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Fabi Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Com quantas rugas se faz uma existência?

Cabelo branco e rugas chamam a atenção na beleza de Roxanne Gould - Sebastian Kim/Divulgação
Cabelo branco e rugas chamam a atenção na beleza de Roxanne Gould Imagem: Sebastian Kim/Divulgação

Colunista de Universa

12/04/2021 04h00

Se você já tem mais de 25 anos, provavelmente catou que, dia a dia, o "desenho" do teu rosto e do seu corpo passa por mudanças. Mas por que isso acontece depois dos 25? É nessa idade que a produção de colágeno do nosso corpo começa, gradualmente, a ficar mais lenta.

E quem é esse tal de colágeno, afinal?

O lindo é uma proteína, e um dos responsáveis por manter a elasticidade e saúde da pele. É ele que garante a pele firme, cheinha. Sabe aquela pele "infladinha" e firme? Então, é obra do colágeno. Acontece que, por volta dos 25, ele começa a pensar na aposentadoria. Pois é, definitivamente, parece que o colágeno não é coisa de brasileiro. Por mim, seria obrigatório incluir o colágeno na Reforma da Previdência.

E por que cada qual envelhece e enruga de um jeito diferente?

Bem, isso tem a ver com alguns fatores — hereditariedade, hábitos individuais, tratamentos que você faz ou deixa de fazer e o quanto você "fala" com seu rosto. Como assim?

Pessoas que se comunicam com mais dramatização das expressões faciais, supostamente, enfatizam esses caminhos da pele, os tais sulcos, as linhas que vão se desenhando sobre o tecido cutâneo. Basicamente, é como se a gente estivesse drapeando a pele com a repetição de expressões.

Só isso? Então, fico quietinha, paralisada e tudo certo? Dou uma parada nesse processo? Hmmm... na verdade, não. Tem mais caroço nesse angu.

Exposição excessiva ao sol sem proteção, por exemplo, é algo altamente desencorajado pelos dermatologistas. Hábitos como fumar ou beber muito álcool também contribuem para acelerar o envelhecimento da pele. Se jogar demais em dietas não necessariamente saudáveis causa o mesmo efeito. Sem contar poluição, estresse, sedentarismo...

Para a gente continuar hoje só no campo das rugas do rosto, e não passear por outras consequências da perda de colágeno, é bom saber: esse é um vasto campo a ser explorado, já que estamos falando de mais de 20 músculos faciais movimentando a pele.

Bem, e as rugas parecem curtir fazer sempre os mesmos caminhos, né? Elas também não devem ser do Brasil, porque aqui a gente é ensinado a fazer caminhos alternativos para evitar assaltos e tals.

De volta ao mapeamento dos caminhos preferidos das rugas:

Temos os pés de galinha, aquele conglomerado de linhas finas que se formam ao redor dos olhos. A pele dos olhos é a mais fina do nosso corpo. Pensa numa seda pura, finíssima, daquelas que se ofendem até com olhares. Assim é a pele dos nossos olhos. Um convite a desenvolver marcas.

Temos também as linhas da testa. Ali tem uma porção, viu? Tem as que se espalham horizontalmente, paralelas às sobrancelhas, e vão se desenhando com o passar do tempo e conforme a gente vai se emocionando. Além dessas horizontais, temos as tais linhas glabelares, que são aquele número onze que aparece verticalmente entre as sobrancelhas e pode se transformar numa sucessão de onzes.

Aí vem o temido sulco nasolabial, conhecido pela alcunha de bigode chinês. São aquelas linhas que se aprofundam das laterais da base do nariz, caminhando até as comissuras labiais, vulgo canto dos lábios, quase como se quisesse abraçar nossa boca.

E por falar em lábios, temos as rugas periorais — linhas ao redor da boca, remetendo ao desenho de um código de barras. Na região, tem ainda as linhas de marionete, aquelas que nascem no canto dos lábios, caminhando para baixo (sempre para baixo... alô gravidade!), em direção ao queixo.

Significa, então, que, para "resolver essas questões", a gente para de se expressar? Faz a egípcia sempre? Tem gente que até para de sorrir para evitar a produção de rugas.

As linhas do rosto já são associadas a expressões específicas, relacionadas com estados de espírito como felicidade, tristeza e preocupação. Além dos fatores relacionados à redução da produção do colágeno, muitos outros podem agravar o aparecimento e a velocidade com a qual as rugas se formam. Para além das condições internas de cada organismo, rolam as condições externas.

Já falei de vários grupos e nomenclaturas. E a gente poderia fazer aqui um tratado sobre como se chamam, por que e como se formam e quais os melhores tratamentos do mercado para uma relação mais harmoniosa com essas linhas. Lasers, retinóides, ácidos, colágenos, antioxidantes, infusão de ativos, protetores solares e as siglas que os acompanham - UVA, UVB, PA+++, PPD, fotoproteção oral etc.

Mas é esse mesmo o caso? Precisamos de um tratado sobre as rugas e como eliminá-las de vez? Porque, na minha visão, podemos escolher apenas aceitar um pouco mais e conviver melhor com as lindas.

Pessoalmente, minha relação com o assunto é um processo diário. Olho no espelho e identifico os novos caminhos e acomodações da pele. Entendo o quanto aquilo ali tá me incomodando e sigo nessa análise diária.

É legal observar a pele por um tempo. Tem dias que acordamos mais inchadas. A maneira como dormimos e sobre o que dormimos também interfere no que se revela no espelho pela manhã, assim como tantos outros rolês.

Se aquilo ali que tô vendo me incomoda por meses a fio, aí sim começo a pensar sobre o que há no mercado para me ajudar com esse sentimento. Tento manter uma rotina de cuidados para a pele, seguindo sempre as recomendações da minha dermatologista. Vivo uma vida com uma certa consciência em relação ao que ponho para dentro do meu corpo e tento evitar tudo que pode ser danoso, não só para pele, mas para a minha saúde.

Porém, não deixo de viver. Curto tomar meus drinks de vez em quando, comer meu chocolatinho e me entregar ao sol como um gato preguiçoso nos horários nos quais o astro rei está carinhoso. Deixar de usar meu rosto para me expressar ou deixar de gargalhar, definitivamente, não estão entre minhas opções de cuidados com a pele.

Tenho a maior admiração por algumas mulheres estupendas e lindas que vivem muito bem sem tantas intervenções, como Fernanda Montenegro, Charlotte Rampling e tantas outras. Mas respeito muito a minha relação com essas questões e tento seguir honesta aos meus desejos e às minhas vontades.

Se me incomodar demais, vou mexer e quero estar bem com isso. Não pretendo me descaracterizar, mas quero ficar de boa na lagoa com minha própria cara e existência. E você, topa o desafio de fazer o mesmo por aí?