci/UOL

    O alfaiate Milton Silva trabalha em seu ateliê, em São Paulo (26/10/2010)

Mas, afinal, qual a diferença de um produto feito por alfaiates daqueles que se compram prontos, em lojas? "No prêt-à-porter, você tem de se adaptar à roupa. Na alfaiataria sob medida, a roupa é que se adapta a você", define Alexandre Mirkai, dono de um ateliê desde 1961, em Moema, onde produz com a ajuda de uma equipe, cerca de 20 ternos por mês.

E essa "adaptação" inclui pequenos ajustes que fazem com que a roupa sirva "como uma luva" ao cliente. "Por uma questão de postura, a maior parte das pessoas destras têm o ombro direito ligeiramente mais baixo do que o esquerdo (nas canhotas, o oposto), e um bom paletó sob medida compensa essa diferença", explica Ginez Galvez, alfaiate com 60 anos de ofício.

Um serviço tão exclusivo —em que as roupas são feitas uma a uma, a mão— tem seu custo. Um costume (nome "oficial" do conjunto de paletó e calça, sem colete) não sai por menos de R$ 3.500, enquanto numa loja popular de roupas masculinas prontas pode ser encontrado por R$ 200. Mas não se engane com essa comparação. A alfaiataria sob medida tem mais a ver com as lojas de luxo, garantem os alfaiates —e com vantagens. 

"Quando as pessoas no Brasil falam de mercado de luxo, pensam numa marca como a (Ermenegildo) Zegna, por exemplo, que cobra em torno de R$ 5.000 por um terno pronto. Enquanto um terno de alfaiate, feito sob medida, com lã importada, sai por cerca de R$ 4.000. E esse sim é de luxo, pois é feito exclusivamente para o seu corpo, com corte impecável e ajuste perfeito", compara Milton Silva, alfaiate de Fernando Henrique Cardoso e Geraldo Alckmin, entre outros figurões.

Ao procurar uma alfaiataria, é preciso, no entanto, que o cliente se certifique que está adquirindo realmente uma peça feita totalmente sob medida e a mão. "Algumas alfaiatarias trabalham com peças semiprontas, que são apenas ajustadas no corpo do freguês", alerta Galvez, "esse serviço não pode ser cobrado como 'feito a mão', pois parte dele passa por um processo industrial". Por isso, na dúvida, pergunte, para não levar gato por lebre.

A maior parte dos clientes da alfaiataria sob medida é formada por empresários, advogados e funcionários de instituições financeiras, profissionais estabelecidos, em sua maior parte com mais de 50 anos e que têm um gosto bem definido, tradicional. "A maioria dos meus clientes está comigo desde que abri meu ateliê, nos anos 60", conta Antonio Jesus Carvalho, dono da alfaiataria Horant. E Alexandre Mirkai ressalta que seus clientes são homens "clássicos", que "sabem o que querem" quando o procuram.

Mas, para quem pretende entrar agora para o mundo da alfaiataria sob medida, qual a melhor pedida? "Uma peça clássica, blazer ou costume, que seja chique e atemporal", aconselha o estilista Fábio Andreoni, especializado em moda masculina.

"Um paletó de dois botões com lapela de largura média é o que veste melhor a maioria das pessoas", indica ele, que chama atenção também para o cuidado na escolha do material —afinal, já que você resolveu investir na mão de obra, não vale a pena economizar no material. "Gabardine de lã é uma ótima pedida para um primeiro terno, pois se adequa bem a temperaturas nem tão quentes nem tão frias e é mais encorpada do que a lã fria. Se a pessoa for muito calorenta, pode ficar também com uma gabardine de algodão, que é mais fresca", sugere. "Mas, tanto em termos de modelo como de materiais, esteja aberto ao que o alfaiate sugerir, pois ele tem experiência em encontrar o que é melhor para cada tipo físico e também para a função que o terno terá em seu dia a dia", pondera.

