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Mayumi Sato

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Atriz e fã de Erika Lust, Malu é narradora de podcast de contos eróticos

Malu Figueira - Divulgação
Malu Figueira Imagem: Divulgação

Colunista de Universa

21/03/2021 04h00

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Há mais ou menos 1 ano e meio comecei a produzir um podcast de contos eróticos e descobri que, de todas as etapas do processo - escrever, editar, roteirizar, gravar, etc - a mais complexa é, com toda certeza, encontrar a narradora certa.

Nos primeiros meses trabalhei com diferentes vozes, todas ótimas diga-se de passagem, mas que por não terem na narração sua profissão, faziam como um freela esporádico. E isso dificultava a criação de uma identidade mais definida para a nossa personagem. Ou personagens, já que alguns contos são protagonizados por mulheres (a maioria) e outros por homens (mas ainda assim, a voz, é feminina). A minha sorte foi encontrar a Malu. Ou ser encontrada por ela, já que foi uma mensagem dela no Instagram que deu início à nossa parceria.

Artista, atriz, cantora e locutora, ela é discreta e escolhe a dedo a quem revelar a sua "identidade real". Malu Figueira é a persona escolhida por ela para criar áudios eróticos com maior protagonismo feminino. Trabalhando com isso, de forma mais profissional e pública, há pouco mais de 6 meses, ela participa do meu podcast e de outros do segmento erótico por aí. Ela me contou um pouco mais sobre a profissão:

Como você se tornou narradora de contos eróticos?

Como artista, há muito tempo me interessava pela temática da sexualidade e do erotismo. Como mulher, há muito tempo me incomodava o conteúdo produzido pela indústria pornográfica "tradicional". Assisti a alguns documentários sobre isso e também sobre a construção da ideia de masculinidade ("Hot Girls Wanted", "After Porn Ends", "The Mask You Live In" e "O Silêncio dos Homens") que mexeram muito comigo e me fizeram querer fazer algo mais efetivo a respeito.

Cheguei a pensar em vídeos com outra pegada, conheci o trabalho da Erika Lust, enfim... mas depois pensei em áudios e me pareceu muito mais interessante as possibilidades subjetivas e muito mais ricas que o áudio pode proporcionar.

No início da pandemia, eu estava começando a estruturar a ideia quando um amigo me mandou um post sobre um concurso de vozes de uma plataforma nova de áudios eróticos. Mandei meu material e numa votação super apertada acabei ficando com o 2° lugar. Foi o empurrãozinho que faltava pra eu criar meu próprio perfil profissional no Instagram e começar a divulgar meu trabalho.

Não revelar a sua identidade tem a ver com mistério, privacidade ou tem algum receio de se expor por conta do preconceito?

Tem a ver com tudo isso junto, e somado ao motivo principal... dar espaço à subjetividade do desejo de cada pessoa que escuta meus áudios, sem trazer nenhuma referência de imagem.

No caso do pornô tradicional, por exemplo, a imagem ali veiculada é responsável por criar e reforçar padrões quase sempre inatingíveis e irreais, que acabam gerando também uma enorme saturação e objetificação da imagem da mulher. E é justamente na contramão disso que busco me posicionar... brinco que ocultar minha real identidade, e consequentemente minha imagem, já virou quase "Visão Missão Valores" de Malu Figueira, rs

Tudo o que tem a ver com pornografia mais tradicional costuma atrair mais homens que mulheres, mas curiosamente os contos eróticos têm uma audiência bem equilibrada entre estes gêneros. Qual a sua leitura sobre essa diferença?

As mulheres de um modo geral não se sentem contempladas pelo pornô tradicional (e acho que de uns tempos pra cá, boa parte dos homens também já não se sentem.). Dizem que homens são mais visuais que as mulheres, mas eu realmente acho que isso é muito mais construído do que algo "inato". Fato é que, nos contos e áudios eróticos, há muito mais espaço pra subjetividade, pra fantasia, pra imaginar aquela situação com os contornos, imagens e texturas que eu quiser. E essa capacidade todas as pessoas podem ter, igualmente.

Se a gente pensar nos áudios eróticos como uma espécie de síntese entre a literatura erótica e o pornô visual, penso que há um potencial enorme, tanto para as mulheres se permitirem mais a esse tipo de estímulo, quanto para os homens expandirem seus horizontes para além do pornô "meteção".

Que tipo de conto mais te agrada para narrar?

Gosto de deixar fluir, improvisando a partir de alguma memória ou desejo, com bastante tesão e bastante gemido. Tenho gostado também de usar recursos de ASMR, com sussurros bem baixinhos e trazendo sons que lembram muito os sons reais do sexo, é uma delícia!

Alguma ideia de conto ou forma de narrar uma história que ainda tem vontade de narrar?

O sexo é um campo infinito de possibilidades né? Quando acho que estou ficando sem ideia, surge algo novo, ou alguém sugere algo, ou eu aprendo sobre um novo tipo de fantasia que eu ainda não conhecia...

Tô pra fazer em breve um áudio sobre uma transa que começou no calor de um forró bem dançado... Deve ser porque estou em abstinência de dançar forró, uma das coisas que eu amo fazer e a pandemia está me impedindo. Além deste também tenho vontade de gravar um áudio junto com outra pessoa... ainda não rolou porque encontrar uma boa "química de vozes" também não é tarefa fácil...

Para quem gosta de contos eróticos: onde a gente pode te ouvir e pode indicar também outras fontes que você usa como inspiração?

Opa, com certeza! Em todas as minhas redes (@gozeimalu) tem áudios meus disponíveis, alguns mais curtinhos, e também algumas amostras dos mais longos que eu disponibilizo mediante pagamento.

Outra possibilidade é a pessoa encomendar um áudio personalizado, com o que ela bem desejar ouvir #navozdamalu

Além disso, tenho feito áudios regularmente pro Podcast do Sexlog, também sou uma das narradoras de um outro app de contos, o Tela Preta, e logo estão vindo novas parcerias por aí.

Minhas fontes de inspiração são sobretudo minhas próprias experiências, memórias, fantasias e desejos... mas indico muito algumas leituras preciosas também como Hilda Hilst, Dalton Trevisan, João Ubaldo Ribeiro (especialmente "A Casa dos Budas Ditosos"), e também alguns perfis no Instagram que têm textos eróticos (entre outros conteúdos ligados à sexualidade) como Páginas Pretas, Eróticos ou Quase, Escrita Rubra, Lasciva Lua, Gabi Benvenutti e etc.

Mayumi Sato