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OPINIÃO

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Karol Conká força a barra com Arcrebiano. Homem se sente obrigado a pegar?

Karol Conká e Arcrebiano no BBB21: mulher também comete assédio?  - TodaTeen
Karol Conká e Arcrebiano no BBB21: mulher também comete assédio? Imagem: TodaTeen

André Lage

Colunista de Universa

06/02/2021 04h00

Essa semana em uma festa do BBB 21 teve uma cena (dentre as muitas protagonizadas por Karol Conká) que me chamou a atenção para como o machismo está entranhado em todos nós. Karol abraçou Bil e foi lhe dar um beijo. Ele vira o rosto e fala "Calma, Calma, Calma". Ela puxa o rosto dele e diz "é só um selinho", ele responde "Não, calma". Ela volta a insistir e ele finalmente dá o selinho. Vejam com seus próprios olhos:

Enquanto assistia esse vídeo, só conseguia pensar nas inúmeras vezes que eu vi meninos praticamente forçando garotas a beijá-los nos blocos de carnaval da zona sul do Rio. Sempre senti nojo dessa situação e de tudo que está envolvido ali. E fiquei me perguntando, estamos lutando contra qualquer tipo de assédio ou alguns são menos problemáticos que outros? E mais, qual a diferença entre um assédio vindo de um homem e de uma mulher?

Antes de mais nada, obviamente não estou falando que esse problema sequer se compara à gravidade do assédio cotidiano que as mulheres sofrem. A violência contra a mulher faz vítimas todos os dias e tem que ser combatida sistematicamente. Mas precisamos falar sobre consentimento, tanto para homens como para mulheres.

Não é não

Essa frase, que foi o símbolo da luta contra o assédio, é de fato muito eficiente e autoexplicativa. Depois do "não", tudo é assédio pelo simples fato que não há consentimento. Não importa o que aconteceu antes do não, uma vez que ele é dito, ele tem que ser respeitado.

E por isso me chocou a cena, porque Karol, que há alguns anos chegou a denunciar um caso de assédio em um hotel no Rio, fingiu que não escutou o "não" pronunciado timidamente por Bil e seguiu insistindo que "era só um selinho". O pior é escutar isso vindo da boca de uma feminista declarada. Mas que feminismo é esse que não luta contra toda forma de assédio?

Karol, minha filha? que argumento é esse? Um selinho não conta? Se o beijo for de língua aí sim é assédio? Então passar a mão também não conta? Gatona, não foi você que massacrou o Lucas por forçar a barra em uma outra festa? Hipocrisia a gente vê por aqui né?

O pior é saber que todos que ali estavam, sabiam o que estava em jogo: a masculinidade de Arcrebiano.

Homem que é homem?

Quando começamos a estudar a raiz do machismo, a gente entende que grande parte dos problemas que as mulheres sofrem vêm de uma educação que ensina aos meninos que eles têm que se provar homem - o tempo todo.

O grande medo de todos os homens héteros (desde a infância) é que sempre podem apontar o dedo pra eles e dizer "você não é homem o suficiente". Sim, a masculinidade é sempre relativa e nunca é totalmente conquistada. E a maneira mais fácil de conseguir esse atestado de hombridade é através da virilidade sexual, seja na forma de comentários lascivos, do consumo de pornografia ou do assédio.

Uma pesquisa conduzida pelo portal Papo de Homem com 47.002 respondentes revelou que 48% dos homens disse ter sido ensinados na adolescência que deveriam dar em cima das mulheres sempre que possível.

Existe um tesão compulsório, em que se um homem diz não a uma mulher, ele vai ser mal avaliado pelos demais homens. Tem algo de "estranho" com ele, porque "homem que é homem não nega fogo", ainda mais pra uma mulher linda e estilosa como Karol.

Você percebeu que depois que Karol arrancou o beijo de Bil, nós ouvimos palmas dos outros participantes? Esse é o reconhecimento social que o homem conseguiu renovar seu atestado de masculinidade por mais alguns dias. Afinal de contas, ele "pegou" uma mulher.

Eu já vivi isso inúmeras vezes quando ainda não tinha saído do armário. Quantos carnavais beijei uma menina e escutei ao fundo meus amigos aplaudindo pelo "feito"? Essa é a casa dos homens que Valeska Zanello explicou tão bem em uma entrevista no nosso canal.

O buraco é mais embaixo

Não adianta fazer passeata nem postar textão nas redes sociais. Se queremos lutar contra o assédio e a violência sexual, a gente precisa começar a cortar o mal pela raiz. Precisamos urgentemente (homens e mulheres) parar de reproduzir essa virilidade sexual compulsória pros homens que objetifica corpos e só deixa as relações cada vez piores.

Karol, fica a dica. Não insista, não force a barra. Não é não. Acredite que isso vai ajudar você (e todas as mulheres) a terem mais paz de espírito e segurança nesse mundo que é tão cruel com todas vocês.

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