Veja abaixo uma lista com endereços de alfaiates em São Paulo, Brasília, Curitiba e Rio de Janeiro:

SÃO PAULO
Alexandre Mirkai
Num sobrado de Moema, funciona há 50 anos o atelier desse alfaiate que, com uma equipe de cerca de dez profissionais, entre costureiras, passadeiras, camiseiros e outros alfaiates, produz cerca de 20 ternos por mês. Na loja, Mirkai tem mostruário de tecidos importados, além de gravatas e acessórios elegantes. Um costume custa ao redor de R$ 2.800, um paletó custa R$ 2.300 e um colete, R$ 500 —apenas mão de obra. Um terno leva cerca de 30 dias para ficar pronto.
Av. Aratãs, 323
Tel.: (11) 5561-2479

Antonio Jesus Carvalho (Alfaiataria Horant)
Conhecida por ser uma meca da moda "alternativa" em São Paulo, pouca gente sabe que na Galeria Ouro Fino atendem dois tradicionais alfaiates da cidade —um deles, Antonio Jesus Carvalho (o outro é Augusto Ulian). O alfaiate português, que nos anos 70 teve entre seus clientes Jorge Benjor e Gilberto Gil, produz, com a ajuda de sete funcionários, cerca de 20 costumes por mês, e diz que adapta os modismos internacionais para dar mais conforto às roupas: "O brasileiro é enjoado e não gosta de roupa que 'pegue', diferentemente dos europeus que usam tudo bem justo", explica. Um costume sai por R$ 3.200, um blazer por R$ 2.800 e um colete por R$ 500 (mão de obra).
Rua Augusta, 2690, 2º andar, salas 307 e 309 (Jardins)
Tel.: (11) 3082-4749

Augusto Ulian
A Galeria Ouro Fino é conhecida por ser uma meca da moda "alternativa" em São Paulo. Pouca gente sabe que nesse endereço atendem dois tradicionais alfaiates da cidade, um deles, Augusto Ulian (o outro é Antonio Jesus Carvalho). O alfaiate, que com a ajuda de um assistente produz até oito costumes por mês, já teve como cliente o estilista Clodovil. Ulian também faz alfaiataria feminina e consertos. A mão de obra para um costume fica em torno de R$ 2.500; para um blazer, R$ 2.150, e R$ 300 para um colete.
Rua Augusta, 2690, 2º andar, sala 304 (Jardins)
Tel.: (11) 3081-0919

Benedito de Mesquita
Trabalhou na legendária alfaiataria Minelli, em São Paulo, que, segundo ele, nos anos 60 e 70, com 170 funcionários, foi "a maior alfaiataria da América do Sul". Hoje, Mesquita atende em seu ateliê em Santa Cecília, e, com a ajuda de 16 funcionários, entrega cerca de 14 ternos por mês. "É tudo feito a mão, não temos condições de fazer mais do que isso", explica. A mão de obra para se fazer um costume fica em torno de R$ 2.500, R$ 2.200 para um paletó, R$ 300 para uma calça e R$ 400 para colete. Um de seus clientes mais famosos é o apresentador Fausto Silva.
Rua Fortunato, 42 (Santa Cecília)
Tel.: (11) 3221-0094

Ginez Galvez
Este alfaiate faz cerca de quatro a cinco ternos por mês em seu ateliê, na Augusta, rua em que está desde 1963. Atende principalmente advogados e empresários, clientes em busca de peças clássicas que passam ao largo das flutuações da moda. Fã da tradicional casa italiana Brioni, de alfaiataria, Galvez faz praticamente todas as peças sozinho. A mão de obra de um costume sai de R$ 2.800 a R$ 3.200, um blazer sai por R$ 1.800, e um colete, por R$ 500.
Rua Augusta, 2550, 6º andar, cj. 61 (Jardins)
Tel.: (11) 3068-8581

José Cozzi
Com uma equipe de cerca de 16 pessoas, este alfaiate entrega por mês cerca de 20 a 30 ternos, todos feitos a mão e sob medida, como manda o figurino. Em média, Cozzi pede 45 dias para a confecção de um costume e oferece três provas para o cliente. A mão de obra para calça custa R$ 400, para o paletó R$ 2.100.
Rua Xavier de Toledo, 264, 5º andar (Centro)
Tel.: (11) 3214-3537

Luigi Crincoli
Alfaiate italiano que atende em seu ateliê ou em domicílio. Faz ternos, costumes e rigor, tudo para durar "mais de 20 anos". Crincoli fornece preços apenas sob consulta e pessoalmente. "Se digo que vai custar R$ 5.000, podem achar caro. Então, quero que o cliente veja meu trabalho antes, porque é uma obra de arte", diz. Trabalha com o irmão em seu ateliê, e terceiriza apenas procedimentos que ele considera "mais simples", como colocar forro e entretela. "No final, tudo passa por mim", garante. 
Al. Jaú, 1528, 4º andar, cj. 43 (Jardins)
Tel.: (11) 3085-6032

