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Fabi Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Estamos em um momento de luta; mas essa luta precisa passar pelo amor

Ilija Erceg/Getty Images/iStockphoto
Imagem: Ilija Erceg/Getty Images/iStockphoto

Colunista de Universa

04/10/2022 04h00

Com raras e conhecidas exceções, acho difícil alguém ser favorável à tortura, nutrir ódio por mulheres, pessoas pretas, povos originários em geral, pessoas com identidade de gênero diferente da ideia homem e mulher (cis), orientação sexual divergente da heteronormativa ou qualquer pessoa com ideias, modos e aparência diferentes das suas.

Pensando aqui... ao meu redor, não me ocorre ninguém com essas características. Você tem por aí? Pessoas que falem abertamente sobre como odeiam outras pessoas e sobre como teriam prazer em eliminá-las?

Pensando um pouco mais, percebo e identifico pessoas com valores e ideias mais conservadoras.

Conservadores. O que querem os conservadores? Uai, querem conservar. Manter uma ideia ou estrutura já conhecida, que não ofereça surpresas. Mudar dá medo, né?

Perceber "coisas novas" ou diferentes pode chocar, incomodar. "Nossa, vou ter que pensar nisso - na diferença".

Esse nosso entorno conservador (sim, todos temos em maior ou menor grau), a gente conversa com ele? Verdadeiramente conversa e escuta, sem julgar e rapidamente localizá-los como menores, burros, como gado?

Todo mundo curte (e precisa) ser escutado, notado. A gente só se valida, se constitui como sujeito, quando o outro entra em ação.

Atenção honesta e respeitosa é poderosa e constrói diálogos, pode identificar o contraditório e fazer os envolvidos pensarem, repensarem, elaborarem questões.

Nenhuma ideologia, nenhuma pauta deveria seguir partindo do pressuposto de calar o outro, de invisibilizar.

Quando a pequena criança tá "entrando para a sociedade", aprendendo sobre si e sobre o outro, ela aprende a esperar a sua vez de falar na roda. Aprende a esperar e escutar com respeito o que o amiguinho diz.

Tá na hora de todos fazermos o exercício da escuta e da atenção, pra tentar voltar a estabelecer vínculos e diálogos urgentes ao futuro da nossa sociedade e manutenção da democracia.

A escritora francesa Simone Weil, escreveu: "A atenção é a forma mais rara e pura de generosidade".

Estamos num momento decisivo de luta. Mas (sem polianice) acho que essa luta precisa passar pelo amor. E digo isso tendo sido atravessada por todo ódio que os últimos anos proporcionaram por aqui. No último domingo (2), recebemos um recadão barulhento. Não posso e não quero acreditar que todas essas pessoas sejam virulentas e odiosas. Talvez, a gente só precise conversar. Falando nisso, vem conversar comigo no @fabi.gomes