Topo

Morango

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Mochileira em aventura solo pela América Latina: 'Não me imagino parada'

Colunista de Universa

10/10/2022 04h00

Foi durante uma viagem de férias à Bolívia, em 2019, que a publicitária Jess Pádua ouviu um "chamado" para algo que seria completamente diferente de tudo o que ela já tinha vivido até ali.

Goiana de Minaçu, uma pequena cidade no Centro-Oeste brasileiro, ela se mudou aos 20 para São Paulo e morou durante dez na capital paulista, até se dar conta de que seu lugar não era exatamente um lugar, mas um movimento.

"Em São Paulo é tão normalizado passar um dia todo só trabalhando que eu não percebia que vivia só para isso."

Mochilão e nomadismo digital

"Quando fiz 30 anos, despertei. Tinha um trabalho confortável e acho que nesse momento da vida as pessoas têm filhos. E eu não ia ter filhos. Fiz o meu primeiro mochilão, de um mês na Bolívia, e conheci outras pessoas que faziam. Foi aí que entrei em contato pela primeira vez com pessoas que falavam: 'Ah, você está viajando só um mês? Que triste!', porque elas estavam viajando há no mínimo três meses, um ano... Então eu falei: 'Bom, eu quero viver assim!'", recorda.

A partir dali, Jess começou a juntar dinheiro e planejar a aventura que viveria anos mais tarde, em 2022.

Jess Pádua - Reprodução - Reprodução
"Passei três anos pensando nessa viagem", diz a ex-moradora da cidade grande Jess
Imagem: Reprodução

"Foram três anos pensando nessa viagem. Comprava uma roupa e pensava: 'Mas vai caber na mochila?'. Desde que fui para Bolívia e vi pessoas fazendo mochilão, nunca mais me senti à vontade em São Paulo", relembra.

"Pensava: 'Por que estou parada aqui se posso estar vivendo em outros lugares?' Sempre tem o mochilão de um mês pela Europa mas, às vezes, o que você vai gastar em um mês na Europa, viajando de avião, viaja seis meses na América do Sul. Argentina, Bolívia... São países em que a nossa moeda é muito valorizada, então isso me abriu as portas."

Saindo da bolha

Depois de todo o planejamento, a ação. A ideia era viajar pela América Latina fazendo todo o percurso de ônibus e se hospedando em hostels pelo caminho. Em oito meses, Jess cruzou a Argentina, Uruguai, Chile, Peru e, atualmente, está no Equador.

"Têm sido uma mistura de aventuras e coisas lindas, mas com muita vida normal. Tenho aprendido a descansar e a aceitar que grande parte da viagem é viver o cotidiano porque, senão, é muita informação para a cabeça. Também tenho aprendido a aceitar mais as diferenças, e é muito boa essa sensação de sair da bolha. Acho que essa é uma das minhas coisas preferidas: estar com pessoas que vivem e pensam completamente diferente de mim. E amar essas pessoas."

Nas redes, ela é @complexica

Para documentar os altos e baixos da viagem a sós, Jess começou a produzir conteúdo para as redes. Deu muito certo. Criativa e despachada, ela, que no Instagram e no TikTok é @complexica, já conquistou mais de 270 mil seguidores.

"Trabalhava como redatora para várias agências no Brasil. Agora, meu compromisso diário é com meu público e, de vez em quando, empresas e marcas, mas muito pontual. Não fico subindo uma montanha pensando em como resolver a campanha para marca tal como antes. Agora que vejo um tanto de coisa para aproveitar, não quero mais trabalhar tanto, sabe? As horas que eu trabalho, trabalho mesmo, porque sei que tem o mundo lá fora."

E nesse mundo lá fora, há muitas paixões, confessa Jess.

"Me apaixonei algumas vezes nessa viagem. Acho que existe uma intensidade porque você convive 24 horas com uma pessoa e vai ter fim. E a última vez que tive isso foi quando estava na escola e me apaixonava por um garoto", relembra, com uma risada.

Nos próximo meses, ela segue o mochilão pela Colômbia, depois volta para uma pausa breve no Brasil, onde prepara o lançamento de seu livro com poesias, e já pretende partir de novo.

"A grande verdade, que inclusive escuto de muitos viageiros também, é que a gente não imagina mais como vai ser a vida se voltar a viver sem viajar. Claro que isso pode mudar com os anos, posso me cansar, mas a realidade é que eu não me imagino parada em nenhuma cidade", conta Jess, que em 2023 seguirá a aventura pela América do Sul