Milton Silva
Ele já trabalhou para a legendearia alfaiataria Minelli e para o estilista Ricardo Almeida, e essas são credenciais tanto de seu apuro técnico quanto de sua antena fashion. Num ateliê que divide com outros seis funcionários, Milton Silva produz por mês cerca de 40 ternos, para clientes que o procuram diretamente em sua loja ou por meio do serviço de alfaiataria sob medida da Daslu. A mão de obra de um costume custa R$ 2.800, R$ 2.500 para um blazer e R$ 300 para uma calça ou colete. O ateliê conta também com serviço de camisaria —uma peça sai por R$ 450 em algodão egípcio.
Av. São Luís, 187, 2º andar, loja 16 (Centro)
Tel.: (11) 3159-5022 e (11) 9136-3248

Valerio Taddei
Esta alfaiataria, passada de pai para filho, só trabalha com atendimento de clientes em domicílio. "Tive ateliê por 10 anos na Galeria Metrópole e por 25 anos na Augusta. Hoje, acho melhor atender em casa, pois meus clientes são muito ocupados", conta Valerio Taddei, 77, que comanda uma equipe que trabalha na cofecção das roupas, em sua casa, na Moóca. Seu filho, Valério Taddei Jr., terceira geração na empresa, leva mostruário de tecidos (apenas importados) e modelos até o interessado, e tira-lhe as medidas. As provas (até três) também são feitas na casa do cliente. Um costume pronto custa de R$ 3.800 a R$ 4.500.
Rua Camé, 93 (Moóca)
Tel.: (11) 2605-9045

Francesco Mazzei
Com a ajuda de mais dois funcionários, este alfaiate nascido na itália produz cerca de 4 ternos por mês. A mão de obra de um costume custa R$ 3.000, R$ 2.350 para o paletó, o restante para a calça. "É artesanato", ele diz.
Rua Augusta, 1492, loja 11
Tel.: (11) 3284-7773


BRASÍLIA
Sebastião Alves

Alfaiate trabalha sozinho e leva de 10 a 15 dias para entregar um costume, pelo qual cobra R$ 2.000 de mão de obra. Um paletó custa R$ 1.600, uma calça, R$ 400.
BR 020, Km 4 - Condomínio Morada dos Nobres, Quadra 17, casa 4 (Sobradinho)
Tel.: (61) 3302-1644


CURITIBA
Antenor Dallabrida

Um dos mais tradicionais alfaiates de Curitiba.
Rua Cândido Lopes, 325, 1º andar, loja 23
Tel.: (41) 3233-8590

Arthur Radatz
Alfaiataria sob medida. A mão de obra para se fazer um costume sai por cerca de R$ 700, e para um paletó sai por R$ 450. O alfaiate trabalha com mostruário de tecidos nacionais e importados.
Rua Ermelino de Leão, 285, loja 7
Tel.: (41) 3224-7087

Ferdinando Nardelli
Presidente da associação que congrega os alfaiates do Paraná, Nardelli é um dos mais conhecidos da cidade e está instalado no Edifício Tijucas, conhecido em Curitiba como um reduto de alfaiates. A mão de obra para a confecção de um costume sai em torno de R$ 800.
Rua Cândido Lopes, 289, 2º andar, loja 213
Tel.: (41) 3223-4098

Pedro Medeiros
Outro alfaiate que atende no Edifício Tijucas, Medeiros comanda uma equipe de tries pessoas e produz cerca de 10 peças por mês. A mão de obra para um costume sai por R$ 700, um blazer custa R$ 600, a calça sai por R$ 100 e um colete sai a partir de R$ 200, dependendo do modelo.
Rua Cândido Lopes, 289, 9º andar, loja 902
Tel.: (41) 3224-8143


RIO DE JANEIRO
Alberto Marques

Um dos mais conhecidos alfaiates cariocas, Marques atende há mais de 50 anos no mesmo endereço, no centro do Rio de Janeiro, de onde comanda uma equipe de mais de 20 pessoas. Nascido em Portugal e há 76 anos no Brasil, ele é o alfaiate de empresários cariocas e figurões da política, como o senador Tasso Jereissati.
Rua da Quitanda, 30, loja 510
Tel.: (21) 2242-5823