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Tatiana Vasconcellos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Domingo vamos votar com consciência, empatia e amor

Lula e Bolsonaro são os candidatos na disputa pelo segundo turno: dá para falar disso sem brigar? - CAIO GUATELLI / AFP E ISAC NóBREGA/PR
Lula e Bolsonaro são os candidatos na disputa pelo segundo turno: dá para falar disso sem brigar? Imagem: CAIO GUATELLI / AFP E ISAC NóBREGA/PR

Tatiana Vasconcellos

Colunista de Universa

28/10/2022 04h00

Amo votar. Amo o ritual de pegar o título de eleitor (com todos os comprovantes de votação das últimas quatro eleições num clipe, sou dessas), fazer minha colinha quando são muitos os cargos em disputa. Quando tirei meu título de eleitora, escolhi o mesmo local de votação que minha mãe. Íamos juntas, ainda que escolhêssemos candidatos diferentes, em tempos de funcionamento da democracia.

Amo chegar na escola, caminhar até as escadas em meio àquele vai e vem de gente, avistar conhecidos do bairro, reparar nos códigos das vestimentas. Fazia sempre o mesmo caminho de subir dois lances de escada e entrar no corredor à esquerda até a minha seção.

Fico nervosa ao entrar na sala e olhar para os mesários, sorrio. Faço questão de ser simpática, apesar da tensão. Adoro olhar para a tela da urna eletrônica e ver a fotinha dos candidatos. Adoro apertar o "confirma". Fico tensa e emocionada como se o avanço, a manutenção ou a recuperação da democracia —dependendo da época e da eleição— estivesse sob minha responsabilidade. E está. Na minha e na sua.

Democracia não é um conceito abstrato, ela tem implicações práticas na minha e na sua vida. Quando a democracia falha, as consequências são muito mais fortes para a existência de pessoas mais expostas e menos amparadas —pretas, pobres, trans, indígenas, mães.

Quando vou votar, a todo instante me lembro da minha mãe, que quase sempre votava em candidatos diferentes dos meus. Me encho de amor. Discordar no voto só é possível com amor, respeito e, adivinha?, democracia.

Foi o direito ao voto que fez com que a Justiça decidisse autorizar o transporte público gratuito para todo mundo no domingo de eleição. A decisão cabe às prefeituras (se lembra em quem votou há dois anos?). Houve quem se colocasse contra a garantia desse direito. É que em tempos de crise democrática, ele vira arma. De disputa eleitoral. O presidente candidato à reeleição, Jair Bolsonaro, contestou a decisão da instância máxima da Justiça brasileira. E perdeu.

Em Minas Gerais, o governador reeleito Romeu Zema, aliado do presidente, não só se disse contra a isenção da tarifa como colocou em suspeição os prefeitos que assegurassem o benefício a milhares de brasileiros que não têm condição de se deslocar até o local de votação, seja por motivo financeiro ou qualquer outro. As prefeituras de Belo Horizonte e de várias outras cidades do estado, no entanto, confirmaram o transporte grátis no domingo.

Até a noite de quinta-feira (27), pelo menos 217 municípios, entre eles todas as capitais do país, teriam transporte grátis, beneficiando 82 milhões de eleitores (o que simboliza uma conquista, mas ainda é muito pouco diante da população de 214 milhões de pessoas). O governo do Estado de São Paulo também anunciou que não haverá cobrança de passagem no domingo, o que beneficiará mais cidades e eleitores.

Votemos por igualdade de deveres, direitos e oportunidades. Como falar em democracia num país em que 33 milhões de seres humanos passam fome? Fome. Não têm como se alimentar. Isso não te choca?

Votemos por um país verdadeiramente democrático, em que seja possível discordar respeitando as leis, sem que divergência política implique em risco de tomar um tiro. De ser expulsa da igreja que promete acolhimento. De ser demitida (isso é crime, se seu empregador te ameaçou, procure o Ministério Público do Trabalho do seu Estado e denuncie). Debater ideias a partir de fatos, de dados científicos faz a gente entender melhor o funcionamento do nosso país, do mundo, para além da nossa experiência nele --o Brasil é bem mais diverso e complexo do que a nossa turma.

Votemos por um Brasil mais preto, indígena e antirracista. Igualdade de direitos significa igualdade racial.

Votemos pela recuperação e proteção da natureza, que é o que nos mantém vivos. Nós somos a natureza.

Votemos pelo respeito inegociável à Constituição, que prevê educação e saúde gratuita e de qualidade para todos.

Votemos para que nossos filhos, netos, sobrinhos tenham uma infância saudável, longe de armas. Armas só servem para matar.

Votemos com senso crítico. Todo voto deve ser crítico. É nosso dever acompanhar os mandatos, a administração do nosso país e cobrar os governantes, entre eles o presidente que vamos eleger. Ainda que não seja, mas principalmente se o eleito for o seu candidato.

Não deixe para lá. A democracia se constrói todos os dias. Lembre-se que seu voto é só seu. É secreto. Ninguém pode te tirar esse direito. Votemos! Com consciência, empatia, amor.