Topo

Asiáticas se revoltam contra clareadores de pele: 'Crie sua própria beleza'

A embalagem do produto "Fair & Lovely", da Unilever, um dos pivôs da revolta contra clareadores de pele na Ásia - Peter Power/Toronto Star via Getty Images
A embalagem do produto 'Fair & Lovely', da Unilever, um dos pivôs da revolta contra clareadores de pele na Ásia Imagem: Peter Power/Toronto Star via Getty Images

De Nova Délhi

10/07/2020 11h50

Cansada de ouvir que deveria embranquecer sua pele quando criança, a estudante indiana Chandana Hiran simboliza a luta contra a obsessão da Ásia por uma pele clara, um combate alimentado pelos protestos mundiais contra o racismo.

Para a jovem, cuja petição online contra o creme clareador "Fair & Lovely" da Unilever foi assinada por dezenas de milhares de pessoas, a decisão da multinacional de mudar o nome de produtos cosméticos que usavam termos como "fair", "light" (ambas palavras que podem ser traduzidas como "claro") e "white" ("branco") já é uma vitória.

Sob pressão do movimento "Black Lives Matter", as gigantes de cosméticos L'Oréal e Johnson & Johnson também anunciaram medidas semelhantes. Mas os detratores do "colorismo" na Ásia, uma discriminação baseada no tom de pele, consideram que essas iniciativas não cortam o problema: preconceitos enraizados na sociedade.

Na Índia, a pele pálida está associada à riqueza e beleza, especialmente para as mulheres. "As pessoas acreditam que se você tem pele escura, nada terá na vida", explica à AFP Chandana Hiran, 22 anos.

Esse estereótipo é perpetuado nos filmes de Bollywood, onde as atrizes costumam ter uma aparência clara, e na publicidade. Os jornais indianos estão cheios de anúncios de casamentos de conveniência que exigem candidatas com pele "branca leitosa".

Empregada doméstica de 29 anos em Nova Délhi, Seema aplica o creme "Fair & Lovely" desde os 14 anos. Todas as mulheres da família usam, incluindo sua filha de 12 anos.

"Quando vejo publicidade sobre cremes para clareamento da pele, parecem um bom produto", diz. "Mostram que quando as pessoas ficam mais brancas, encontram trabalho e recebem propostas de casamento".

A colonização britânica da Índia reforçou o conceito de "colorismo", mas ele já estava totalmente estabelecido no sistema tradicional de castas que estrutura a sociedade desse país de 1,3 bilhão de habitantes, segundo os pesquisadores.

"O preconceito é que as castas superiores têm pele mais clara que as castas inferiores", explica Suparna Kar, socióloga da Universidade Christ em Bangalore.

Discriminação

Essa preferência pela pele branca não é exclusiva da Índia e se espalha por todo o continente asiático.

A indústria de produtos de branqueamento é um dos mercados mais dinâmicos do setor de cosméticos e movimentará 27,5 bilhões de euros (R$ 166 bilhões) até 2024, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), apesar de alguns deles causarem sérios problemas de saúde.

Na Tailândia, a publicidade para esses produtos está em todo lugar em Bangkok. A blogueira Natthawadee "Suzie" Waikalo denuncia o racismo que permeia a sociedade tailandesa.

Nascida de pai malinense e mãe tailandesa, esta mulher de 25 anos sofreu muitos ataques devido à cor de sua pele. Ela explica que foi demitida do emprego porque seu chefe achava que a pele negra "dava uma imagem ruim à empresa".

"É uma sensação horrível que você nunca esquece", relatou recentemente em uma conferência na Associação Tailandesa de Jornalistas Estrangeiros.

Também nas Filipinas, muitos homens e mulheres usam substâncias branqueadoras. Uma tez mais clara está associada a uma "personalidade agradável", diz Gideon Lasco, antropólogo da Universidade das Filipinas.

A blogueira filipina Patricia Terrado, 26 anos, lançou uma campanha online para atrair seus concidadãos a preferir sua cor natural da pele. "Você tem o poder de criar sua própria definição de beleza, independentemente da cor da sua pele", diz ela.