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Natalia Timerman

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Meu desejo para 2023 é que os últimos 4 anos nunca mais se repitam

Mulher ano novo criança. Legenda Natalia: Meus pedidos incluem a esperança de um país com crianças alfabetizadas, famílias com comida na mesa e mulheres longe do risco de ser alvo de um homem - Getty Images
Mulher ano novo criança. Legenda Natalia: Meus pedidos incluem a esperança de um país com crianças alfabetizadas, famílias com comida na mesa e mulheres longe do risco de ser alvo de um homem Imagem: Getty Images

Colunista de Universa

01/01/2023 04h00

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O ano que se inicia nos permite sonhar. Interrompida a máquina de tortura que oprimiu nosso peito por quatro anos —máquina abastecida cotidianamente pela voz atroz de um homem atroz, apertando nossos ossos um pouco mais a cada notícia de destruição—, podemos, enfim, voltar a respirar; olhar ao redor; começar a nos entender com os escombros.

Para 2023, desejo que os brasileiros voltem a ter o que comer e que jamais tenhamos que lidar novamente com a verdade absurda, abjeta, inadmissível de que quase 60% da população viva hoje com algum tipo de insegurança alimentar.

Desejo que o número alarmante de feminicídios volte a ser considerado e tratado como a tragédia que é. O relatório da equipe de transição entre o desgoverno Bolsonaro e o governo Lula (de onde veio boa parte dos dados desta coluna) mostra que o Brasil bateu um triste recorde em 2022, tendo registrado em apenas seis meses 700 assassinatos de mulheres por serem mulheres. Que 2023 não se despeça de maneira tão violenta de tantas de nós.

Para o ano que se inicia, desejo que o Brasil volte a ser referência mundial no combate à Aids, e não em manejo desastroso de doenças infectocontagiosas, ocupando o segundo lugar no vergonhoso pódio de número de vítimas pelo coronavírus. Que possa cuidar dos 40 mil órfãos que a pandemia deixou.

Que no ano que hoje começa a verba para o combate ao câncer volte a ser destinada a combater o câncer. Que a saúde indígena volte a ser considerada em toda a sua especificidade. Que os órgãos de fiscalização ambiental voltem a existir; que o censo e o senso voltem a existir.

Desejo que em 2023 a alfabetização volte a ser uma prioridade; que o aumento de 50% para 70% de crianças que não conseguem ler ou interpretar textos nos últimos três anos volte a assombrar a todos e a receber as devidas medidas de reversão.

Que no ano que hoje se inicia a cultura volte a ser tratada como essencial que é; que se deixe, para isso, de confundir o que é útil com o que é necessário. Que a redução canalha de 85% do orçamento e 66% do número de servidores seja um passado que jamais ouse retornar.

Que em 2023 "boiada" volte a significar apenas um rebanho bovino e deixe de ser a estratégia do ministério da destruição do meio ambiente para levar a cabo sua meta. Que índices de desmatamento vergonhosos como os 59% de 2019 a 2022 se resumam a uma mancha em nosso passado; que a floresta volte a vingar. Que os crimes ambientais sejam, um a um, investigados e punidos.

Que a partir do ano que se inicia todos os crimes cometidos pelo desgoverno de 2018 a 2022 sejam, um a um, investigados e punidos.

Que em 2023 a imprensa possa nos informar em vez de nos instar a tomar partido; que possa assumir a responsabilidade que lhe cabe pelo rumo escabroso que o Brasil tomou na última década e cuidar para não cometer os mesmos erros mais uma vez.

Que a camiseta amarela da seleção brasileira volte a ser de todos.

Que palavras como vacinação, transparência, planejamento e alegria voltem a fazer parte dos nossos dias em toda a sua plenitude.

Que venha o novo ano.