Maria Ribeiro

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Opinião

'BBB' além de alienação e diversão: vamos falar mais sobre saúde mental?

Pronto, cá estou eu, de novo, às voltas com mais um "BBB". Entre meus amigos, como de costume, duas torcidas apaixonadas. De um lado, os que esperam ansiosamente pela estreia do programa. E se deixam ocupar por personagens até então desconhecidos — ou conhecidos por algum recorte.

De outro, os que, por princípio, torcem o nariz para "tamanha selvageria", pra usar termos que ouço com frequência, como se o reality fosse o único entretenimento do mundo a se alimentar do nosso lado B. E como se a vida, ela mesma, não fosse parte de um pacote muitas vezes bárbaro.

No primeiro momento, tenho a impressão de que os dois times param na mesma página. Porque ambos, fanatismo e aversão, se tornam incapazes de perceber que por trás de um produto de imenso alcance como esse, pode haver, sim, um raio X do país.

Não que isso justifique sua audiência. Quem vê "BBB", normalmente busca alienação e diversão, e não antropologia. O que não impede que algumas pautas surgidas no programa — como as falas do rapaz com nome no diminutivo sobre o corpo da modelo Yasmin Brunet — não possam e devam vazar pras "pessoas na sala de jantar", como diziam Os Mutantes.

Na semana passada, uma das participantes do reality da Globo apertou o botão de desistência da competição. Antes disso, suas falas desconexas e paranoicas — e também preconceituosas, mas não é disso que vou falar aqui — já estavam chamando a atenção das redes sociais, preocupando quem acompanha os personagens.

Não estou vendo o "BBB" — ainda me recupero da abstinência de "Vale o Escrito", série do Globoplay sobre a historia do jogo do bicho no Rio de Janeiro —, mas não posso perder a oportunidade de escrever sobre saúde mental. O tema me é caro: já convivi, muito de perto, com depressão, esquizofrenia e bipolaridade, doenças que, ainda hoje, estão rodeadas de silêncios e tabus. E que precisam de oportunidades como essa pra ganhar visibilidade.

Eu mesma, da adolescência até o começo da minha vida adulta, sofri com crises de ansiedade que me marcaram pra sempre. Além do pânico, convivi, até ter coragem de encarar o divã, com o isolamento, a vergonha e a culpa. Como se alguém, diante de uma crise de enxaqueca, sentisse, além da dor, uma sensação de inadequação por estar sentindo dor.

Não foi a primeira vez que um participante do "BBB" apresentou sintomas de distúrbios psíquicos. E como o reality vem acompanhando agendas fundamentais como a urgência da representatividade e o repúdio ao assédio sexual, não seria nada mau se aproveitasse sua popularidade para contribuir de forma didática e responsável com um debate cada vez mais urgente.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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