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Estupro coletivo de adolescente indígena por soldados choca Colômbia

Estupro aconteceu em Santa Cecilia, um povoado rural - Procuradoria-Geral da Colômbia
Estupro aconteceu em Santa Cecilia, um povoado rural Imagem: Procuradoria-Geral da Colômbia

Boris Miranda

26/06/2020 11h25

"Sequestrada e abusada sexualmente por um grupo de soldados do Exército colombiano."

É assim que Juan de Dios Queragama, líder dos índios embera descreve o que aconteceu com uma menor de 13 anos de sua comunidade.

Segundo ele, o caso aconteceu em Santa Cecília, um povoado no Departamento (Estado) de Risaralda, leste da Colômbia, no último domingo.

O caso chocou o país, provocou forte reação do governo e fez com que o comandante do Exército Nacional viajasse à região onde o episódio ocorreu.

Sete soldados se declararam culpados pelo estupro na quinta-feira e estão "atrás das grades", segundo o procurador-geral do país, Francisco Barbosa.

Indignação

"Não é exceção. Essa é a realidade de muitas meninas indígenas", disse Armando Valbuena, porta-voz da Organização Nacional Indígena da Colômbia, à BBC News Mundo, o serviço de notícias em espanhol da BBC.

Valbuena destaca que os menores de comunidades como os embera, wayúu ou de afro-colombianos nas áreas rurais do país não sofrem apenas assédio de militares, mas também de grupos armados ilegais e "de paramilitares, que continuam a crescer".

Diferentes organizações indígenas expressaram repúdio ao que aconteceu e exigiram que os autores do estupro fossem "entregues e julgados" de acordo com sua legislação.

Os embera são um povo nativo espalhado por diferentes partes da Colômbia. Frequentemente esses grupos são obrigados a se mudar devido à violência armada e à pobreza.

De fato, não é incomum ver grupos deles nas ruas de Bogotá pedindo esmolas.

Enquanto isso, o governo pediu que o Estado agisse de forma "implacável" caso a culpa dos acusados seja confirmada.

Em uma declaração enviada à BBC News Mundo pelo Ministério da Igualdade das Mulheres, a vice-presidente da Colômbia, Martha Lucía Ramírez, afirmou que o abuso sexual de menores da comunidade embera chamí é "aberrante e inaceitável".

"Solicitamos ao Ministério Público que acelere o processo de investigação para que a justiça seja feita. Este é um caso que merece condenação social; devemos agir de maneira rápida e consistente para defender os direitos de meninas, meninos, adolescentes e mulheres. É hora de aplicar prisão perpétua", diz a autoridade.

Por sua parte, na quinta-feira, o presidente do país, Iván Duque, telefonou a autoridades e moradores da região onde ocorreu o estupro para expressar sua solidariedade à família e à comunidade indígena.

Reação dos militares

Foi o Gabinete de Controle Disciplinar Interno do Exército que iniciou a denúncia com base nas informações recebidas por um soldado.

Os sete soldados envolvidos reconheceram culpa pelo estupro, segundo o procurador-geral da Colômbia - Getty Images - Getty Images
Os sete soldados envolvidos reconheceram culpa pelo estupro, segundo o procurador-geral da Colômbia
Imagem: Getty Images

E na quinta-feira (25), o comandante do Exército Nacional, Eduardo Zapateiro, viajou a Risaralda e fez uma declaração pública com o prefeito da região e outros líderes sociais que se reuniram para avaliar o que aconteceu.

"Para mim, esses sete soldados não são mais soldados", disse ele.

Zapateiro reconheceu ter ficado "doído" pelo que aconteceu "como em todos os momentos de crise na instituição".

"Conversei com todo o Exército sobre essa situação tão complexa, tão vergonhosa e tão repreensível que as tropas fizeram aos nossos guardiães da terra. Nosso povo indígena", acrescentou.

O Instituto Colombiano de Bem-Estar Familiar anunciou que a vítima receberá apoio médico e psicológico.

Além disso, o governo do país garantiu que a menor "não estará sozinha" em sua recuperação.

Por meio de uma chamada pública que circula nas redes sociais e mensagens no telefone, solicita-se ajuda não apenas para ela, mas para as 15 famílias da comunidade que estão em "uma situação de falta de comida, fraldas, leite para crianças e panelas".

O episódio colocou novamente as Forças Armadas da Colômbia no centro das críticas.

Não é incomum ver grupos de Emberas nas ruas de Bogotá pedindo esmolas - EPA - EPA
Não é incomum ver grupos de Emberas nas ruas de Bogotá pedindo esmolas
Imagem: EPA

"Esses bandidos que mancharam seus uniformes e a dignidade das crianças na Colômbia tiveram que receber proteção extra em um centro prisional devido à gravidade dos eventos", disse o procurador-geral do país, segundo o jornal colombiano El Clima.

Por sua parte, o procurador-geral do país, Fernando Carrillo, expressou sua rejeição ao "crime hediondo".

"A Colômbia sofre quando aqueles que precisam defender a vida e a dignidade de nossos filhos se tornam seus carrascos. Os violadores de meninas indígenas desonram a força pública e ferem um país que exige justiça", afirmou.

E o líder indígena Armando Valbuena garante que o caso da menina é outro exemplo da "estratégia de guerra" dos militares contra os povoados rurais.